Nem o aguaceiro que atingiu Porto Alegre no último final de semana foi capaz de desanimar a galera para colar na primeira edição do Festival Avante. O público estava ansioso pela novidade. Um festival independente de música brasileira, no sul do país, com um line-up ousado misturando diferentes gerações de artistas locais e de outras partes do Brasil, tocando gêneros como MPB, rap, techno, funk, rock, jazz e pagodão. Será que deu bom? Siga lendo o texto, vamos contar como tudo rolou.
O evento contou com dois espaços, nos quais rolavam shows simultâneos (ou que coincidiam parcialmente): o Palco Avante, em área externa, e o Avante Club, em ambiente fechado. Originalmente, o festival aconteceria na Marina Navegantes São João, mas o local foi alterado para o FV 4º Distrito. Em parceria, o NOIZE Record Club realizou uma promoção exclusiva para assinantes, com sorteio de ingressos.
Quando a dupla indie Supervão (baseada em Porto Alegre, mas original de São Leopoldo) subiu no Palco Avante, logo após o início do festival, lançando seu single “Nostalgia”, a chuva estava forte e o público chegando. Na vez da banda paulistana Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo tocar, o toró ainda estava caindo. Mesmo assim, com capas e guarda-chuvas, ou até mesmo debaixo d’água, os fãs corajosos aproveitaram o show bem coladinhos na grade. Já quem não estava querendo se encharcar, assistiu mais de longe, debaixo das áreas cobertas onde ficavam os bares.
Antes de continuar, vale fazer um comentário: ninguém controla o humor de São Pedro e os episódios extremos de calor ou chuva tem se tornado cada vez mais recorrentes no Brasil e no mundo. Entretanto, como a própria organização do Avante comentou nas redes sociais, ao informar sobre a acertadíssima mudança de local (que se deu, justamente, pela possibilidade de chuva), essa é uma realidade com a qual produtores de eventos terão que lidar cada vez mais daqui pra frente. No domingo, havia um toldo cobrindo praticamente toda a pista em frente ao palco. No sábado, faltou.
De qualquer forma, assim que a chuva deu uma trégua, a galera começou a colar – afinal, quem não quer ver um line-up desses? Quando Karina Buhr apresentou seu show com Régis Damasceno, com voz, guitarra e tambores, o pessoal já estava animado. Karina entrou na programação do Avante substituindo Letrux, que precisou cancelar sua apresentação por conta de uma cirurgia.
O som ainda estava rolando na rua quando, no Avante Club, começou o show da histórica Deize Tigrona cantando seus funks já clássicos e outros hits, com muita putaria e papo reto, acompanhada do DJ Chernobyl. No ano passado, Deize lançou o álbum Foi Eu Que Fiz, em colaboração com diversos produtores. Nessas alturas do campeonato, o público já tinha lotado o espaço e estava enlouquecido cantando “Sadomasoquista 1”. Representando outra geração do funk, o DJ RaMeMes também se apresentou no sábado, entusiasmando os porto-alegrenses.
Tanto no primeiro quanto no segundo dia de evento, o Avante Club foi ocupado por DJs e coletivos locais, representando a diversidade da cena noturna da cidade. Cocoa Mami e Hustla representaram o coletivo Bronx, Posada e Marigdas, o Arruaça. Lucas Kaíque e Caetany, acompanhados pela performance de Laputaines, representaram as festas Coice e Diesel, enquanto PV5000 e Felix, com performance de Baby Cruel, representaram a TTTTT. Houveram ainda diversos outros integrantes da cena contando com o espaço do Avante.
O show mais aguardado de sábado foi o do incrível Tom Zé. A galera lotou a frente do Palco Avante para cantar junto praticamente todas as clássicas músicas do repertório do tropicalista de Irará. “Tô”, “Hein”, “Jimmy Renda-se”, “Augusta, Angélica e Consolação” são apenas alguns exemplos. Para encerrar a noite, também vindo da Bahia, o grupo ÀttooxxÁ trouxe seu pagodão groovado, botando os gaúchos para pular e dançar. Nem a chuva, que voltou com tudo no meio da apresentação, foi capaz de estragar a festa.
No domingo, com um grande toldo instalado cobrindo praticamente toda a área externa do festival, ficou mais fácil de curtir o Avante. A banda porto-alegrense Inquilinas, formada por Thaís Prado, Viridiana, Paola Kirst e Mel Souza, interpretou canções dos Secos e Molhados, em homenagem aos 50 anos do grupo. O projeto Ialodê levou ao palco Loma, Marietti Fialho, Glau Barros e Nina Fola.
O grupo Da Guedes subiu no Palco Avante representando os primórdios do rap gaúcho. O grupo, atuante desde os anos 1990, contou com a participação do público cantando suas músicas, como o clássico boom-bap “Bem Nessa”. O show também contou com a participação de Cristal, rapper porto-alegrense que vem se destacando na cena nacional. A galera vibrou ao ver a apresentação da representante da cidade. Representando o “funk consciente” no segundo dia de evento, MC Luanna deu orelhada atrás de orelhada cantando suas rimas empoderadas.
Depois, foi a vez da banda instrumental Trabalhos Espaciais Manuais animar a galera com sua mistura de funk, samba e jazz. O show contou com a participação mais que especial do imorrível Di Melo, cantando hinos como “Kilariô”, acompanhado pelo público eufórico ao ver a lenda do groove.
Enquanto isso, o Brasil Grime Show, com o DJ diniBoy no comando da mesa, deixou o público aos berros no Avante Club, acompanhado vidrado nas rimas de VND e SD9 e dos convidados locais, Mikaa e Felipe Deds. E para a alegria dos clubbers, que lotaram a pista, a icônica BADSISTA encerrou a fritação de domingo passeando com elegância pelo mandelão, house, techno e outros ritmos.
Mas o melhor que rolou no festival foi o de FBC. A galera estava em polvorosa para ver o rapper mineiro, que subiu ao palco cheio de energia para performar. O artista viu o público cantar junto praticamente todas as músicas do repertório, a maioria de seu álbum lançado há poucos meses, O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA. Encerrando o Festival Avante, o grupo carioca Technobrass contou com um front animado com sua mistura de música eletrônica com samba e ritmos brasileiros.
O Festival Avante chegou em Porto Alegre para ficar. A cidade precisava de uma iniciativa cultural que reunisse a diversidade da música brasileira de alta qualidade com nomes de destaque do cenário local. Apesar de ter trazido alguns shows que haviam rolado recentemente na cidade, o line-up também conseguiu trazer várias novidades para o público conferir ao vivo. Tinha tanta coisa boa rolando, às vezes simultaneamente, que ficava difícil decidir qual show assistir. Nós gostamos muito e já estamos esperando pela próxima edição, que promete ser ainda melhor.