Entrevista | Tommy Guerrero: groove e suingue no half-pipe

03/07/2015

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Claudine Gossett

03/07/2015

Entrevista: Marília Feix

Ao ouvir pela primeira vez a música do skatista profissional Tommy Guerrero é difícil advinhar em que país ele nasceu. Californiano de São Franscisco, o músico e atleta faz um som tão experimental e suingado que poderia muito bem ter vindo das praias quentes do Brasil. Talvez por isso, Tommy seja um dos convidados de Curumin no disco Japan Pop Show (2008), o mais recente vinil lançado do NOIZE Record Club (garanta o seu antes que acabe).

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Nos anos 1980, Tommy era um dos integrantes da Bones Brigade, a equipe do lendário skatista Powll Peralta, e é certo que ele poderia ter dedicado a sua vida inteira ao carrinho de quatro rodinhas. Mas Tommy queria mais do que o skate poderia dar. Para isso, precisava de seis cordas e um computador pra fazer os beats.

A partir da década seguinte, ele foi trocando o asfalto pelos palcos. Primeiro, foi integrante de uma banda de hardcore com o sugestivo nome de Free Beer. Depois, participou do grupo Jet Black Crayon, até que finalmente decidiu seguir uma carreira solo. Desde 1998, o músico já gravou sete discos de estúdio. O último deles, No Mans Land (2014) foi lançado apenas no Japão. Quer saber por quê? Veja na entrevista que segue.

Sei que a sua ida a um show dos Ramones em 78 com o seu irmão foi essencial para a sua decisão de ser músico. Como foi o impacto desse show na sua vida?
Eu tinha 12 anos quando fui a este show e até hoje tenho certeza que mudou a minha vida. Fui com o meu irmão e isso mudou tudo… Skate e punk rock tem tudo a ver, a atitude é a mesma, o clima “faça você mesmo”, a coragem e o estilo de vida.

Você andou pelo mundo com o skate desde a sua adolescência e depois em turnês, como músico. Como essas viagens e o contato com diferentes culturas influenciam na sua música?
O mais interessante quando se faz música instrumental é que não existe a barreira do idioma. Você “fala” todas as línguas do mundo, emociona e se expressa de um jeito único sempre… Música instrumental funciona globalmente. Claro que o fato de viajar muito me traz outras perspectivas, outras possibilidades para se viver que não necessariamente são as que existem aqui em São Francisco. Infelizmente a maioria dos norte-americanos não estão interessados em outras culturas e acabam ficando alienados e isso não é bom pra ninguém.

Existe um nicho de mercado legal para a música instrumental?
Eu nunca pensei nisso.. Na verdade quando eu ouvi Booker T and The MG´s – Green Onion, fiquei completamente louco com aquilo e, de lá pra cá, nunca pensei em fazer outro tipo de música. O som instrumental pode ser sentido e traz emoções, tem espiritualidade. Você interpreta a música de acordo com o que você sente. Isso é ótimo.

Você cresceu em São Francisco. Como os sons da cidade e a paisagem conversam com a sua música?
São Francisco mudou muito nos últimos anos, mas ainda é mais como uma cidade europeia do que qualquer outro lugar dos Estados Unidos. Mais ainda do que Manhattan. Tem clima de cidade pequena. Você percorre a São Francisco de uma ponta a outra com muita facilidade. Quando eu era criança a maioria da população era de classe média aqui, hoje há muita diferença social, muitos ricos e muitos pobres. A sensação de estar na cidade é muito diferente.

Que tipo de música soa como andar de skate e por quê?
Punk rock, Fugazzi, depende do seu humor. Eu ouço The Smiths de manhã, mas tudo depende do momento.

Por que você lançou seu álbum mais recente, No Man’s Land, primeiro no Japão? Tem parentes japoneses?
Não, eu fui ao Japão por causa do skate nos anos 97/98. Por algum motivo eu senti uma boa recepção pra minha música. No Japão estão a maioria dos meus fãs.. Ninguém mais paga por música no mundo. Eles ainda são um país que consome música, o último talvez.. risos. Voltei de lá há mais ou menos um mês e fiz uma turnê de 10 shows em 9 cidades diferentes, é ótimo, as pessoas vão aos shows. (Risos)

Você colaborou na música “Sambito” do álbum Japan Pop Show para o Curumin e ele colaborou com uma música sua, “Calling for Ya!” do álbum Return of The Bastard ambos discos de 2008. Como isso aconteceu?
A gente se conheceu por que estávamos no mesmo selo, Quannum, e eu era fã da música dele. Na época que ele veio pros Estados Unidos eu fiz questão de encontrá-lo e a gente começou a trabalhar juntos. Quando ele tinha tempo, passava no estúdio daqui e depois começamos a trabalhar a distância, ele me mandou uma música e eu mandei outra pra ele, mas depois a gente perdeu um pouco o contato por que a vida é muito corrida… risos.


Vocês chegaram a compor algo juntos ou só enviaram trechos um para o outro?
A gente chegou a tocar juntos algumas vezes aqui nos EUA e algumas vezes no Brasil, mais no clima de jam session. Eu sou um fã do Curumim, eu amo ele, ele é brilhante, doce. Um dos caras mais legais que eu já toquei. O Curumin tem uma energia positiva no palco que é incrível.

Em Japan Pop Show o Curumin levanta a bandeira da sustentabilidade, do uso da bicicleta e do consumo consciente. Que tipo de atitudes você acha que são importantes se ter hoje em dia em prol da sustentabilidade, de um futuro de mais esperança?
Bom, é difícil dizer. Acho que as coisas estão ficando cada vez piores. O importante é dar suporte as pessoa que estão nas lutas certas pelo meio ambiente e o futuro do planeta, como as ONGS. Também procuro fazer a minha parte, utilizando produtos reciclados e tendo hábitos sustentáveis dentro das minhas possibilidades. Mas eu acho que quem tem que ter o maior cuidado são os grandes culpados de tudo isso que está acontecendo no mundo, as grandes corporações. Elas estão destruindo tudo, se elas não mudarem, nada vai mudar.

Corra: as últimas edições do LP de Japan Pop Show estão chegando ao fim. Não vai perder a chance de ter esse vinil histórico, né? Adquira o seu: noize.com.br/recordclub

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03/07/2015

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

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