Resenha | Au Revoir Simone e Cibo Matto

13/05/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

13/05/2014

Fotos: Camila Mazzini

Eis que, no último domingo, dia 11, o Popload Gig resolveu fazer uma noite ~~girl power~~ com Au Revoir Simone e Cibo Matto, lá no Cine Joia. Pois é, pessoal, também fiquei surpreso quando falaram que ia rolar esse show. As bandas ainda existem e ninguém avisou para elas que, como Túlio Maravilha, às vezes a aposentadoria precoce pode ser mais benéfica do que ver a sua despedida com meia dúzia de torcedores. Pois era mais ou menos esse o número da plateia da casa de shows. Talvez o frio, o Dia das Mães e a Copa do Mundo tenham afastado a galera. Talvez o fato de que o mundo gira e algumas paradas começam a soar obsoletas com o tempo tenha sido o motivo. Não cometerei erros de julgamento para continuar com a chance de fazer novas resenhas por aqui. (Sou novato.) Mas enfim, o show era aquela vibe 2002.

*

Ao entrar no recinto faltando vinte minutos para o show começar e perceber que o ar condicionado deixava o ambiente mais frio lá dentro que na rua, percebi: cilada, Bino. Abotoei meu casaco até o pescoço e fui ao bar pegar umas cervejas, comer uma empanada e sentir o frio dos grandes espaços vazios, como a Sibéria ou Antártida, mas numa versão em que os poucos habitantes adoram falar anglicismos desnecessários. Uma mulher ao meu lado, com um short de oncinha, longos cabelos loiros lisos e ar de atendimento de agência tradicional, falava prazamiga “by the way, a empanada daqui é wonderful”. Aliás, este ar publicitário rondava com força o local. Não que o Cine Joia seja conhecido por levar químicos e engenheiros aeroespaciais, mas se ali alguém gritasse concorrência!, todo mundo voltaria pra agência pra varar a noite e glamourizar o expediente dobrado. Era o provável ponto de encontro de um Mad Men do começo dos anos 2000.

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Enquanto degustava minha empanada (de carne, com uma leve pimentinha e um grosso caldo de tomate, uma delícia, 7.5/10) e tomava uma cerveja, comecei a reparar que estava enchendo. Não muito para se considerar uma Tóquio, mas nem tão pouco para ser uma Mongólia (hipster vintage, é claro). O frio ainda era perceptível, mas muita gente ali não ligava para isso não. Ver e ser visto também é mandatário em ambientes carregados dessa aura cool e pessoas trajando roupas que normalmente seriam vistas como atrações em parques temáticos desfilavam como se ali estivessem na fila do banco. (Nada contra, tenho até amigos que são parques temáticos.) Quando acabei a empanada, a luz abaixou. Pensei “já é, agora o show vai começar, a plateia vai delirar e vou ter uma experiência sinestésica como se o Electric Kool Aid Acid Test com o Jerry Garcia sussurrando no meu ouvido “Casey Jones” estivesse ali em minha frente”.

Mas não. O desânimo travestido de blasé já dizia tudo. A plateia era composta por pessoas que já abandonaram o uso de cocaína ou outras drogas ilícitas há uns anos. Agora é só Naldecon Noite. Estão pensando na paternidade, mas acreditaram que aquelas duas bandas poderiam trazer o louco início dos anos 2000 de volta como que num passe de mágica. Quanto engano. Nem uma menina se esforçando ao resgatar referências ironicamente ~funnies~ com uma ECOBAG DE BIGODE (em 2014) conseguia esboçar sorriso nos outros. Uma pena. Alguns gritinhos cansados e palmas abafadas depois, as fofinhas do Au Revoir Simone subiram ao palco.

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Quando as três garotas se posicionaram em frente aos três teclados, deu para sentir que ali estavam três figurinhas carimbadas da noite paulistana: à esquerda da plateia, a loirinha gatinha e talentosa que estudou no Santa Cruz, tinha um namorado músico e viajou o mundo como modelo até os 18 anos voltar para o Brasil, posar na Trip e agora viver entre o Spot e o ritmo “foda” da agência. No centro, vestida com algo que muito provavelmente poderia ter vindo da coleção Farm X Adidas (não fosse ela já tão last week, né?), a estudante de Letras mais saidinha, com um ótimo senso de humor mas pouco talento musical; aquela que compensa toda a sua inaptidão lírica com danças fofinhas ao longo do show; muito amiga das outras duas integrantes da banda para ser dispensada. À direita, por fim, a que possui personalidade forte, tipo a Docinho das Meninas Superpoderosas, toda de preto e um ar mais dramático. Lógico que dramático num sentido bem meigo da palavra, afinal as três foram muito fofas o show inteiro.

