Amapiano, funk e reggae: Enme disseca as sonoridades de “Atabake” 

06/05/2024

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Por: Isabela Yu

Fotos: Divulgação/ Sillas H.

06/05/2024

Ainda que não tenha levado a coroa do reality show “Caravana das Drags” (2023) para casa, a rapper Enme deixou a sua marca na televisão brasileira ao apresentar a cultura maranhense para o resto do país. Durante a competição, apresentada por Xuxa Meneghel e Ikaro Kadoshi, a artista se destacou ao fundir cultura drag com o rap, além de incluir pitadas de ritmos regionais. 

No início de abril, ela apresentou Atabake (Deluxe), versão expandida do disco de estreia, lançado em 2022. Enme enxerga o projeto como uma ponte, que conecta a musicalidade do Maranhão com o resto do mundo: “Assim como o couro do tambor, quanto mais o tempo passa, mais as músicas se apuram. Por ser um álbum de pandemia, sempre pensei na versão deluxe no momento em que eu pudesse espalhar ainda mais a mensagem que as músicas trazem. A nova estética é uma transição do orgânico pro digital, pro sintetizado.”

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A artista trans não-binária é moradora do Quilombo da Liberdade, em São Luís, o maior quilombo urbano da América Latina. Inspirada pela cultura afro-indígena da região amazônica, ela funde ritmos tradicionais com a sonoridade do hip hop e da música eletrônica. A versão deluxe, que conta com três faixas extra, dá um passo além nessa investigação, ao mesclar estilos como dancehall, amapiano, afrobeat, house e electro pop. 

Leia um faixa a faixa de Atabake (Deluxe): 

“4 por 4” (Eva De Lc Remix): Escolhi esse remix para abrir o álbum para que as pessoas sintam a energia cotidiana do quilombo onde eu nasci. Além de citar a competitividade e a cobrança de “vencer na vida”, que chega cedo pra gente, fala também dos desafios quatro vezes maiores para quem vive nesse corpo, nessa pele e vem de onde eu vim. Chamei Eva para fazer o remix para conectar os versos com o eletrônico e com o underground, levar a música para a cultura ballroom, um movimento que vem crescendo e que a gente faz parte lá em São Luís. 

“Magia Negra” feat. Bixarte (S4tan Remix): Foi o primeiro single lançado dessa era. DJ S4tan meteu o funk e o eletro nessa música cheia de flow, deixando ainda mais pesada e dançante. Essa é uma daquelas músicas para você sentir a energia e aproveitar. Tem pitadas de pop inspirado em “Aura”, da Lady Gaga.

“Dama da Quebrada”: Produzida por Adnon, Brunoso e eu, a música traz uma virada pro brega em homenagem aos bregas que acontecem no meu bairro. “Dama da Quebrada” é sobre aquela típica diva do bairro que exala poder e sensualidade. É uma das minhas músicas favoritas, acho que é a minha melhor criação, um funk cheio de atabacada, misturando kuduro e as matracas do tambor de crioula do Maranhão.

“Inflama” feat Brunoso, Pantera Black, Gugs e Marco Gabriel: Essa faixa mostra exatamente o diferencial da cena hip hop maranhense, como a gente mistura a nossa identidade na hora de fazer rap. A música tem a parelha do tambor de crioula, tem trap e tem kuduro. Os graves são muito pesados. É sobre a energia do quilombo em festa, a força que move a gente, o peso do grave das radiolas, dos toques de matraca. Foi uma das primeiras músicas produzidas desse disco. 

“Kebra”: Quando eu falo de raízes, couros e cordas no disco, essa é uma das músicas que resume esse conceito. Nela, eu falo das minhas raízes, o beat traz o couro do tambor e a melodia dançante do pagodão traz as cordas da guitarra. Ela me remete às festas em família no carnaval. Mostra a musicalidade que o Maranhão e a Bahia têm em comum. 

“Atabake”: Lembro quando eu era criança e fui no bloco afro, e ouvi o atabaque tocando pela primeira vez, o quanto meu corpo vibrou e se arrepiou com aquele som. Toda vez que eu ouço um toque percussivo eu me emociono, não consigo ficar parada. Essa foi a energia que eu quis passar nessa faixa, parece uma música de anunciação para algo grandioso chegando. 

“Amarradinha” feat Baobá e Faustino Beats: Aqui começa o lado B do disco com músicas mais românticas e leves. Atualmente, essa é a minha favorita. No meio de tantas lutas diárias, falar de amor e romance traz alívio. Eu lembro quando conheci Baobá em um show em Guarulhos, onde cantamos juntas. Logo depois, em uma conversa no WhatsApp sobre nossos namorados, a gente fez essa letra. A gente queria trazer esse swing, essa mistura de samba reggae com afro pop e MPB, então chamei Faustino para construir o beat. Essa música é a cara do pop Amazônico atual, do norte ao nordeste você consegue sentir as influências nela. 

“Saliência” feat Gravnave: Eu adoro experimentar novos gêneros musicais e tentar unir sonoridades. Isso é algo característico do meu som. Aqui, eu tive a ideia de juntar o pagodão baiano com o afrobeat, criando uma sonoridade bem brasileira. Convidei a banda Gravnave pro feat, pra trazer esse molho da Bahia, porque sou muito fã da banda, principalmente das melodias que eles trazem nas linhas de voz. Essa mistura mostra o quanto a gente pode se desafiar artisticamente, saindo da zona de conforto, mas ainda colocando o rap e o hip hop. 

“Dance Pra Mim”: Agora a música aparece numa versão amapiano, muito mais envolvente e dançante. Ela conecta a regionalidade do nordeste com a África. É uma sonoridade nova, que tem ganhado força nas pistas eletrônicas e que quero trabalhar nos próximos álbuns. Sempre gostei de música nigeriana, então estou ansiosa para saber o que a galera vai achar. 

“Pra Te Enfeitiçar”: A Jamaica tem muita influência na cidade onde eu nasci, São Luís. Decidi fazer uma nova versão dessa música com um riddim, uma vibe mais dancehall. Adnom, que trabalha com o Criola Beat, lá no Maranhão, tem muita influência do dancehall também. 

“Som da Liberdade” feat Núbia: Morar na capital brasileira do reggae é muito bom, mas morar no Quilombo Liberdade é ainda melhor. Tem muita cultura popular, tem reggae, tem samba, tem rap, tudo ao mesmo tempo dentro do bairro. Tudo isso me influenciou a criar esse disco. Ela traz uma vibe meio amanhecer e com timbre único de Núbia, soa como uma poesia. Fiz essa música em homenagem ao meu território, mas também fiz como uma mensagem de esperança para o que eu gostaria que acontecesse quando as pessoas ouvissem ela. Esse ano, eu tive a oportunidade de cantar na Europa pela primeira vez e isso já estava escrito nessa música. Espero que a gente possa virar as chaves e fazer o nosso povo sorrir pra sempre! 

“Me Lambe e Vaza” (Piseiro Remix):  Acho que ninguém imagina que uma artista do rap possa fazer um piseiro, mas eu vim do nordeste, eu ouço tudo isso no dia a dia, em casa com a família. Esse remix é dedicado exatamente a esses momentos que também fazem parte da artista que eu sou. Além de ser um gênero popular, é muito latente nas periferias, então acho que vale a pena explorar essa sonoridade.

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06/05/2024

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