Ramenzoni é o projeto de música do jovem produtor Ricardo Ramenzoni. Morador de São Paulo, ele se vê fortemente influenciado pela efervescente cena de música eletrônica da metrópole. Há três anos, começou a desenvolver seu projeto de Live PA digital a partir de referências de techno e house. Hoje em dia, compõe e se apresenta apenas com máquinas e tem fortes influências de break beat e acid, além do house music e electro.
Em meio a emoção com a proximidade da sua estreia na festa ODD, no próximo sábado, 14, Ramenzoni gravou a quinta mix da série LabXP mix’s e trocou uma ideia com a Noize. Em pouco mais de 50 minutos, o produtor entrega um punhado de tracks de house e ambiente inéditas, suas e de seus amigos. Participam os produtores Gawk, Villaça, TTO e Benjamin Sallum. Ouça abaixo e leia a conversa com o artista.
Aos 19 anos, o produtor acumula lançamentos de singles pelos selos Fazedores de Som (nos 13º e 14º volumes da compilação), Yellow Sland Records. Antes disso, ainda aos 18 anos, compôs a programação de RBMSP em Zonas Limiares.
Membro das iniciativas Caixa Esquerda e Interplanetário Records, foi também residente do projeto L_VE, capitaneado pelo produtor L_cio. Em junho deste ano, lançou seu primeiro trabalho solo pela Metanol FM. Estado Sólido EP sinaliza, além do literal, a solidificação de sua busca – uma questão prática e de princípio. “Foi a partir da minha apresentação na Metanol que a galera começou a reconhecer meu som e comecei a ganhar respostas com pessoas pedindo pra lançar, me convidando pra tocar e querendo saber mais do meu trampo”, explica o produtor.
Como se deu a influência para começar a produzir?
Quando eu tinha 15 anos de idade, conheci a Voodoohop e frequentava os rolês que eles davam na rua. Nem sabia o que era música eletrônica na época. Comecei a conhecer várias pessoas da cena, criar amizades e vínculos, e passei a frequentar cada vez mais. Acabei conhecendo núcleos como a Mamba Negra, ODD, e fui vendo como as pessoas faziam música eletrônica. Então, comecei a entrar em contato com o programa Ableton live. Acho que passou um período de uns três meses entre eu pensar em produzir e começar de fato, porque eu fiquei pensando muito no assunto antes de começar a investir. Depois que eu baixei o Ableton Live, não parei mais. Quem me apresentou o programa foi um amigo, com quem eu estudava na época, o Gabriel Werneck, e depois disso eu passei a fuçar no programa e aprender sozinho. Fui indo atrás cada vez mais, até o ponto onde eu cheguei hoje.
Como foi a ideia de formação do selo Interplanetário Records?
É uma história muito engraçada que eu faço junto de dois amigos, o Otto Forte e o Pedro Guedes. E na verdade, junto com o Guedes, nós participamos de outro projeto que surgiu antes da Interplanetário, que é a Caixa Esquerda. Esse foi formado por um grupo de amigos no qual eu e o Guedes estávamos junto, sendo que quase todo mundo já fazia música na época, e não só com o objetivo de ter um espaço pra trazer nossos amigos pra tocar, mas também de fomentar e contribuir para um formato de rolê aberto para quase todo tipo de som e arte. A Interplanetário também tem essa essência de interligar diversos tipos de som em uma coisa só, como se fosse uma conexão entre diversos mundos diferentes que estão por aí. A gente começou a ver o som que a galera tava fazendo, trocar referências, e chegamos na ideia de fazer uma plataforma pra conseguir lançar essas músicas. Tem músicas que ninguém conhece, tem gente que já tá fazendo som profissional, só que o som não sai de dentro de casa. E a gente ficou muito tempo pra conseguir lançar o primeiro disco também, porque a gente ficou criando uma estética sonora e visual. E até hoje a gente ainda nem chegou em um resultado final. Seguimos em processo de construção. Mas com certeza, futuramente, a gente quer fazer um negócio mais profissional e chegar a fazer projetos maiores.
Conheci você no RBMSP ano passado. Queria que falasse um pouco da experiência de compor a programação do festival.
