Foram oito horas de festival na quinta, nove na sexta e mais oito no sábado. Um total de mais de 24 horinhas zanzando pelos palcos do Fórum, no Primavera Sound em Barcelona.
Os caras (leia-se jornalistas locais e rumores de insiders) cantaram a pedra: o line-up era um dos melhores dos últimos tempos e o evento ia lotar. Dito e feito. Público recorde nos três dias de Primavera.
Voltemos no tempo. Faz de conta que é sexta-feira, dia 29 de maio. Estamos em Barcelona, à beira-mar e Vivian Girls tocam às oito da noite. Você beberica sua cerveja geladíssima (vantagens de um evento patrocinado pela Estrella Damm), eu me queixo de não poder tirar fotos das garotas vivian tão cool de NY que se autodenominam shoegazers e ainda por cima não vejo nada da gig. Você me chama de chata, a gente ouve mais duas músicas ótimas e decidimos ir até o Rockdelux, onde começa em poucos minutos Spiritualized.
Eu me meto lá na frente, começa o aperto no fosso dos fotógrafos. Faço o que posso.
A banda de Jason Pierce apresenta “Songs in A&E” com maestria, num show quase conceitual. Mas não vemos até o final, porque Art Brut entra no palco Estrella Damm às 21:20. Simpático, um Eddie Argos contador de histórias não se cansa de bater papo com o público, mesmo no meio das músicas. O arty-indie-punk apaga a luz do dia e acende o fogo de todo mundo. Uma surpresa pra muitos que não conheciam o grupo. Um amigo se vira pra mim e diz: “Obrigada por me mostrar essa banda”. Lembro do nosso querido editor Nando Corrêa.
Aí a gente dá aquela parada estratégica, você quer mais cerveja, eu vou no Red Bull pra segurar a onda até o amanhecer. Afinal de contas tô trabalhando. Mas a noite é uma criança e o Primavera sempre reserva umas suspresas pra gente. Esse é o melhor de um festival de música independente apegado a suas raízes: acaba sendo um laboratório de descubertas. Você me chama pro palco da Pitchfork, pra ver The Mae Shi, e eu vou. Já tinha ouvido falar neles em algum lugar, mas só quando começam a tocar é que entendo por que o punk cortante dos californianos tá dando o que falar.
Pouco depois, Jarvis Cocker faz jus ao que declarou semanas atrás e vem sem medo de ser roqueiro. Faz um show com menos melodrama, conservando algumas de suas esquisitices típicas. Só não mostrou a bunda dessa vez. O dandy proletário jogou charme pra lá e pra cá com o recém lançado “Further Complications”. Such a gentleman.
De um oposto a outro, vamos espiar Dan Deacon (e sua trupe) Ensemble. São mais de oito figuras de macacão branco no palco da Pitchfork – alguns estão fantasiados de outras coisas – fazendo macaquices. Tem gente que acha que Deacon se passa querendo coreografar demais o público (Put your hands in the air, no, no, just one of them, like this. Now move your head down. Turn right,…etc”), outros simplesmente obedecem e entram na dança absurda do nosso amigo performer.
Como se a gente não cansasse de pular, emendamos no Bloc Party. O rock dançante cai como uma luva. Por um momento eu morro de raiva quando percebo que tive problemas com o cartão de memória da minha câmera e a gente quase chora junto porque eu perdi todos os vídeos daquela noite. A tristeza não dura muito, estamos mais preocupados em cantar hits como “Banquet” e “Helicopter” em coro com a multidão, já não vemos nada diante de nós além deles, e é inevitável que eu solte um comentário mulherzinha do tipo “o Kele Okerke é uma graça” no meio da euforia.