Fotos: Eduardo Aigner e Tamires Kopp
“Vamos conversar agora porque depois eu começo a chorar e engasgo. Pode ser?”, propôs Elza Soares à plateia do Theatro São Pedro na terça-feira, 16. Depois de arrepiar as peles presentes com “Exemplo” a cappella, a cantora sentou ao lado do retrato de Lupicínio Rodrigues. “Vocês vão ter que me perdoar: tenho 17 pinos na coluna. Mas não se preocupem porque não tem nenhum na voz não”.
“Uma noite desci do palco e tinha um cara ali sentado, todo de branco, segurando umas rosas belíssimas. Só me olhando com uma cara de safado”, lembrou. “Chegou em mim e disse ‘trago rosas para outra rosa’. Falei ‘você se enganou, meu nome não é Rosa e eu detesto rosas’, que gafe”. Só depois do “chega pra lá” Elza descobriu que aquele safado era o autor de “Se acaso você chegasse”, primeiro sucesso da intérprete.
A história ganhou marca no corpo de Elza, uma rosa tatuada nas costas, e a parceria acabou ganhando o mundo. A suavidade de Lupicínio encontrou na extravagância de Elza Soares a força para interpretar hinos do desamor. Elza Soares Canta e Chora Lupicínio Rodrigues marca o centenário do compositor gaúcho e foi a forma que a cantora encontrou para retribuir o sucesso, a poesia e as dores de Lupicínio. “Só música de corno”. “Esses moços”, “Nervos de Aço”, “Vou brigar com ela” e “Felicidade” foram algumas das escolhidas.
O maestro Eduardo Neves foi o responsável por repaginar as canções, combinando sambas e marchinhas com jazz e um pouco de rock. Eduardo toca flauta e sax ao lado de Antonio Neves (bateria), Danilo Andrade (teclado), Gabriel Menezes (baixo) e Gabriel Ballesté (guitarra). Mesmo que menos melancólicos, o resultado até dá vontade de enfrentar uma dor de cotovelo com Elza e Lupi.
A cantora leva ao palco também as expressões de uma separação dolorida. Mas a felicidade não foi se embora. “Ontem fiquei com o João, hoje vou ficar com o Pedro e sempre ficarei com a paixão”, conta. “Você aí, cê fica? Sorte a sua que não conheceu uma menina chamada Elza”.
