2024 foi um ano de ouro para Jota.pê. Foi o ano em que saiu seu segundo álbum, Se o Meu Peito Fosse o Mundo (2024), com vinil lançado pela NOIZE. Neste mesmo ano, e por este mesmo projeto, consagrou-se vencedor de três categorias no Grammy Latino, incluindo de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.
O músico também conquista um novo público a cada apresentação – a próxima parada é no Vinil em Cena, nesta sexta (29), no Teatro das Artes SP, em São Paulo. Quem quiser levar o disco vencedor do Grammy para a casa, pode procurar a lojinha da NOIZE no evento.
Neste Faixa a Faixa, o artista nos guia por cada canção que compõe o premiado projeto. Leia abaixo:
“Tá Aê“: Esta eu fiz com o Theodoro [Nagô], falei: “Cara, tô num momento de carreira muito especial, que é o de poder viajar. Eu tô viajando o Brasil, o mundo, tocando”. Eu queria falar sobre isso de um jeito comemorativo. O Theodoro começou a escrever a letra, e foi mais legal ainda. Mais do que falar dos lugares que fui, ele falou de lugares que tem a ver com a gente. Citou Cabo Verde, que é a terra de Mayra Andrade e de vários artistas que me inspiram muito, tem um lance de ancestralidade ali, de música negra. Ele falou de Salvador, que tem muito a ver com a gente, ele cita o Filhos de Gandhi, de Gilberto Gil, inclusive a levada de violão é inspirada em “Expresso 2222”, do Gil. Ele foi pra lugares que tem a ver com o nosso passado, com o nosso presente e que a gente quer conhecer. Achei bacana colocar essa em primeiro lugar pra falar de onde a gente veio e onde a gente quer chegar.
“Um, Dois, Três“: É uma das mais antigas, eu compus há muito tempo. Ela quase não entrou, mas a gente chegou nesta levada, que eu gosto demais. É muito brasileira, e acabou virando um xodó nosso.
“Naíse“: É uma composição de uma grande amiga minha chamada Nina Oliveira, uma compositora e cantora maravilhosa. Quis colocar esse xote no disco porque o forró tem uma importância muito grande na minha carreira. No começo, o forró basicamente me sustentou. Eu comecei a fazer aula numa escola de forró, e a galera começou a dançar as minhas músicas. Nessa época em que ninguém ia nos meus shows, eles iam. Era muito massa, foi um momento muito importante da minha vida. Nesse disco, que comemora e realiza tantas coisas, achei que era bacana ter uma homenagem ao forró. E mais legal ainda que convidei a Xênia pra participar, uma amiga incrível, uma cantora absurda, ganhadora de Grammy. É uma pessoa e uma artista que eu amo muito, e foi muito bacana poder registrar essa amizade no disco.
“A Ordem Natural das Coisas“: É outra muito especial. O Emicida é um cara de quem eu sou muito fã, no palco e fora dele, que me influencia muito. Tive o prazer de poder chegar um pouco mais próximo dele gravando um cover dessa música, voz e violão, que ele viu. E veio falar comigo, mandou mensagem de que gostou muito, a gente começou a conversar a partir daí. E essa faixa eu gosto muito pelo texto, ela fala sobre as coisas que de fato importam. As pequenas coisas do dia a dia que têm importância.
“Ouro Marrom“: Pra mim, é a faixa mais importante do álbum, porque é a primeira em que eu escrevo falando sobre a minha relação com racismo. Neste lugar de levantar a cabeça, de enfrentar com força tudo o que tiver que enfrentar, mas ao mesmo tempo saber que as coisas serão melhores daqui a pouco. Como é a primeira faixa em que eu falo sobre isso, os produtores, Felipe Vassão, Rodrigo Lemos e Marcus Preto, pediram que não tivesse outros instrumentos, fosse só voz e violão, pra que o texto ficasse em evidência. Acho que foi uma ótima indicação deles.