Foi super especial. Lembro que o Benjamim estava em Berlin, participando da residência, então o Akin me deu a notícia de que eu iria tocar no festival. Aquele dia foi foda. Meio que um choque. Eu tava um tempo parado, desde a pausa do projeto L_ve, que eu participava e onde me apresentava com mais frequência. Então ao receber a notícia sobre o RBMSP, e ao me deparar ao tamanho do festival que estava por vir, eu fiquei muito ansioso e quase como sempre comecei a montar um Live novo para me apresentar. Sempre que eu recebo essas notícias é o que eu faço, minha maior inspiração é receber esse tipo de notícias assim. O Akin é essencial na minha caminhada e essa participação foi mais uma conexão dele. Foi muito foda eu estar andando na rua e ver um cartaz da Red Bull com o meu nome, mágico. Um grande avanço pra mim. Uma das coisas que eu mais considero na minha carreira foi isso.
Como foi sua participação no projeto L_VE?
Foi uma coisa muito interessante também. Eu sinto que o L_cio buscava esse lugar, de ter uma festa dele, em que pudesse apresentar as pessoas que ele quer, e que sejam só de apresentações live act, que é o tipo de apresentação que eu faço. Na hora que surgiu a ideia, eu pensei ‘nossa, não tinha uma coisa que eu pudesse me encaixar melhor. Ambiente perfeito pra espalhar o meu trampo’. Fui residente todo o ano passado, até que o projeto acabou sendo descontinuado. Foi muito foda, também porque o L_cio é uma das pessoas que eu olhava e eu usava os mesmos equipamentos que ele. Pensava, ‘nossa, dá pra ser foda que nem esse cara assim, e ter sucesso’. Então foi uma experiência bem importante poder participar de um projeto que ele me convidou, que ele olhou pro meu som e valorizou. Importante também a visibilidade que o projeto deu ao meu trabalho.
Sobre o Estado Sólido?
Também foi uma conclusão de um ciclo que eu tava passando. A Metanol, além de ser a primeira festa que eu toquei, e que me apresentou na cena, é um dos coletivos que eu mais admiro, não só pelo som e pelo rolê, mas também pelas pessoas que fazem parte dela que, além de serem pessoas que representam muito a cena de São Paulo, são pessoas que hoje em dia me sinto muito próximo, que sinto muito afeto, reconhecimento e carinho. As tracks não foram nada feitas para lançar. Eu já estava com as músicas prontas e foi meio um processo de seleção muito difícil pra conseguir chegar no resultado que chegou. Eram umas trinta músicas pra escolher seis, foi bem trabalhoso definir quais delas iriam sair. Então, fiz algumas alterações em umas. Também, porque a minha estética de som tá começando a chegar numa coisa muito diferente da qual ela tava quando o Akin me conheceu. Quando eu fazia som só no computador, fazia só um house lofi, agora estou fazendo som só com máquinas e explorando outras placas que ainda não explorei. O nome Estado Sólido tirei muito disso, da solidificação do meu trabalho. Das coisas que eu estava fazendo pra conseguir chegar no resultado que tá agora. Porque tava tudo meio no ar, eu não sabia muito pra qual lado eu ia e o Estado Sólido é meio que uma mão apontando pro lado que eu quero ir, a estética que eu quero ter com o meu som, as referências que eu absorvi, é o Estado Sólido que define. A capa do disco foi feita pela Manuela Silveira, minha namorada. Então, ia mandando pro Akin, e ele ia me dando retorno, foi um processo muito foda que vejo como um processo de conclusão. Eu sinto que a Metanol que gerou isso pra mim. Toda minha relação dentro da minha carreira até chegar no disco foi uma coisa muito valiosa pra mim. Muito. Um artefato. Uma coisa que vou guardar pro resto da vida, esse disco, realmente.
Sábado você estréia na ODD, ao lado de um grande elenco. Como está a sua organização?
Tô bem ansioso e é mais uma que significa muito pra mim, porque a ODD é uma das festas que eu frequentei pra conseguir inspiração. Os sets que eu mais gostei na vida, acho que assisti na ODD. Os artistas brasileiros da ODD também são pessoas que eu admiro demais. Pessoas que já estão há muito tempo, uma vanguarda muito foda. Pra mim tá sendo uma honra realmente. Tô fazendo um set completamente novo.
