Josyara, Cuqui, Bia Ferreira e Maria Beraldo conversam sobre lesbianidade e música

28/08/2020

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Por: Brenda Vidal

Fotos: Afroafeto/Reprodução.

28/08/2020

Falar sobre identidades, sobre o que se é no mundo quando o mundo pode devolver opressão, é um ato sensível e necessário. Entre as várias comunidades social, cultural e historicamente oprimidas, as lésbicas também possuem sua caminhada marcada pela luta pelo direito de existir, amar e desejar do jeito que elas queiram, de se vestir e se expressar da forma que queiram, de poderem ser quem são de forma inteira e visível. Aqui no país, o mês de agosto destaca-se como um momento de cunho político para a causa: o mês da Visibilidade Lésbica, que atinge seu apogeu no próximo sábado, dia 29, Dia da Visibilidade Lésbica no Brasil.

No cenário musical, a comunidade LGBTQIA+ tem ampliado sua projeção e convocado a sociedade reconhecer a elasticidade e a pluralidade de sujeitos, identidades de gênero, orientações sexuais e possibilidades. Num panorama geral, nosso país e nossa cultura viveram sob a rédia da Ditadura Militar de 1964 a 1985, que instituiu a censura nas produções musicais, indo à caça de tudo que era tido como subversivo. Esse regime de controle dá as mãos aos históricos padrões heteronormativos, cisgêneros e misóginos que não podem ser deixados de fora quando avaliamos o contexto da produção musical brasileira e as figuras/canções que foram apagadas, invisibilizadas ou retiradas.

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Para celebrar o mês da Visibilidade Lésbica, convocamos um time formado por quatro artistas da música contemporânea que já tiveram seus trabalhos noticiados aqui no site ou na revista NOIZE para uma conversa especial. Por que chamar mulheres que já apareceram? Uma decisão editorial com o intuito de não chamar artistas lésbicas apenas para falarem sobre serem lésbicas. Ela são lésbicas, mas não só isso. E também ser isso é um universo de possibilidades. É necessário cuidado para que não se cristalizem artista apenas nesta temática, muito menos que elas só sejam lembradas no agosto. Elas produzem, vivem e permanecem lésbicas o ano todo e devem ser lembradas sempre que for pertinente.

Aqui, Josyara, Cuqui (integrante da Musa Híbrida), Bia Ferreira e Maria Beraldo compartilham suas perspectivas sobre lesbianidade, música e imaginário social. De quebra, cada uma delas indicou algumas canções que embalaram seus romances para a incrível playlist LESBILOVE, afinal, é sobre visibilizar os afetos dessas mulheres também, né? Mais abaixo você confere a playlist e pode soltar o player para embalar a leitura do papo. Ao final também listamos as indicações por artista.

Desejamos que as lésbicas sejam cada vez mais visíveis, vistas, ouvidas, amadas, respeitadas, livres e entendidas em sua diversidade – não há apenas um jeito de performar lesbianidade. Um trecho da fala de Bia Ferreira amarra bem o porquê do amor ser o foco aqui: “Sempre que uma mulher lésbica se posiciona para falar sobre amor, isso é um ato revolucionário”. Desça, ouça, leia, visibilize:

Vocês enxergam a música como plataforma de autoafirmação e construção de identidades?
Josyara:
Na música, digo o que penso, sinto e vejo. Naturalmente, se enquadra nesse espaço se firmar e se desconstruir.

Cuqui: Com certeza. Mesmo quando o assunto da letra em si não é autobiográfico, todo o processo criativo passa um pouco pela identidade e se faz autoafirmação. Para todo o grupo social oprimido, isso se torna ainda mais relevante porque o público é sedento de representatividade. Para mim, sempre foi autobiográfico, então, se torna ainda mais fácil de traçar essa linha: as primeiras canções que escrevi foram pra meninas que eram minhas amigas e eu as amava incondicionalmente sem entender muito a questão. Aquelas duas ou três canções escritas nessa época foram zoadas e relembradas pelo grupo do colégio para me humilhar. Isso fala bastante. Uma das primeiras canções que escrevi anos depois disso, a respectiva crush não quis ouvir. As primeiras aparições públicas da minha música na vida foram essas lesbianidades excluídas & vistas como vergonhosas. Não que fossem músicas muito boas nem nada (risos), mas eu continuei.

