Por Rafa Carvalho
Desde janeiro, o MetroPhones tem uma meta: saber o que as pessoas estão ouvindo no transporte coletivo de São Paulo. A simplicidade aparente do projeto traz à tona diversas histórias de gente que tem muito a dizer, e o que ouvir. Por assim dizer. Tamanha é sua simplicidade que, com apenas quatro meses de existência, já conquistou até espaço na Virada Cultural Paulista deste ano, com intervenções musicais na Casa das Rosas, na avenida Paulista, em São Paulo.
Conversamos com uma das autoras do projeto (e quem o toca atualmente), a estudande Rebecca Raia.
Como e quando começou o Metrophones?
O Metrophones começou em janeiro de 2011, com uma ideia do Daniel Babalin, que até o final de abril fazia o blog comigo e agora começou um projeto diferente*. Ele me chamou no MSN e lançou a ideia, que achei superlegal, então passamos a madrugada planejando e, no dia seguinte, começamos. O Daniel se inspirou no Sartorialist, do Scott Schumann, para criar algo que envolvesse música e a influência dela na vida das pessoas. Eu busco conhecer a relação entre música, o transporte público e a influência que essa combinação tem nos usuários.
Qual a sua relação com música, de um modo geral?
Música está tão presente na minha vida que precisei refletir bastante para entender minha relação com a música, porque para mim, ela é parte da rotina, em cada minuto. Meus pais amam música, venho de uma família inspirada pelas artes. Então, fui educada para entender e conhecer música. Minha relação tem laços mais fortes com artistas como Joanna Newsom, Andrew Bird e Bob Dylan, porque admiro a letra das músicas que eles compõem, que é cheia de poesia e significado. Gosto disso: música carregada de emoção e riqueza lirica.
Me conta uma história que tenha marcado você, de alguém que estava escutando uma música completamente inusitada durante uma abordagem sua.
Uma das histórias que mais me marcou foi a de um rapaz que disse que música não é relevante na vida. Achei tão improvável, que em vez de me desculpar e procurar outra pessoa para entrevistar, passei por umas três estações com ele, tentando entender: como viver sem música? A vida tem significado algum para você? Mas ele insistiu que música não é importante, que eram as pessoas que estavam com ele enquanto ouvia música que faziam a vida dele feliz. Foi inusitado, porque não vejo uma vida alegre sem que a música tenha um papel de destaque.
Por que você acha que as pessoas se isolam do mundo ouvindo música no transporte coletivo?
As pessoas se isolam do mundo porque, assim, a vida é mais fácil. Esquecemos do metrô lotado, do motorista de ônibus descuidado, da prova que nos aguarda na faculdade ou do chefe irritante. O mundo se resume a você, à música e aos pensamentos que ela inspira. Acho que é um curioso escape do usuário do transporte público esquecer a vida difícil da cidade grande (ou o caminho longo até ela). Mesmo que essa experiência não tenha significado nenhum no momento, é possível que a música que você ouve no caminho para o trabalho, marque esse período da sua vida e até mesmo o ajude a superar fases ruins.
Onde o Metrophones quer chegar e com quem ele quer conversar?
O Metrophones está em fase de transformação, e passei bastante tempo refletindo sobre isso agora que o Daniel foi fazer seu blog, o Orbiphones. Uma das coisas que mais me marcou nos meses de existência do projeto que até então tem sido executado em São Paulo, é como o Metrophones tem a cara da cidade. Toda cidade tem uma personalidade, e quero que o Metrophones mostre essa identidade de uma forma visualmente interessante. A música faz parte dessa identidade, assim como a forma com que as pessoas se vestem e para onde estão indo quando fotografadas. Espero que o projeto chegue a pessoas curiosas com o mundo, principalmente as metrópoles – não tenho preconceito com cidades pequenas, mas tenho um carinho especial pelas cidades grandes.
*Daniel Babalin iniciou o Metrophones junto com Rebecca, mas em abril, preferiu seguir com seu outro projeto, o Orbiphones, que segue uma linha colaborativa e recebe imagens e histórias de pessoas sobre sua relação com o transporte coletivo e a música de várias partes do mundo.