Após o Terno Rei se consolidar como uma das bandas alternativas mais influentes da última década, é chegada a vez de vermos seus integrantes despontarem em carreiras solo — o que vem acontecendo, pouco a pouco, com cada um deles. É o caso de Ale Sater, o baixista e compositor dono da voz doce que ouvimos na banda. O carioca lançou o primeiro álbum solo, Tudo Tão Certo (2024), em setembro, mas já se dedicava ao projeto paralelo desde 2016, com o lançamento do EP Japão. Em 2021, veio Fantasmas. Agora, Sater mergulha profundo no processo criativo intimista feito a quatro mãos — como ele mesmo define — com o produtor Gustavo Schrimer, com quem também colaborou no Terno Rei.
A imersão em uma arte própria e mais pessoal — tão diferente do processo criativo e coletivo de uma banda — resgatou inspirações das mais variadas para o músico, de Simply Red a Gotye, passando por Radiohead e Anohni, o que pode ser percebido ao passear por cada faixa do disco. A influência do folk, já perceptível nos singles e EP anteriores, também se firma neste novo projeto.
As letras também são um mergulho na intimidade do artista. Todas assinadas por ele, refletem ora sobre momentos cruciais capazes de mudar o rumo de uma história, ora sobre a solidão e a melancolia naturais da passagem do tempo.
“Ontem” foi a escolhida como primeiro single. A faixa tem uma pegada radiofônica acrescida de ricas camadas instrumentais, como synths e sopros. “É a música mais cheia do álbum, tem bastante arranjo, piano e até um solo de sax. Também, é a que melhor representa o todo do disco”, disse Ale Sater à Noize, sobre a escolha desta para lançar o projeto. De modo geral, as letras também versam sobre amadurecer em uma grande metrópole como São Paulo, onde ele vive, o que pode ser percebido principalmente em “Cidade”. Já em “Trégua”, Ale explora outros tons sonoros e sintetizadores que flertam com o trip hop, deslocando-se da sonoridade feita com o Terno Rei. “Sigo certo pelo certo aonde vou, mas eu vou voltar. Eu vou, não leve a mal”, canta ele.
Assim temos, ao alcance dos ouvidos, um álbum já considerado favorito em algumas listas de melhores do ano em 2024.
Confira o Faixa a Faixa abaixo:
“Anjo”: é um mantra, uma música que fiz alguns anos atrás. Gosto muito dessa roupagem e ao vivo é a música que mais gosto de tocar. Me inspirei bastante no novo disco da Anohni para essa. Acho que é a primeira vez que fiz algo semelhante ao spoken.
“Ontem”: é a música mais cheia do álbum, tem bastante arranjo, bastante preenchimento com synth, piano e até um solo de sax. Também, é a que melhor representa o todo do álbum, por isso a escolhi como primeiro single. De referência, para mim, tem a pegada que mais tenho curtido ultimamente, Blue Nile, EBTG, Simply Red, meio chuva de noite.
“Quero Estar”: essa é a música que eu mais gosto, tem um refrão que eu gosto muito e também é mais pegajoso. Na produção, tem poucos elementos – batera, baixo, guita, voz e algumas texturas -, então, ela é mais vazia e contrasta bastante com “Ontem”.
“Final de Mim”: essa é uma composição mais nova minha, com bastante melancolia, tristeza, reflexão, etc. Foi feita naquele tempo de valsinha 6/8. Tem mais letra e é bem descritiva, por isso, considero um folk “tradicional”. Essa é a música preferida do Gustavo Schirmer, que produziu comigo o disco.
“Trégua”: essa é a uma letra mais nova que surgiu nos finalmente do disco. A gente trabalhou em uma outra versão que não gostamos e tentamos encaixar em algo diferente do resto, que acabou sendo isso. Gosto muito do fade out que encerra a música e da energia “bicuda” que ela têm. Também gosto da frase que rola “luz encontra escuridão / ando frio igual carvão”.
“Girando em Falso”: essa é uma não-música. É uma parte quase instrumental e também mantra que serve para “limpar o ouvido” no disco. Tem uma afinação diferente, então o violão leva para um lugar diferente também, a meu ver.
“Cidade”: acho que essa é música mais “complexa” do álbum, funciona como um quebra-cabeça. Tem bastante letra, tem bastante nota, bastante mudança de harmonia e bastante parte. Gosto muito da produção com uma batera que é ao mesmo tribal e reta, sem muito balanço. Ao mesmo tempo, é uma música mais difícil de tocar ao vivo, por ser um pouco estável.
“Ouvi Dizer”: essa é uma música que escrevi muito novo e que sempre gostei, mas nunca tive a oportunidade de gravar. Coloquei-a na pré-seleção de músicas para o disco de última hora e quando mostrei para o produtor, foi a que ele mais gostou. Acho legal, tem uma ingenuidade, consigo sentir ascoisas que eu sentia quando eu escrevi a música. Acho que isso é uma coisa boa.
“Vejo”: essa é a música mais pesadinha do disco, mais “rock”, com riff, distorção e grito. Também é uma música em 6/8 como “Final de Mim”. Gosto muito dela e funciona muito bem ao vivo.
“Alguma Coisa”: a composição mais nova do disco. Curto bastante essa letra, bem lacradinha. É a música par para “Quero Estar”. Mais ensolarada e mais pop rock. Tem uma playlist que fiz que sempre falo nas entrevistas que é a “roqueirinhas” – que tem Cardigans, No Doubt, Cranberries, etc. Acho que essa música é “roqueirinhas” total.
“Desvencilhar”: amo muito essa música. Foi gravada na fita, então tem aquele calor da música “antiga”. Nessa produção, me inspirei bastante naquela música da Nico, “These Days”. Tem basicamente o mesmo set – Guitarra “velha”, Cordas, Voz e Melotron.