A banda carioca Aquino, composta por João Soto, João Vazquez e Leandro Bessa, lançou o segundo álbum Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol, no início de outubro. Com violões, sintetizadores e vozes limpas, a banda constrói uma sonoridade voltada ao pop, passando pelo indie e pela MPB.
O grupo aborda temas da juventude, constrói cenários do Rio de Janeiro e reflete sobre questões da vida contemporânea. Há uma busca por inserir-se dentro de alguma noção possível do que é entendido como brasilidade. A banda procura um sotaque próprio para as suas composições dentro da linguagem comum da canção popular.
Faixa a faixa Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol
“Cobra-Coral”: Foi uma das primeiras faixas a ser composta para o disco, começando pela parte instrumental. Essa música fala sobre a valorização do que só tem aqui, tanto das melhores, quanto das piores coisas sendo resignificadas. É uma faixa que sintetiza a ideia do disco, com a letra, violões, camadas de synth e vozes. Começamos a tocar ela ao vivo nos nossos primeiros shows, em 2022, e ver a evolução dela a partir desse contato com o público foi uma das partes mais especiais no processo de arranjo. É gigante e dá pra se perder.
“Amor Sintético“: Esse foi o primeiro single justamente por traduzir alguns sentimentos que passam pelo disco. Uma relação esterilizada, asséptica, que você termina, sai pra festa e alucina de saudade. Ouvir a voz da pessoa cada vez mais alto nas caixas de som, como uma assombração digital. Um beat duro, robótico, acompanhado da leveza das cordas e o orgânico das percussões, que simula os sentimentos confusos de uma relação com um final agridoce.
“Como Você”: O looping do beat surgiu da manipulação dos vários sons possíveis, batucando garrafas de vidro e cadeiras de bar. A partir daí fomos construindo esse ambiente espacial que acabou se transformando em um pagodão baiano, numa mescla entre samples e instrumentos gravados. A gente estava ouvindo muito as percussões do Naná Vasconcelos nos discos da Gal e do Itamar, explorando essa capacidade rítmica da voz. É uma música pra dizer que ama, que quer, que vê e que beija. Querer devorar a pessoa e ser devorado também.
“Neotropical”: Sons e memórias que constroem a vida nos trópicos. Criamos uma paisagem com o sol sempre nascente ou poente no horizonte, embalado por uma atmosfera que é tanto nativa quanto irmã. Nesse empréstimo de gêneros musicais, como a cumbia, reggaeton e o trap, buscamos contar na letra uma definição da cultura popular como matéria de subsistência em meio às contradições do sul global.
“Onda do Mar”: Uma das coisas que a gente mais queria no projeto era explorar as convenções clássicas da música brasileira, como a música folclórica. Queríamos juntar o lúdico dessa atmosfera com um arranjo mais pop, inspirado principalmente em A Procura da Batida Perfeita (2003), do D2. Estrutura de cantiga em uma roupagem de música samba/hip-hop.
“Lágrimas Contemporâneas“: Queríamos trazer pro álbum a influência das tecnologias, redes, likes, e como essa frieza e distância influenciam as relações modernas. Preferir ser uma máquina pra fugir do embate, da dor, e das consequências dessa fuga não natural. Dentro disso, uma despedida demorada, com tempo suficiente para reavaliar as coisas. Foi também uma das primeiras composições pro álbum, e é a música que mais se relaciona com nosso primeiro disco.
“Matas e Mares“: Um synth reggae de amor à alguém, à natureza e algo no meio disso. A ideia era encapsular em uma música as ondas espaciais do sintetizador com as percussões solares características do gênero. Um passeio pela geografia do Rio, manguezais, morros, matas e mares da cidade, acompanhado de alguém que brilha mais que o sol.
“Camisa do Flamengo“: Definitivamente não éramos boleiros na escola. Ruins de bola, sobramos com os instrumentos. Essa música surge a partir da vontade de fazer as pazes com o futebol, entender que dá pra curtir do nosso jeitinho. Explorar essa dinâmica do fanatismo pelo clube em comparação com o fanatismo por alguém. No som, a ideia foi pegar a base do Ijexá com a música disco americana, com referências também ao trabalho da banda Brylho, grupo carioca dos anos 80.
“Ela”: Uma letra composta somente referenciando algumas de nossas principais influências, celebrando quem sabe celebrar a música. Cátia de França, Aldir Blanc, Sérgio Sampaio, Quinteto Violado. Queríamos que na letra ficassem em evidência os artistas brasileiros que amamos, em contraponto com a parte instrumental, focada nas influências estrangeiras como a guitarra do Talking Heads, os ruídos do Kraftwerk e a bateria de Tony Allen, lendário baterista da banda de afrobeat Afrika ‘70.
“Vapor de Cachoeira”: Uma colagem com áudios que gravamos e/ou recebemos, vozes de IA, samples de outras músicas, e uma letra em três línguas diferentes. Um eletrofunk pra gente se perguntar o que é o som, a comunicação e a construção de imagens. Celebração da música eletrônica, seus caminhos pelo Brasil, pelo mundo e possibilidades de expressão. Recortes em cima de recortes.
“Tudo O Quanto é Lindo”: Um posfácio ao disco. O lembrete de que, ao final, todas as nossas músicas começam assim. Depois de passear com roupa diferentes, ver a beleza da música por si só, em seu formato original: no violão. Pegar todos os temas e gêneros trabalhados no álbum e os pôr em cheque. Nem filmes, nem o sol, nem todas as músicas, nem todos os ancestrais, nem todo o futuro, nenhuma palavra será possível para traduzir o que é bonito e simples.
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