Bia Ferreira: Bom, eu enxergo a música como uma plataforma de autoafirmação, sim, porque entendo que quando você possibilita que alguém fale sobre si, é quando você cria uma plataforma de autoafirmação e de construção de identidade que possibilita que aquela pessoa seja narradora da sua própria história. Eu uso a minha música – e ela me libertou em vários lugares e em vários sentidos – como um lugar para me afirmar enquanto sapatão, enquanto uma mulher preta, e pensando nesse recorte, não é comum você ver pessoas parecidas comigo no meio musical mercadológico. Então, querer romper com essas barreiras também faz parte de um ideal de vida a partir do trabalho que eu faço com música.

Maria Beraldo: Sim, com certeza. Existe até aquela questão se é “a vida que imita arte” ou e é “a arte que imita a vida”, né? É uma via de mão dupla. As coisas que aparecem na arte e música são construções sociais, ao mesmo tempo que o que aparece na arte e na música também constrói a sociedade. É tudo ao mesmo tempo, a cultura é construída por e também constrói espaços, imagens, histórias reproduzidas e criadas, e tudo isso também se torna verdade em nosso imaginário social. É construção e reflexo.

Como as obras de vocês se articulam com suas lesbianidades?
Josyara: Acho que pra mim tudo anda junto, influenciando os jeitos de dizer certas coisas.

Cuqui: Quando eu canto “Como É Bom Ser Lésbica” [do disco piscinas vazias iluminadas em pé (2018), de Musa Híbrida] é uma tentativa de que, apesar do mundo, nós sejamos suficientes e fortes, e até felizes. Também têm várias canções de amor com final feliz ali pelo piscinas vazias iluminadas em pé que fiz perdidamente in love pela minha namorada Inácio Rafaela. Agora, o meu EP solo, Tristinha (2020), foi muito marcado pelo distanciamento social e percebo que falei outras coisas sobre mim ali. Há uma nuvem de confusão em ficar trancada em casa, em perder a referência do outro. Um pouco sobre ser lésbica nesse momento doido está aparecendo na construção do meu novo álbum, que pretendo lançar em 2021. 

Bia Ferreira: Acho que a minha lesbianidade se articula nessa minha identidade de trabalho a partir do momento que eu me construo e construo um projeto pautado na autoafirmação e no orgulho de ser quem eu sou. Todas as vezes que subo no palco para trazer a minha arte e para falar, todas as vezes que as pessoas param para ouvir o que essa mulher sapatona e preta tem a dizer, são as vezes que eu consigo fazer com que a minha lesbianidade seja respeitada nesse lugar que é tão machista e tão opressor para mulheres que se parecem como eu. Acho que poder ser quem eu sou é uma coisa que a arte me proporciona, sim, e que é um lugar onde eu consigo imprimir uma possibilidade de respeito a quem eu sou e para pessoas que se parecem comigo.

Maria Beraldo: Minha obra se articula diretamente com minha sexualidade porque o meu trabalho me oferece um espaço de escrita, que me dá [oportunidade] de escuta e também de fala. A música que eu faço é tudo o que eu já ouvi na minha vida, é a maneira que eu ouço o mundo, as músicas eu já ouvi, é minha percepção. A minha lesbianidade está na minha música porque sou eu, e, claro, o fato de ter um corpo no mundo sendo lésbica faz com que eu receba muita informação relacionada a isso. Sofri muito com a heteronormatividade e com a homofobia, então o processo de perceber que eu gostava de mulher foi muito doloroso para mim, enquanto hoje em dia é uma grande força. E tudo isso tá na minha música. Meu primeiro disco solo, Cavala (2018) é feito a partir das minhas primeiras canções e acho que comecei a compor muito em um momento que eu tava saindo do armário, e foi até uma maneira para eu descobrir aquelas coisas. A música é um lugar onde eu me descubro, é como escrever num caderno ou fazer análise: é onde eu organizo, ponho as coisas no lugar. E em Cavala, em especial, tem até letra sobre eu falando com os meus pais, percebendo como foi isso muito tempo depois de eu ter contado para eles que eu tava namorando uma mulher – porque fiz “Amor Verdade” muito anos depois de tudo isso. Mas a gente passa a vida inteira contando, percebendo que contou e contando pra si mesma porque a sociedade é heteronormativa, e você fica revisitando isso constantemente, o que é muito opressor. As coisas que eu tenho feito agora ainda acompanham bastante meus processos pessoais, ainda mais com a minha relação com o meu corpo, meus processos de identidade. É uma relação bem direta e transparente.

