Você é jovem e descobre talento para suprir uma demanda de adenalina crescente e ainda incipiente. Você explode com o boom. Não demora, te chamam pra tocar em tudo que é canto, você fica famoso, tem seus anos de glória, prolonga sua adolescência em alguns anos (ou décadas), enche a cara e come pizza em diversos países do mundo, engorda, emagrece, muda de estilo… quando você vê, a demanda que você supria já não existe.
Foi isso que aconteceu com o No Use For A Name, uma das bandas mais animais do hardcore melódico californiano da década de 90. Por anos, vislumbrei (ou imaginei que talvez estivesse) um pouco depois da linha do horizonte o dia em que eu veria um show desses caras. Isso lá nos primeiros anos da década de 2000, quando o novo milênio ainda não era consenso.
Ano retrasado, em meio a NOFXes e Pennywises, finalmente vi um show do No Use. Foi o show da vida, Bar Opinião lotado, músicas de todas as fases, da mais culhão à mais mulherzinha. Os caras estavam loucos, não deviam fazer show para um público ensandecido assim desde o século passado. Saí do Opinião de alma desbotada de tão lavada.
Semana passada, véspera de feriado de Páscoa, o No Use voltou à Porto Alegre para um show bastante suspeito – já voltaram, assim tão cedo? A paisagem em frente ao local do show, a Cada do Gaúcho, era bem diferente da que vi, adrenalina a mil, em frente ao Opinião em 2007. A banda era a mesma, só estava uma ou duas modas mais atrasada que dois anos atrás. O público era bemmmm menor – facilmente explicável, já que os surfistas, boa parte do público ouvinte de hardcore melódico, deviam rumar a Santa Catarina ou mesmo alguma praia chinelona do feioso litoral gaúcho.
O No Use caiu na real. Imagino que tenham feito aqui o mesmo show que faz atualmente nos EUA: estritamente profissional, empolgação calculada, set list interrompível prematuramente, de acordo com a disposição da banda. Foi o que aconteceu: enquanto o show de Lima, alguns dias antes, foi encerrado com a catártica “Feeding the Fire”, do seminal “Daily Grind” (3o. disco do grupo), aqui a banda parou duas ou três músicas antes. Faltou fôlego, faltou emoção, faltou.
Uma pena. Eu de qualquer maneira pulei, berrei, me emocionei. Mas voltei pra casa triste, com uma nostalgia descabida – já conheci o No Use quando eles haviam se tornado velhos tocando para “kids”. Não me arrependi de ir ao show, de maneira alguma. Mas nem ouvir os discos deles eu conseguirei por um bom tempo. O Tony Sly que berrava, cabelo oxigenado, para uma platéia de alemães bebuns no Bizarre Festival ’98 agora é um pai de família, e deve ficar de cara de viajar 15 horas para tocar para meia dúzia de gatos pingados que, nem financeiramente, conseguirão continuar realizando o “sonho punk adolescente” do qual ele já deve ter acordado há tempos.
Vocês fiquem com essa lembrança boa da época em que os hormônios eram a melhor droga: