Resenha | A Letter Home – Neil Young

05/05/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Reprodução

05/05/2014

A Cápsula da Paixão

Adentramos uma máquina do tempo logo ao primeiro clique em A Letter Home, novo disco do pai de todos, Neil Young. Lançado pelo selo Third Man, de Jack White, o álbum de canções covers e acústicas foi gravado em uma geringonça lo-fi dos anos 40 chamada Voice-O-Graph – que mais parece uma cabine telefônica – onde chiados, ruídos e estática duelam com belas e tradicionais melodias. O jovial Neil, famoso por investir rios de dinheiro na tecnologia Pono, a qual visa melhorar a qualidade dos áudios digitais que permeiam os headphones dos amantes da música em todo o planeta, parece dar um tiro no próprio pé ao lançar um álbum tão fora de contexto. A parábola de Young dá margem a um resultado um tanto inusitado: é impossível escutar A Letter Home em fones de ouvido. Mesmo as caixas de computador não conseguem reproduzir a mensagem que o irreverente artista insiste em passar: não escutem boa música em MP3! Quando embutido no ouvido, o material gravado diretamente em vinil soa como um pacote desembrulhando-se num cubo de açúcar. As lindas composições, muitas delas primordialmente executadas, devem propagar-se no ar, ao léu, onde os chiados dão sentido para que as longínquas harmonias penetrem com toda sua vitalidade em nossa memória transgeracional.

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Na faixa de abertura do álbum, uma carta fictícia destinada a sua mãe, Young explica que ali estão canções que eles costumavam ouvir juntos, num tempo remoto e surpreendentemente presente. Dentre pérolas e pedras, a mais reluzente é “Needle of Death”, do underrated Bert Jansch, a qual poderia ter sido composta para a execução do dinossauro canadense. A bela “Changes”, de Phil Ochs, a consagrada “Girl From the North Country”, do irascível Freewheelin’ Bob Zimmerman e as superfolks “Early Morning Rain” e “If you Could Read my Mind”, de Gordon Lightfoot, comprovam que bom gosto e boa música não são reféns das contingências temporais.

Habitualmente, Neil Young traça a linha tênue entre o genial e o brega. Composições como a batida “Crazy”, o lado B de Bruce Springsteen “My Hometown” e o malfadado duo com White em “On the Road Again”, atravessam esse limiar e contrastam de modo tão abrasivo com a sutileza de “Needle of Death” que indagamo-nos o que poderia ter acontecido se Young tivesse, à la Johnny Cash, conduzido covers mais contemporâneas, como “Butterfly” do Weezer ou “Weird Sisters” do Sparklehorse. Contudo, esse é um movimento que o ativista ainda há de fazer. Visto que as canções de A Letter Home são dedicadas a sua falecida mãe, a receita para apreciá-las é esconder seus headphones debaixo do travesseiro, retirar do armário aquele chambre amarelo do seu avô, recostar-se numa poltrona empoeirada com um pito e uma xícara de chá na mão e adentrar livremente essa cápsula do tempo, onde a nostalgia e as memórias encontram-se atreladas ao coração.

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05/05/2014

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