A música, assim como outros dispositivos discursivos, possui a capacidade de visibilizar e invisibilizar, de legitimar e deslegitimar vivências no imaginário social. É correto afirmar que, majoritariamente, o universo musical brasileiro é marcado pela ausência da figura lésbica? Como isso afetou vocês pessoalmente e como isso impacta os trabalho de vocês?
Josyara:
Acho que as lésbicas sempre estiveram na música, mas, talvez, o fato de não poderem se assumir socialmente e na mídia trouxesse essa sensação de que não fizessem parte do segmento. Além da violência, da homofobia, do machismo e da misoginia aguda. A minha geração já pegou um espaço de maior amplitude nas discussões sobre diversidades, apesar de muito ainda ser conquistado em direito e respeito. Para mim, foi mais tranquilo que minha sexualidade existisse na música que faço.

Cuqui: Majoritariamente, acho que é correto, sim. Isso não significa que não existam figuras carimbadas que sempre serão ditas quando alguém for discordar dessa afirmação: várias dessas mulheres que serão listadas muitas vezes nem são realmente ou assumidamente lésbica. Digo isso porque eu mesma, escrevendo “Como É Bom Ser Lésbica”, tive que fazer muitas correções na lista. Você nunca sabe até a pessoa dizer. Se ela não diz, você não sabe. A roupa, o jeito, a feminilidade, a esposa não definem a lésbica. Essa mesma riqueza de conceito é uma dificuldade de legitimação. A única coisa que muda isso é a autoafirmação. Acredito que isso esteja sendo incentivado para todas as sexualidades e identidades, e paras sapatonas não há de ser diferente. Vejo, hoje, muito mais lésbicas assumidas que antes, e espero que seja um caminho sem volta. Pessoalmente, acredito que a gente se agarra a qualquer ícone feminino forte, principalmente alguém que demonstre amor à outra mulher. A Adriana Calcanhotto é pan e a Ana Carolina é bi, mas ambas e muitas outras agiram como ícones lésbicos para mim em algum momento. Só depois de ter sido muito afetada por essas personalidades eu fui capaz de discernir essas nuances da sexualidade. 

Bia Ferreira: Olha, eu acho que discordo dessa afirmativa. Não acho que ele seja marcado pela ausência da figura lésbica. A figura lésbica é bem presente no cenário da música popular brasileira, desde quando a gente fala de Angela Ro Ro, Zélia Duncan, Simone, Cássia Eller, Maria Gadú, Isabella Taviani … eu consigo citar várias cantoras lésbicas que tiveram uma projeção nacional, que o fato de serem lésbicas não foi um problema, elas fizeram sucesso independente disso. Houve uma época que até era comum: é mulher, toca violão, é sapatão, toca MPB, vai lá que vai dar certo, sabe? Só não há esse espaço para mulheres pretas. Repare que esses nomes que eu mencionei de lésbicas no cenário nacional. Mas mulheres pretas lésbicas e não-femininas, ou seja, que não performam uma feminilidade, dificilmente têm uma projeção nacional. Eu consigo mencionar para você a Mart’nália, a Sandra de Sá, e a Ellen Oléria de mais recente. Mas a dona Leci Brandão, que falou sobre ser lésbica em 1976, foi “cancelada” no sentido mais antiquado do cancelamento. Ela foi cancelada no meio do samba, ela foi desrespeitada enquanto compositora, enquanto cantora, enfim, houve uma construção de apagamento da história dessa mulher por conta dos posicionamentos dela, enquanto ser uma mulher lésbica naquele tempo. Se hoje já é difícil a sociedade aceitar, imagina naquele tempo? Eu tenho referência de mulheres lésbicas que construíram e constroem intelectual preto, mas com projeção nacional, desconheço além dessas que citei. Eu gostaria de ver mais. Acredito que o mercado da música brasileira é marcado pela presença da figura lésbica branca classe média e marcado pela ausência da figura lésbica da mulher preta, que é colocada num lugar de objetificação na arte, que tem que estar sempre nua, sempre mostrando o corpo que é hiperssexualizado desde sempre, e não importa se ela canta muito bem ou se é uma ótima intérprete, importa se a bunda dela está em cima e não tem celulite. E que ela esteja gostosa e posando de biquíni. Corpos como o meu, por exemplo, que não performa uma feminilidade, que muitas vezes não é visto como mulher preta, acabam até afetando seus próprios trabalhos. Bem menos portas se abrem para mim porque além do meu discurso, minha figura não é a que vende. Mas a gente vem hackeando esse sistema e mostrando que e mostrando que para além dessa imagem que tentam apagar, existe uma construção intelectual inapagável.

