Ian Ramil
No final de novembro, Porto Alegre sediou a quarta edição do festival El Mapa de Todos. Com o intuito de integrar a cena independente da América Latina, o evento levou para o palco do Opinião, pelo terceiro ano consecutivo, um apanhado do que surgiu de melhor nos últimos anos no Brasil e nos seus países vizinhos. Em três dias de música, a programação do El Mapa contou com headliners do quilate de Comunidade Nin-Jitsu, La Vela Puerca e Ultramen.
Com o patrocínio da Petrobras e uma programação paralela, que teve uma mostra de filmes, uma exposição de discos independentes e palestras sobre o intercâmbio de bandas, o El Mapa de Todos iniciou na terça-feira, dia 26, com uma sequência de shows que impressionou o público que compareceu no Opinião em escala razoável. O gaúcho Ian Ramil foi o encarregado de abrir os trabalhos, que continuou com o duo Las Acevedo, da República Dominicana. Pela primeira vez no Brasil, as irmãs Anabel e Cristabel fizeram um show delicado e muito bonito, apenas com violão e bongô. O folk indie da dupla foi uma das revelações da primeira noite.
Conhecido por todo o público, o Acústicos & Valvulados animou a plateia com um rock animado e repleto de sucessos radiofônicos. Na sequência, a grande surpresa de todo o El Mapa 2013. O uruguaio Max Capote, com um estilo bonachão e uma postura de palco de fazer inveja a qualquer rockstar, roubou a cena com uma performance muito vibrante. Com um copo de whisky na mão e com músicas mais pesadas do que os boleros gravados em “Chicle” (2010), Capote foi para o meio da plateia, subiu em cima de uma mesa e cantou como se fosse o último dia de sua vida. A primeira noite do festival foi encerrada pelos gaúchos do Comunidade Nin-Jitsu, que estavam mais afiados do que nuncao. O show, com todos as grandes composições da banda, contou com a participaçãoo de Erick Endress na guitarra e de Edu K (DeFalla) no microfone durante o cover de “Melô Popozuda”. O público do primeiro dia de festival estava lá para vê-los.
O segundo dia de El Mapa de Todos era o mais aguardado pelo público. Com mais do dobro de ingressos vendidos se comparado com a primeira noite, a plateia ainda chegava ao Opinião quando o Esperando Rei Zula subiu ao palco, às 21h. Formado em Brasília por integrantes do Móveis Colonais de Acaju e do Prot(o), o grupo de música instrumental reinterpretou clássicos de Villa-Lobos (e até do Beatles) em formato ska. Ainda na vibe instrumental, os curitibanos do ruído/mm levaram para o festival um repertório de psicodelismos, experimentações e post-rock.
Do interior do Rio Grande Sul, o Frida proporcionou um grande show para os presentes, com as suas influências do anos 70 e de bandas mais modernas, como o Radiohead. E coube aos argentinos do Valle de Muñecas aquecer os presentes com o seu britpop castelhano antes da atração mais aguardada dos três dias El Mapa. Os uruguaios do La Vela Puerca honraram o status de grande banda e fizeram – de fato – o melhor show de todo o festival. Receosos com o primeiro espetáculo realizado em Porto Alegre na década de 90, para pouco menos de uma dúzia de pessoas, a banda não sabia muito bem o que esperar da sua participação no festival. Com o público cantando boa parte do seu repertório, o grupo se envolveu com a recepção calorosa e respondeu à altura. Foi demais.
O terceiro e último dia de festival teve o seu pontapé inicial dado por mais uma banda local. O Curinga fez um bom show para poucas presentes. Na sequência, o duo Finlândia levou para cima do palco uma fusão de ritmos sul-americanos executados apenas com uma gaita eu um violoncelo. O argentino Mauricio Candussi e o brasileiro Raphael Evangelista só não fizeram o show mais exótico do El Mapa de Todos porque os colombianos do Esteban Copete y Su Kinteto Pacífico entraram em cena com aa percussão e todo o calor da música caribenha. O convite foi para que o público dançasse na pista. E quase todo mundo realmente dançou.
Com influências do punk e do rockabilly, os venezuelanos do Los Mentas aterrissaram pela segunda no El Mapa de Todos logo em seguida. Em turnê para comemorar o seus quinze anos de estrada, a banda empolgou o público que já começava a tomar os espaços do Opinião para assistir ao último show do festival. E assim o Ultramen encerrou o El Mapa com uma apresentação especial e que durou longas duas horas. Com muita química e envolvimento com a plateia, o grupo gaúcho deixou claro o porquê da sua escolha para o encerramento do El Mapa.
Missão cumprida.
(Fotos: Pedro Tesch)