E falando um pouco do teu setup atual, como está?
É composto só por máquinas, não uso mais computador. Eu tô usando uma Roland TR- 8 (drum machine da “Aira”), que tem os timbres clássicos da Roland só que uma timbragem um pouco mais digital do que as originais), que é uma das máquinas que eu uso desde o começo, quando eu comecei a produzir, e além dela eu tô usando uma Elektron Analog RYTM. MK1, que é tanto drum machine quanto sampler. E tá sendo só essas duas o meu setup. Tô trabalhando tanto com timbragens clássicas e samples que eu fiz nos meus três anos de produção de coisas que eu gravo ou acho na internet. Tem várias misturas.
Como você percebe a cena? O que destaca?
Vejo a cena de música eletrônica como um espaço de expressão muito aberto. Que as pessoas tem pra pegar coisas que elas sentem no dia a dia, tanto nos lados político e social, como artístico e pessoal. Por mais que no Brasil a cena de música eletrônica tenha começado a criar massa mais recentemente, já passa a ser um ambiente muito grande, de muitas pessoas abertas a receber o que você tem pra mostrar. Sinto muito isso em relação ao meu trampo com a cena, da oportunidade que eu tenho de mostrar a visão musical que tenho em relação a tudo isso. O meu som tem muito uma questão melódica, que é meio sentimental. É um privilégio muito grande ter um espaço pra conseguir atingir as pessoas, chegar até as pessoas sem precisar falar ou fazer um discurso. E também, além de ser um lugar pra me expressar, é um lugar pra eu absorver muitas coisas que estão acontecendo na sociedade, de diferentes pontos de vista, performance, tipos de som, tipos de pessoas que existem. Tudo isso. Não só no Brasil como fora do país. Então, eu vejo muito como uma ferramenta muito forte que tem um potencial muito grande pra todos.
Qual a tua busca?
Meu sonho é trabalhar com engenharia de áudio. Acredito que é algo que irá me gerar uma estabilidade financeira futuramente. O Projeto Ramenzoni é algo que define muito a parte da paixão que eu sinto pela música, algo que eu tenho muita dificuldade de enxergar como trabalho, e pelo mais que seja uma coisa que eu vou levar muito adiante na minha vida, é também uma coisa que eu não quero que deixe de ser o que ela é para mim hoje em dia. Engenharia de áudio é uma vocação que eu acabo considerando muito mais como um trabalho e um meio de estudo para o entendimento do que é a música, e como ela é feita.
Trabalha em algum projeto futuro?
A partir da divulgação do Estado Sólido, recebi convites para tocar fora do país, lançar em selos e gravadoras. Mas são projetos que não comecei a trabalhar ainda. O mais importante é que o que eu faço é porque eu sinto muito amor pela cena e pelas pessoas que estão ali, valorizam e veem o futuro da parada. O que mais me incentiva é esse amor, essa paixão pela música, pelo conhecimento, pelas informações, pela fala das pessoas, tudo isso é o que mais me incentiva.
Ramenzoni se apresenta na ODD /ballo/ 14.setembro. O line up conta com DJ Due, Frontinn, Vermelho, My girlfriend, mmolina e Gabto b2b Carlim. Nos visuais, a festa apresenta Rodrag, Valentina Luz, Carmen Laveau, CORJA LAB e Video-Sistema. Para ingressos e informações completas acesse aqui.
Tracklist LabXP mix’s #05, por Ramenzoni
intro: Benjamin sallum – Ambient Jam (unreleased)
3:00; Ramenzoni Live
9:46; _TTO – ATTOM COMPLEX (unreleased)
15:55; Ramenzoni Live
20:38; Ramenzoni – Shipwreck (unreleased)
20:25; Ramenzoni Live
28:45; Villaça – Invasão (unreleased)
32:35; Ramenzoni Live
35:36; Gawk – 004 (unreleased)
39:44; Gawk – 7am dilemmas (unreleased)
46:30; Ramenzoni – Season Fall (Fazedores de Som; 13º vol.)