Maria Beraldo: Olha, eu acho que se for pensar na história… majoritariamente, sim, concordo. Concordo porque a nossa sociedade invisibiliza as narrativas de desejo da mulher, ainda mais de uma mulher que deseja outra mulher. Isso é cúmulo da exclusão do homem, eles não admitem (risos), mas estamos lutando para que isso mude. O fato da lesbianidade ser algo muitas vezes velado, – minha infância e adolescência foram marcadas por essas lésbicas que eu conhecia mas não que não me diziam/ou não se diziam que eram. Isso foi muito nocivo para mim porque eu sabia que tinha alguma coisa ali, fui percebendo com tempo que elas eram lésbicas… e logicamente isso não é culpa delas, são pessoas que foram omitidas e são vítimas dessa mesma coisa que eu senti. Mas foi muito nocivo. Essa figura da lésbica enrustida ou proibida, tanto na arte quanto na vida, que não pode dizer que é, deixa muito claro que é a lesbianidade é uma coisa tida como errada, que não se deve dizer, que é algo feio que deve ser escondido. Isso fez muito mal para mim porque quando eu fui entendendo que eu era lésbica, eu fui tentando esconder – eu tinha certeza que eu precisava esconder -, e tentei a todo custo não ser lésbica. Fez muita falta uma mulher sapatona tanto na vida como na arte, elas terem uma sexualidade não escondida, um trânsito livre entre os afetos. Na minha opinião, ele é marcado pela ausência e tem a presença de muitas mulheres que não se dizem lésbicas, mesmo sendo. Eu já vi a Zélia Duncan falando em show que ela omitia por um tempo, sabe? E mesmo elas vivendo suas vidas de lésbicas ainda tendo que omitir isso, elas construíram um espaço para pessoas como eu. É algo construído no tempo e com a colaboração de muitas mulheres e muitas gerações, mesmo que ainda hoje existam mulheres que, sim, são mortas por serem lésbicas. Isso tudo impacta o meu trabalho porque impacta a minha vida, minha saída do armário foi marcada por dor e pela dificuldade, e isso tem a ver com eu não ter tido pessoas para me espelhar. E eu vi que era, então, importante dizer. Eu percebo que no meu trabalho eu não estou fazendo uma coisa só pra mim, e eu sei que eu converso com muitas meninas mais novas e que para elas é importante saber que eu sou lésbica, que eu estou bem, que sou como qualquer outra pessoa.


Qual a potência das canções suas e de outras artistas lésbicas que retratam o amor/ afeto/ desejo romântico/sexual entre mulheres?
Josyara: Quando colocamos nosso amor, desejo e prazer no mundo damos a tantas a possibilidade de pensar que podem, que devem ser quem são, pois se enxergar na música é se sentir acolhida. Isso é essencial!

Cuqui: Tem toda a potência das histórias que por muito tempo foram escondidas ou relatadas por terceiros de forma distorcida. A sexualidade lésbica é completamente fetichizada e explorada por pessoas não-lésbicas quase sempre para a satisfação de um homem cis que é o pior pesadelo da sapatona. Tem a potência da verdade sobre nós, como realmente nos amamos e demonstramos afeto. Não como uma verdade universal sobre toda lésbica, mas apenas como um relato completamente verdadeiro e de dentro de seu local de fala, de existência. Colocar na música e cantar para os outros é o oposto completo ao sentir vergonha e esconder. Essa exposição toma uma forma poética e capaz de chegar longe. 

