Tudo em Ney Matogrosso aflora. O show Beijo Bandido, que ele trouxe a Porto Alegre pela segunda vez no fim de semana de 1° e 2 de abril, é um retrato disso: deveria ser contido, como foi descrita sua passagem anterior pela capital gaúcha, em 2010. Mas ao longo de 1h20 de espetáculo, o que se viu desta vez foi um Ney mais romântico, talvez um pouco introspectivo, mas a todo momento dando indicações de não caber dentro das calças justas, da camisa de botões abertos e do paletó que compõem o figurino da turnê, assinado por Ocimar Versolato.
O Teatro do Bourbon Country lotado, o som impecável, a banda enxuta – violoncelo, violino, piano e bateria – está tão afinada quanto os instrumentos. Cabe a Ney, corpo e garganta, fazer sua parte. E ele faz. O repertório de Beijo Bandido favorece a hipnose, carregado da dramaticidade do tango. Ney tem domínio de si e do público. É um artista inteiro. Não só pelo corpo e voz muito bem conservados que ele ostenta aos 70 anos. A paixão pelo que faz, que parece ser o próprio mote de sua existência, estabelece uma ligação constante entre o homem e o público.
O homem sai do palco e retorna três vezes. Próximo ao fim do show, a interpretação para “Mulher Sem Razão”, do eterno amigo Cazuza, é arrebatadora. Mas nem precisaria: ao longo de todo o show, estavam todos arrebatados. Ney entra em campo com o jogo ganho e quase convence o público a desejar uma certa derrota.
A turnê
A turnê de Beijo Bandido, CD e DVD que Ney lançou em 2010, ainda se estende por 2011. O próximo show acontece dia 16 de abril, no Teatro Guaíra em Curitiba. Ney também pretende levar o show à França e a Itália antes de partir para um novo disco.
Ainda neste ano, deve ser lançado Olho Nu, documentário sobre a carreira de Ney dirigido por Joel Pizzini.