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O problema é que esqueceram de avisar que o show não era para fazer o loop eterno de uma única música por quarenta minutos. O synth-pop das meninas, de tão sintético, não tinha variação. E a dancinha e a fofura delas, ao longo do show, foi cansando os gatos pingados que conversavam e abafavam o som da casa. Parecia que todos aqueles movimentos coordenados de Pampa Girls hipsters tinha enjoado. Mas tudo bem! Elas eram fofas. E isso é o que vale. Na hora que acabou o show delas, um rapaz ao lado maldosamente brincou com o nome da banda. “Sai fora, Simone!” Achei pesado e fiquei muito feliz por elas não terem ouvido, mas ele tinha um ponto. Resumindo, show fracão. 1/10. A simpatia delas foi nota 10 (até desceram para abraçar o pessoal, tirar fotos e curtir o próximo show). Na média, passaram suando de ano, com um 5.5/10.

Bem, primeira metade concluída. Agora era esperar para ver a Noodles do Gorillaz em seu projeto original. O problema é que as meninas ainda estavam no jetlag do Japão e levaram uns quarenta minutos para entrar no palco. O sono bateu com aquele frio (dizem que é biológico) e algumas pessoas foram embora. Enquanto o show não começava, muitas músicas de bandas com nomes longos referentes a filmes e frases que marcaram a carreira de algum membro da banda, como Clap Your Hands Say Yeah, …And You Will Know Us By The Trail Of Dead, How I Met Your Mother, tocava na pista. Às vezes um folk sonolento lembrava a galera que amanhã era segunda e, talvez, fosse melhor voltar pra casa. Porém, quando essa ideia se tornava sólida na mente da maioria, Cibo Matto subiu ao palco. E com muito swag, devo contar.

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Miho Hatori e Yuka Honda subiram ao palco com toda a malemolência e marra que só o Japão pode propiciar. (Não sei vocês, mas eu acho que existe certa marra japonesa que se compara ao melhor que já se produziu na blaxploitation americana. Uma autoconfiança que torna vários japoneses mais próximos do Romário do que jamais sonhou um Kaká da vida. – De novo, nada contra. Tenho até amigos que são Kaká.) A banda veio acompanhada de um violoncelo e uma baterista fera que mandava ver nuns improvisos jazzísticos (foi o que ouvi de um cara ao lado). Pensei “agora vai!” Não foi. Nem o fato de ver na minha frente uma pessoa que foi, quando desenho, símbolo da minha formação adolescente, salvou uma noite que tava ruim, tava bom, agora parece que piorou. O problema: o som muito abafado. Sim, ao vivo todas as músicas são diferentes da versão de estúdio. Mas o violoncelo estava completamente estourado. A ótima – e super gostosinha – “Déjà Vu” parecia um 737 decolando de Congonhas. Junto com isso, toda a galera conversando loucamente (reforçando a teoria de que alguns lugares são feitos para verem e serem vistos – e aumenta a necessidade de se estar lá, independente do apreço pelo artista) estragou um pouco a experiência do Cibo Matto, uma banda que merece mais.

O Audio, que se mostrou uma excelente opção após o show do Woodkid, seria um palco mais respeitável para a dupla. Final do show valeu um 6/10 pela minha capacidade de abstrair os problemas externos à banda e imaginar que o show poderia ter sido bom. O tempo não foi tão cruel para o Cibo Matto como para muitos dos outros presentes. Óbvio que alguns se salvaram. Fiquei muito admirado com a maneira solta com que um homem careca dançava, fluindo no ritmo livre da bateria como polvo: seus braços retorcendo contra os troncos, a perna desacompanhada, cada parte em um ritmo. Foi o mais revigorante da noite. Uma pequena catarse xamânica. 10/10.

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Em resumo, a atmosfera fria da noite não vinha do ar condicionado. O frio era outro. Era a vontade de tentar voltar para um tempo em que a louca vida jovem morreu com muitos ideais. Como se todos encontrassem ali uma cápsula do tempo que pudessem levá-los para um período muito gostoso da vida: o ano de 2002. Após sonharem com todas as possibilidades e entrarem na máquina, percebem que ela está quebrada e ninguém sabe consertá-la.

Mas valeu o esforço, pessoal! =)

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13/05/2014

Revista NOIZE

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