Uma festa num lugar não-convencional de São Paulo celebra, neste sábado, dia 9, os 15 anos do Trabalho Sujo. Editado por Alexandre Matias (foto), o blog, que migrou do jornal impresso para a web, é um dos cases internéticos de maior sucesso do Brasil. A celebração rola no Trackertower, no centro da capital paulista, e conta com Veneno Soundsystem + Gente Bonita + SRY + Don’t Touch My Moleskine nas picapes. As informações completas, você encontra aqui e, abaixo, confere a conversa que tivemos com Alexandre Matias a respeito da adolescência do blog.
De coluna semanal de jornal a um dos blogs mais importantes do país, o Trabalho Sujo é um case de sucesso. Como se sente diante disso?
Satisfeito. O Sujo sempre foi o lugar em que pude fazer as coisas do jeito que quis, com zero interferência externa em relação ao conteúdo. É um aprendizado diário e um exercício de edição e redação simultâneos, que pratico diariamente. Se o Trabalho Sujo é um sucesso, ele é um sucesso para mim. Sei que muita gente gosta, acompanha, mas a principal intenção em fazer o site é a satisfação pessoal. Se estou feliz com ele, já vale.
Quinze anos atrás, a internet ainda engatinhava. Como ocorreu, para você, a transição do papel para a internet?
O foco era a mídia impressa, mas eu sempre naveguei online. Outro dia encontrei uma matéria minha de 1994, explicando o que era internet para o público leigo. Fazia o Trabalho Sujo num jornal onde era editor de arte, o Diário do Povo, daí quando o jornal resolveu entrar na internet, me ofereci para cuidar do projeto gráfico da página, pois sabia o quanto internet era legal. Consegui, assim, colocar a coluna entre os suplementos do jornal, no site, e isso fez com que o Sujo começasse a ser lido fora de Campinas. Quando virei editor de cultura do jornal concorrente, o Correio Popular, resolvi não levar a coluna para o papel e a transformei em um site, ainda no velho Geocities. Depois fui para o Gardenal, um dos primeiros consórcios de blogs do Brasil (pré-Interney, pré-Wunderblogs), e, em 2008, fundei meu próprio site com o Bruno, o Mini e o Arnaldo, OEsquema (que deve ter novidades este ano). Por isso, a transição foi muito natural – se é que realmente aconteceu, afinal, mesmo o Sujo hoje sendo um veículo 100% online, por toda minha carreira lidei com edição em papel, como faço atualmente com o caderno Link, sobre tecnologia e cultura digital, que edito no Estadão.
Em 15 anos, muita coisa acontece. Certamente, seu trabalho amadureceu, mas que mudanças você sente que são mais fortes?
O caráter pessoal, opinativo, menos imparcial, mais informal. E também o fato de, apesar de um dos principais temas do blog ser música, eu não cobrir apenas música ou apenas cultura. Se eu quiser transformar o Sujo num site de contos ou de gastronomia ou de apostas em cavalos na semana que vem, eu posso. E, acredite, vai ter a mesma cara do Sujo. Acho que a principal qualidade que desenvolvi nos últimos anos é essa: a capacidade de adaptação sem perder a minha assinatura.
Em 15 anos, certamente você amadureceu como pessoa. Este fato influenciou o seu trabalho de alguma forma? Pergunto isso porque percebo que, embora seu site tenha um público mais adulto, você não deixa de dar atenção aos fenômenos adolescentes, por exemplo. Ou seja, com o perdão da palavra, parece não ter se transformado num adulto chato que parece não ter tido adolescência, entende?
Obrigado. Não faço distinção etária sobre assuntos. O que você chama de “fenômenos adolescentes” são consumidos por públicos de todas as idades. Mas faço questão de não deixar o Sujo envelhecer, no sentido de se tornar chato, carrancudo, cagarregra. Gosto do fútil e do efêmero tanto quanto do profundo e do clássico. O mais legal é justamente transitar por estes meios.
Para finalizar, o que podemos esperar da festa de aniversário?
O aniversário de fato aconteceu no final do ano passado, mas eu havia acabado de casar e não tive tempo de cuidar disso direito. Por isso, fiquei adiando até chegar no formato atual, em que chamei amigos queridos para discotecar todo tipo de som a noite inteira num lugar fora da noite habitual paulistana. Vai ser demais.