Bia Ferreira: Sempre que uma mulher lésbica, seja ela preta ou não, se posiciona para falar sobre amor, isso é um ato revolucionário porque vivemos em um mundo patriarcal. Esse mundo não foi pensado para nós, para que nós estivéssemos enquanto donas de nós mesmas, do nosso desejo e do nosso corpo. Então, todas às vezes que isso é afirmado, a gente potencializa que essas mulheres se emancipem enquanto possibilidade de afeto, de amor saudável, de reciprocidade. Eu não acredito nesse amor que sofre. Quando vemos mulheres lésbicas falando sobre esse amor leve, sobre essa reciprocidade, isso é revolucionário, isso cura. Acho que a potência de canções minhas e de outras artistas lésbicas que retratam amor/afeto/desejo romântico e sexual entre mulheres é enorme! Quando eu ouço Mart’nália cantando sobre amor, que é um amor safado mas profundo, um amor gostoso, eu enxergo que aquela sapatão preta pôde experimentar o afeto em muitos lugares que não são pensados para essa mulher. E quando você vê mulheres lésbicas falando de amor publicamente é revolucionário porque somos uma classe invisibilizada e perseguida enquanto sapatonas, que a galera sempre tenta enquadrar naquele normativa hétero e patriarcal e cisgênera.

Maria Beraldo: Tem a potência da gente dar espaço para narrativas que não são sejam heteronormativas, e isso com certeza muda a relação de todas as pessoas que ouvem música – tantos as heterossexuais quanto as LGBTQIA+. É muito importante porque elas falam de narrativas que não são as narrativas em evidência na nossa sociedade, então tem a potência e a importância de trazer essas narrativas para ela, e quanto mais melhor porque a gente tá muito longe da igualdade. As narrativas estão sendo selecionadas pelo sistema e pelo mercado, e as narrativas não heterossexuais vão sendo descartadas. Acho que a nossa música tem a potência também de transformar a vida das pessoas porque se eu tivesse ouvido e visto pessoas lésbicas, as tido como exemplo na adolescência, com certeza ela teria sido mais tranquila, não tenho dúvida. E muitas meninas vêm me dizer isso. Enquanto seres humanos, precisamos de representação no que consumimos, nas imagens que vemos, nisso há a potência de fazer com que essa imagem exista. Há a potência de nós, as próprias artistas lésbicas, poderem falar de si, poderem realizar sua vida, tal qual um homem hétero. Ele fala dele, né? E as pessoas ouvem. É importante que você tenha espaço para falar, e é potente que as mulheres lésbicas que fazem música e possam falar sem restrição sobre o que quiserem. Isso transforma as imagens e as narrativas e cria novos espaços sociais.

Quais são as referências lésbicas de vocês na música?
Josyara:
Sempre gostei de Cássia Eller, Angela RoRo, Adriana Calcanhotto. Da minha contemporaneidade tem Aíla, Ellen Oléria, Anna Tréa, Doralyce, Jadsa, Juliana Linhares, Mahmundi, e também a Bia e a Maria. Vixe, tem muitas! Ainda bem!

Cuqui: Aqui em Pelotas, RS, temos dois tesouros: DJ Dola & DJ Helô. De pertinho, tem minha amiga Laura Bastos. No br, eu amo a Bel Baroni, Obinrin Trio, Luana Hansen, a sapaqueer Gali, a Tamy Tectoniza, além da Maria e da Josyara. E também cito Aíla, Jadsa. No mundo, tem a Courtney Barnett, St. Vincent, Syd tha Kyd e Alix Dobkin.

Bia Ferreira: Nossa, a Mart’nália para mim é uma referência muito grande e gritante, a dona Leci Brandão, Queen Latifah. Cito também Ellen Oléria! Gosto muito de ouvir Cássia Éller, Maria Gadú, Dandara Manoela, Dani Negra, acho que tem sapatonas aí que estão fazendo uma revolução bonita e que me contempla! E que estão fazendo um corre que tá bonito de ver! Bonito partilhar arte e vivência com elas que também constroem o meu trabalho.

Maria Beraldo: Eu tive que pensar um pouco, mas acredito que Gal Costa, Maria Bethânia, eu ouvi muito e eu não sabia que elas eram lésbicas até então. Também cito a St. Vincent, maravilhosa! Não tem como não falar de Cássia Éller também. Uma pessoa que me influencia muito é a Mariá Portugal, instrumentista que é uma grande referência para mim. Tem a Mica Levi, compositora de trilhas sonoras, e minha professora de canto, Regina Machado, e enquanto artistas, Bia e a Josyara também são referências.

