Fotos: Camila Mazzini
“Uma noite nostálgica” resume bem o show do Thurston Moore em São Paulo na última quinta-feira, 4, no Cine Jóia. Encerrando as apresentações do Popload Gig deste ano, o cara que é praticamente a vertente de um “indie underground” provocou uma lisérgica viagem musical conduzida com muitos ruídos e riffs distorcidos.
Em um show curto (1h40, aproximadamente), mas com longos improvisos, o ex-Sonic Youth não precisou tocar nenhuma música do grupo. Seu setlist foi preenchido por sons da sua vasta bagagem solo, com canções do disco mais recente, The Best Day (2014), e do primeiro álbum solo, Psychic Hearts (1995).
“Essa música se chama ‘The Best Day’ e esse é o melhor dia para muitas pessoas que estão aqui”, disse Moore trocando a energia intensa que estava rolando entre o público e o palco. Todos nós, míseros fãs na platéia, fomos convidados a embarcar em uma viagem sonora logo na introdução da noite, com alguns bons minutos de distorção e riffs agudos, seguidos por microfonias e aquele flow harmônico conduzido por James Sedwards (guitarrista das bandas Nought e Chrome Hoof), Debbie Googe (baixista do My Bloody Valentine) e Thiago Babalu, o brasileiro que substituiu as pressas Steve Shelley (também ex-Sonic Youth) após um problema serião na córnea horas antes do show (vê só).
Em poucos momentos lembro de ter prestado atenção nas letras e vocal quase desaparecidos por trás das melodias intensas. Ficou claro, em vários momentos dessa apresentação, porque tantas bandas se inspiraram em Sonic Youth, que mesmo não sendo o show deles, sua essência estava mais que presente ali. Sentia cada um usando o instrumento como extensão do corpo, fazendo desnecessária a simetria entre estrofes e refrões e tornando os amplificadores e pedais partes tão importantes quanto as demais “ferramentas” sonoras no palco. Quem estava lá sentiu na pele a característica mais forte de Moore, que é fazer com que os riffs cantem por si só. Essa é a vertente que inspirou tantas gerações pelo mundo afora, inclusive em Porto Alegre. Em muitos momentos do show lembrei dos sons que a Mari Kircher e o Edu Normann faziam nos anos 2000 e pouco. Lembrei até mesmo da minha humilde e falecida banda, a Vanilla, com os riffs simples porém bem melódicos que a gente tentava fazer lá por 2006/2007.
Esse show foi, com certeza, a afirmação de que essa nossa influência era certa, que Thurston Moore nos presenteou com um estilo para compor e que, na prática, isso dá muito certo. O público estava entregue e acompanhando o que as cordas tentavam dizer. No palco, não parecia o cara com idade de avô e com mais de 40 anos de carreira, mas sim um jovem indie empolgado, mesmo sendo “o” veterano no negócio.
Além dele, Deebie Googe também fez meus olhinhos brilharem ainda mais durante a apresentação. A posição curvada em que ela toca, sem frescura, com movimentos atentos e orientando as viradas para o Babalu, fizeram gostar ainda mais dela. Quantas garotas não desejaram um dia ser igual a ela? Eu já. A vontade era de me misturar com a banda e entrar naquelas longas e repentinas distorções, estouradas e microfonadas, como se todos estivessem em um estúdio com horas intermináveis para tocar.
Tudo isso o Thurston Moore Band fez para os fãs, é claro, mas ninguém ali parecia sentir a necessidade de uma interação performática. A vontade que os músicos mostraram no palco foi o suficiente para nos proporcionar minutos de sons maravilhosos com imprevistos naturais de uma apresentação vivo, sem ensaios. E a trupe experiente que conduziu isso parecia estar curtindo tanto o momento que voltou duas vezes no final: o grupo repetiu o bis. Moore, Debbie, Sedwards e Babalu podiam ter repetido mais e mais vezes, porque ninguém lá parecia se importar. O show foi incansável pra quem curte um indie sujinho de raiz. Foi demais!