“Quem é Juão“: Depois de uma faixa tão densa como “Ouro Marrom”, a gente resolveu colocar uma parada completamente diferente no início do lado B. “Quem é Juão” é uma música cômica, que nasceu de uma provocação de uma amiga, que falou: “Você, com essa voz aí, deve fazer muito sucesso com as meninas”. E isso nem sempre é verdade, tocar violão nem sempre facilita a vida amorosa. E eu quis tirar uma onda com essa história, compus e nem achei que fosse virar repertório, mas ficou muito gostoso de tocar. A gente experimentou muitas possibilidades no arranjo dela, gosto muito da produção final dela.
“Feito a Maré“: É uma música inspirada na obra da Mayra [Andrade], a levada de violão é nessa onda de violão e de guitarra de Cabo Verde. É uma faixa muito especial porque foi a primeira que eu fiz pensando no disco. E o convite pros Gilson foi muito natural. Em uma época que meus vídeos estavam ficando mais conhecidos, o José [Gil] mandou mensagem: “Cara, vamos compor junto? Gostei pra caramba do seu som e tal”. Quando comecei essa faixa, mandei pra ele, e em seguida ele mandou mensagem: “Cara, não escreve mais nenhuma linha, quero fazer essa música também”. Aí ele veio pra São Paulo e a gente terminou.
“O Que Será Nós Dois“: É uma faixa bastante densa também. Eu sou muito amigo de um casal, e os dois começaram a pensar em se separar e vinham conversar comigo em momentos diferentes. E foi muito louco entender esse momento dos dois, o que cada um queria, que às vezes era até a mesma coisa, e faltava diálogo pra que eles se resolvessem. A música nasceu dessa observação. O casal continua junto, inclusive, mas essa música nasceu daí.
“Caminhos“: É uma faixa que eu gosto demais porque é a primeira parceria com o João [Cavalcanti], que eu amo demais. É uma amizade recente, mas já muito intensa. É um cara muito incrível. Eu sou muito fã do João faz tempo, desde o Casuarina. A gente ficou mais próximo, ele também foi desses que me provocou: “Vamos fazer alguma coisa juntos?”. E aí foi muito bacana. Pensando que faltavam faixas pro disco, eu falei: “Putz, o que mais que eu tenho pra dizer, pra contar?”. E eu resolvi fazer uma música justamente sobre isso, a primeira frase é: “Quantas palavras cabem na minha boca”. Vem dessas perguntas: quantas coisas eu vou conseguir contar, quantas histórias eu vou conseguir viver, quantas mentiras eu ainda vou contar? Eu escrevi os primeiros dois versos, mandei pro João, e em meia hora, ele mandou o resto todo, com refrão, com tudo. O João é incrível. E foi uma ótima parceria. É uma música que eu gosto muito, o arranjo de metais do Will Bonne está incrível.
“Banzo“: É a mais antiga do disco, uma parceria de novo com a Nina Oliveira. Achei muito especial terminar o disco com esta faixa porque é uma composição que eu fiz quase 10 anos atrás com a Nina, quando tudo isso que eu estou vivendo agora era só uma expectativa, quase uma dúvida, na verdade. Porque a gente conversava se era possível de fato a gente viver de arte, de música, fazer isso ser rentável, viver do nosso sonho. Achei especial que essa música estivesse no disco, porque hoje tanto eu quanto ela estamos fazendo um monte de coisas que a gente só sonhava. Coisas que a gente nem imaginava estão rolando agora. Achei bacana colocar essa faixa pra terminar o disco pra falar sobre coisas que a gente nem achava que eram possíveis e que estão acontecendo agora.
Saiba mais sobre o Vinil em Cena:
VINIL EM CENA – Jota.pê
Data: 29 de novembro, 20h
Local: Teatro das Artes SP
Ingressos Lote Promocional: R$150 inteira R$75 meia e R$85 social, via Eventim
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 149 da revista NOIZE, lançada com o vinil de “Se O Meu Peito Fosse o Mundo”, de Jota.pê, em 2024.
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