Para a gente finalizar, quais são os votos/desejos de vocês para Dia da Visibilidade Lésbica de 2020?
Josyara:
Primeiro, o de nos colocarmos no lugar de aceitação de nós mesmas. Então, assim, podemos seguir mais fortes para trocar afeto e expandi-lo.O respeito é fundamental para o amor acontecer. Vamos nos amar!

Cuqui: Que a gente possa ter paz! Na rua e na internet, que a gente faça o que quiser com as nossas vidas e que o respeito reine entre os mundos. 

Maria Beraldo: Os meus votos são de que a gente seja cada vez mais sapatão, de que a gente possa cada vez mais fazer esse barulho que é muito necessário, e que a gente tenha prazer em ser quem a gente é e viver a nossa vida, isso é muito importante. Que as lésbicas tenham cada vez mais prazer na vida porque ele nos foi tirado de uma maneira muito violenta. Que a gente possa gozar desse prazer cada vez mais e com mais tranquilidade e intensidade. Que a gente saiba que estamos juntas, que todas consigam se sentir parte de um coletivo porque a descoberta de que você é lésbica é uma coisa muito solitária, às vezes.

Bia Ferreira: Eu acho que os meus votos vão em forma de poesia: “Quem foi que definiu / O certo e o errado/ O careta e o descolado/ A beleza e o horror/ Quem foi que definiu o preto e o branco/ O que é mal e o que é santo/ O ódio e o amor?/ Cada um é dono da sua história/ Quantos gigas de memória/ Cê separa pra sua dor, hein?/ Haja, sinta, ame do seu jeito/ Tenha orgulho no seu peito/ Se orgulhe do amor, meu bem/ Escolha pra sua vida, só aquilo que faz bem/ Nunca mude sua cabeça por nada nem por ninguém/ Porque afinal de contas, ninguém paga suas contas/ Nem lhe dar qualquer vintém/ Escolha pra sua vida, só aquilo que faz bem/ Nunca mude sua cabeça por nada nem por ninguém/ Porque afinal de contas, ninguém paga suas contas/ Nem lhe dar qualquer vintém/ Então ame, e que ninguém se meta no meio/ O belo definiu o feio pra se beneficiar/ Ame e que ninguém se meta no meio/ Por que amar não é feio, o feio é não amar/ Levante a bandeira do amor!” [trecho da canção “Levante A Bandeira do Amor”]. Desejo também que as meninas e adolescentes lésbicas saibam que elas podem ser quem elas quiserem, sem se renderem à heteronormatividade. Quero que as meninas lésbicas pretas saibam que a gente tem a possibilidade de chegar a qualquer lugar que a gente queira. E para que nos vejamos representadas umas nas outras. No sábado, Dia da Visibilidade Lésbica, eu gostaria que os pais de meninas lésbicas que expulsaram essas filhas repensem suas atitudes. Gostaria que as pessoas levantassem a bandeira do amor.

Top canções românticas por artista

Josyara

Foto: Júlia Rodrigues/Divulgação

“Sorte” – Gal Costa e Caetano Veloso

“Cavala” – Maria Beraldo

“Qual É A Sua?” – Mahmundi

“Corpocontinente” – Céu

Me Abraça e Me Beija – Margareth Menezes

Cuqui

Foto: Inácio Rafaela/Divulgação.

“Crush” – Saskia

SASKIA · Crush

“Trovoa” – Maurício Pereira

“Fullgás” – Marina Lima

“Papel Sulfite” – Metá Metá

“Fica Fácil Assim” – BEL ft. Xanaxou

Bia Ferreira

Foto: Afroafeto/Divulgação

“O jeito” – Flora Matos

“Só você me fez sentir” – Bia Ferreira

“Meu Grande Amor” – YOÙN

“Acenda a Luz” – Doralyce ft. Bia Ferreira

“Easy” – Lionel Richie

Maria Beraldo

Foto: Jonathan Wolpert/Divulgação

“Ivy” – Frank Ocean

“Foguete” – Maria Bethânia

“(You Make Me Feel Like) A Natural Woman” – Aretha Franklin

“Köln, January 24, 1975, Pt. I – Live” – Keith Jarret

“Greek Song” – Rufus Wainwright

“Um Girassol Da Cor Do Seu Cabelo” – Clube da Esquina

28/08/2020

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Brenda Vidal