De volta à cena dois anos depois de ter lançado seu último disco de inéditas, “The information”, Beck Hansen oferece aos ouvintes um punhado de canções empoeiradas. Como um disco de vinil antigo rodando na vitrola, “Modern guilt” não é um “Odelay”, mas conserva uma certa dose de sujeira cheia de charme.
Aos 37 anos e com os cabelos compridos, o músico norte-americano recorreu ao produtor Danger Mouse para ajudá-lo em seu oitavo trabalho de estúdio. Conhecido como uma das metades do Gnarls Barkley, Brian Burton colaborou com o The Black Keys no mais recente álbum da dupla de Ohio, “Attack & release” (2008), e fez um ótimo trabalho.
Conhecido pelo “The grey álbum” (2004), em que mistura músicas do álbum branco dos Beatles com o “The black album” do rapper norte-americano Jay-Z, Mouse produziu ainda “Demon days”, que o Gorillaz lançou em 2005, e o disco homônimo do The Good, the Bad and the Queen, do ano passado.
Desta vez, o cara se firma como o produtor do momento, provando que tem sensibilidade (ou habilidade?) o suficiente para não repetir fórmulas. Juntos, Mouse e Beck voam de mãos dadas para algum lugar dos anos 60, repleto de vocais etéreos e efeitos eletrônicos, mas com muitos instrumentos tocados e outros distorcidos – aqueles elementos sutis que fazem toda a diferença numa segunda audição.
As 10 faixas de “Modern guilt” nos transportam para uma atmosfera psicoldélica à Beach Boys, como na ótima “Chemtrails”, ou ao estilo dos ingleses The Zombies, a exemplo da faixa-título. Ouvir essa canção, aliás, dá vontade de assistir ao filme “Querida Wendy”, de Thomas Vinterberg – “Time of the season” é um dos pontos altos da trilha sonora.
A boa química que resulta no trabalho em conjunto começou com um encontro casual pouco antes de começarem as gravações. Em uma entrevista na época em que estavam em estúdio, Beck conta que passou a primeira semana inteira apenas conversando sobre os mais diversos discos com Danger Mouse. As referências musicais compartilhadas – principalmente rock dos anos 60 e 70 – foram a base para o novo álbum.
E, como aqui tudo parece ter sido pensado para passar propositalmente despercebido, com a convidada Cat Power não poderia ser diferente. “Orphans” tem participação quase imperceptível de Chan Marshall nos backing vocals, assim como em “Walls”, cuja batida é acompanhada pelo que parece ser algo entre uma gaita de foley e um violino distorcido.
Em clima de mistério, o álbum termina com a linda “Volcano”, em que Beck canta: “Acho que devo ter visto um fantasma, não sei se são minhas ilusões que me mantêm vivo. Eu não sei o que vejo. Será tudo uma ilusão? Ou uma miragem ruim?”. Ganha um doce quem desvendar a charada…
Via G1.