“Quero ser uma artista que faz afrobeats como carro chefe”, divide Karen Francis. O pop produzido no continente africano é a grande referência para Anos Luz, primeiro disco da artista amazonense de 23 anos. No entanto, foi um afrobeats feito no país que a ajudou a construir a sonoridade do álbum: “Proveito”, de Luedji Luna e Zudizilla.
“Quando escutei essa música, pensei: ‘cara, é isso!’ Eu tinha um grande interesse em trabalhar com pessoas que já tivessem feito por aqui, mas com fidelidade com as peças importantes do estilo”, conta a compositora. O próximo passo foi convidar Tico Pro, produtor musical da faixa, para colaborar no projeto, idealizado e produzido por Karen, ao lado da cantora Elisa Maia.
Juntos, eles trabalharam em “Pele Prata”, “Cardume”, “Expectativa” e “Linha do Tempo”. Para finalizar o álbum, lançado pela Natura Musical, somou-se na co-produção Guilherme Bonates, Ethos e Wzy. Ainda que a proposta se manteve conforme as músicas foram criadas, novos temperos foram adicionados, como as levadas do r’n’b e os vocais das rappers Nayra Lays, Iza Sabino e Anna Suav.
“É muito doido pensar na maturidade vocal entre ‘Pele Prata’ até ‘Chama’, a última música que gravei. Dá pra perceber a diferença de idade”, afirma a cantora. O disco começou a ser gestado na sequência do EP Acontecer (2018), que traz letras escritas na adolescência. “Ele fala sobre a minha vida de uma forma subjetiva. Uma menina com 18 anos, que tinha acabado de se assumir lésbica em um convívio cristão. Então fala da vivência de anos de sofrimento, onde só a música me acolhia.”
Com o novo trabalho, ela buscou ser literal, em letras que falam sobre autoconhecimento e relacionamentos. “A galera gosta muito de ‘Confissão’ porque fala de amor de uma forma poética”, explica Karen. A música conta com a participação da artista paraense Anna Suav, namorada de Karen há cinco anos. Já “Expectativa” ressoa especialmente com as mulheres negras: “essa música fala sobre preterimento, elas se identificam com isso no campo amoroso.”
Foi a falta de referências que a levou a escrever canções que falam sobre relacionamentos queer. Depois de abandonar a igreja, ela foi abraçada pela comunidade LGBTQIAP+: “Quando comecei a namorar a Anna, eu perdia seguidor a cada foto que eu compartilhava da gente. Hoje em dia, isso é completamente aberto, falo sobre isso abertamente”.
Inclusive, essa conversa se desdobra, principalmente, no palco. “O meu show é sobre romance. Falo para a galera: ‘manda essa música pra ela!’. Vejo o pessoal se paquerando e incentivo isso.” Nos últimos anos, Karen foi escalada para se apresentar no festival Primavera Sound, Se Rasgum, Rio2C e Boogie Week. No próximo domingo, 19/11, ela está confirmada no Afropunk, em Salvador.
Do line-up do festival, ela está ansiosa para conferir os shows dos artistas Noite e Dia, de Angola, e Patche di Rima, de Guiné-Bissau. Filha de mãe Moçambicana, Karen se interessa pelos ritmos do continente africano. Em 2015, visitou o país de origem da mãe e se encantou pela kizomba e kuduro. Desde então, ela nunca mais parou de pesquisar e se encantar com os artistas do outro lado do Atlântico.
“Tenho muitas referências de Cabo Verde, por conta da língua, como Mayra Andrade e Cubita, que é uma mina jovem, a primeira artista que faz kizomba e afrobeats falando sobre sexualidade e relacionamento entre mulheres. Tem Calema, de São Tomé e Príncipe. Tento não falar tanto da Nigéria porque todo mundo fala”, comenta Karen. Mas claro, na sua playlist não faltam os hits de Burna Boy e Wizkid, dois dos maiores expoentes do gênero no exterior.
Serviço Afropunk:
Endereço: Parque de Exposições. – Av. Luís Viana Filho, 1590, Salvador – Bahia
Ingressos: www.sympla.com.br
Data: 18 e 19 de novembro
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