Resenha | King Kong Diamond – Comunidade Nin-Jitsu

02/06/2015

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Paula Moizes

Por: Paula Moizes

Fotos: Reprodução

02/06/2015

Se tem uma coisa que o Comunidade Nin-Jitsu consegue fazer mesmo misturando diferentes tipos de sons é criar um disco com a identidade da banda. Aquilo de começar a ouvir uma música, mesmo que desconhecida, e saber: “isso é Comunidade”. Eles têm essa facilidade de compor uma música pra geral enlouquecer do jeito que bem entender, inspirados na liberdade das sonoridades que eles escolhem pra tocar: do funk de George Clinton, passando pelo pancadão carioca e o rap norte-americano, até os acordes mais pesados que saem da guitarra de Fredi Chernobyl. Adicione a produção electro-trap-dub-heavy-glam de Edu K (DeFalla) e você tem dez faixas do melhor da banda desde 2008 e Atividade na Laje.

A divisão entre lado A e lado B de King Kong Diamond é bem clara. Até a metade do álbum, uma programação eletrônica intensa que, além da clássica mistura do funk carioca com rock, também traz o pop rap e R&B do litoral leste dos Estados Unidos. A mulher-musa de “Dona da Boca”, a zoação de “Bonde do Cachorro Quente”, a mercenária de “Diamantes Verdadeiros”, a crítica de “Moneypulador” e a declaração sexy de “Gata Sincera”. Na primeira parte do disco fica claro que quem nasceu da chalaça nunca vai sair dela.

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Minha parte preferida do disco é a segunda. É nela em que o Comunidade mostra a qualidade de seu instrumental como banda com o groove da bateria de Cristiano Bertolucci e do baixo de Nando Endres. A transição para a segunda metade começa com o single “Maremoto”, uma sonoridade mais orgânica e a temática da mulher avassaladora, que se transforma em mulher-problema na faixa seguinte. “Enlouquecida” chama os riffs funkeiros que vão ganhar um lugar só pra eles na música que encerra o álbum, a grande jam “Deixa a Batida”: um ode aos mestres do Parliament Funkadelic. No lado B ainda tem o rap de “Amigo da Onça”, mais cru que o de “Gata Sincera” e com ritmo hipnótico, lembrando os anos 90 do rap.

Mais do que uma evolução da própria banda, KKD é o desenvolvimento (“amadurecimento” é uma palavra muito séria pra eles) da parceria do Comunidade com Edu K. Foi ele quem produziu o disco de estreia, Broncas Legais (1999), e hinos como “Detetive” e “Merda de Bar”. De lá pra cá, Edu K se aproximou da música eletrônica (é só ouvir seu álbum solo mais recente, Boy Lixo, de 2014) e os beats programados de KKD, principalmente da primeira parte do disco, são um reflexo disso. Sem nunca deixar o hardcore e heavy metal de lado, é claro. Além de Edu K, outras participações que deixam o registro ainda mais familiar são as guitarras-prodígio de Erick Endres e os vocais distorcidos do pequeno Igor de Medeiros Endres em “Moneypulador”.

KKD celebra os 20 anos de carreira do grupo, com muitos elementos eletrônicos que atualizam o som da banda, mas também muitos componentes que eles compartilham desde o início. O heavy metal, por exemplo, foi o estilo que introduziu grande parte dos integrantes do Comunidade na música. Ele aparece no novo disco em faixas como “Bonde do Cachorro Quente” e no final apoteótico de “Diamantes Verdadeiros”. A linguagem também não mudou muito: depois de oito anos lidando com a formalidade da política, o vocalista Mano Changes continua escrevendo letras com os mesmos hormônios sexuais “das antiga”. E se foram esses versos diretos, sempre bem-humorados, e instrumentais bem trabalhados que funcionaram com o Comunidade, não teria por que mudar a receita agora.

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02/06/2015

InfinitA
Paula Moizes

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