Bandas que você não conhece mas deveria é a seção mais antiga da NOIZE. Desde 2007, ela se reinventa em diferentes formatos e continua sendo impressa a cada lançamento do NOIZE Record Club. Toda quinta-feira, vamos publicar uma indicação musical apresentada na revista. Nesta edição, Diogo Acosta foi o indicado no BQVNC do Lado A da revista #134, que acompanha o vinil de “Sandra Sá”, de Sandra Sá.
Ravi Lobo destrincha, em versos elaborados, suas vivências e ambições, através do seu disco solo de estreia, Shakespeare do Gueto (2022), divulgado em agosto passado pelo selo Ugangue. No álbum, o músico recebeu fortes incentivos de Baco Exu do Blues, que além de ter composto a canção “Uber Black”, ao lado de Lobo e Suiky, também forneceu, através do seu selo 999, suporte para a captação de áudio de outras sete faixas, que são produzidas por JLZ, Raonir Braz e Nath.
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Como integrante do grupo Rap Nova Era, ao lado de DJ Kbça e Moreno, Lobo já exibia uma trajetória com mais de 10 anos dentro do cenário do hip hop baiano antes de se lançar como artista solo, em 2021. Natural do bairro da Liberdade, que divide Salvador em Cidade Alta e Cidade Baixa, o artista ingressou na música durante o período em que esteve preso e, mesmo em carreira solo, mantém o grupo Nova Era, com o qual realiza projetos sociais em periferias, escolas e instituições penitenciárias até hoje.
Por onde começo? Minha indicação é para que você, leitor, comece pelas produções audiovisuais do artista, que estão disponíveis em seu canal do Youtube. São clipes criados com maestria por seus diretores e roteiristas, que sugiro nesta ordem: “Manda Buscar”, “Shakespeare do Gueto”, “UberBlack” e “Maloka Viva”. Em seguida, ouça as oito faixas, na ordem, do disco solo de Lobo. Boa escuta!
Mood? Um desabafo que traz a transformação através do som. Com letras que abordam sua vivência na periferia de Salvador, o artista abre o disco Shakespeare do Gueto, com a faixa título trazendo sua filha, Lis Leal, em uma breve participação. Trazendo sua força nas composições autorais, com apelo social e potência política, Lobo traz uma síntese madura do que assistiu em seu cotidiano. Em versos honestos, Lobo apresenta seus desejos rimando com sotaque soteropolitano: “Lacoste não compra postura / Meu gueto precisa de amor / Invés de furar viatura / Meus pivete vão virar doutor”. Valorizando a história do rap e atento às sonoridades contemporâneas, oferece uma obra contagiante e reflexiva.
Como soa? Ravi Lobo traz a tensão das letras ritmadas pelo elemento estético do drill, gênero com origem no Sul de Chicago, que incorpora naturalmente a violência explícita que rodeou o artista. Suas canções dialogam com as obras de Febem, VANDAL, VND e LEALL.
Qual a vibe?
Inquietação que gera potência para os seus. O artista traz no disco oito canções que são obrigatórias de se escutar fora ou dentro da quebrada. Lobo se mostra versátil, podendo atingir diversas bolhas por produzir um material verdadeiro e de fácil compreensão.
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