Bombino: O rock tuaregue do Níger em dois shows no Brasil

11/11/2015

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Por: Fabiano Post

Fotos: Alice Durigatto

11/11/2015

Em Tidene, no Níger, um acampamento nômade tuaregue, aproximadamente, a 80 km da maior cidade do país, Agadez, no dia 1 de janeiro de 1980, nascia Goumour Almoctar aka Omara “Bombino” Moctar, em meio a Primavera berbere, daquele ano, que reivindicava o reconhecimento da identidade e da língua berbere na Argélia. Acontecimentos como esse seriam constantes na vida de Bombino.

Para falarmos desse virtuose, nômade, do deserto do Saara, louvado por críticos musicais que o comparam, merecidamente, com Hendrix, Santana e Neil Young. Que mistura a música tradicional, assouf, de seu povo ao rock ocidental e ao blues, criando uma nova entidade o blues tuaregue ou rock do deserto, ou misture isso tudo que você encontra um bom enquadramento para o som. Precisaremos, antes de tudo, entendermos um pouco de cronologia histórica, cultural e política, em um ambiente inóspito de quatro mil anos. É necessário compreender a batalha para se viver dignamente com a constante ameaça externa. Afinal essas são as questões latentes em sua arte.

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Dentre as etimologias, definições e tals, que encontrei a respeito da pouco conhecida, sociedade Tuaregue, a que mais simpatizei foi a que os próprios utilizam para se autodeterminarem, Imuhagh: “homens livres”. O povo nômade descendente dos berberes, do Norte da África – que falam línguas afro-asiáticas. São conhecidos como comerciantes e viajantes do deserto do Saara, tem a reputação de serem guerreiros ferozes que não se deixam abater, lutam por seus direitos e combatem o colonialismo com suas vidas, se for preciso.

Como mulçumano Bombino aprendeu que honra, dignidade e generosidade são importantíssimas diretrizes de vida. A vida de Goumour foi marcada por conflitos políticos. No ano de 1984, uma terrível seca no Níger e Mali, matou quase que a totalidade do gado da região. Os tuaregues foram obrigados a migrar para as cidades, e países como Argélia e Líbia. Bombino, seu pai e sua avó, fugiram para a Argélia, onde tinham parentes. Alguns familiares da frente rebelde traziam consigo violões e Bombino começou a aprender sozinho e replicar as canções ishoumar que havia ouvido.

Com a substituição do regime militar, no Níger, entre 92 e 93, por um governo democraticamente eleito, um partido Tuaregue foi formado, e mais uma vez a musica desempenha um papel crucial para disciplina da comunidade, agora a “trilha sonora” fala da importância da democracia. Bombino e sua família retornam para Agadez. Seria tão melhor se nossos partidos políticos, no Brasil, ao invés de políticos profissionais, larápios, abrigassem em suas legendas músicos e guitarristas engajados. Em uma viagem para fazer um tratamento médico, na cidade de Niamey, capital do Níger, Bombino encontrou seu tio, Rissa Ixa, um famoso pintor tuaregue, que lhe presenteou com uma guitarra.

Em seu retorno a Agadez, Bombino, se uniu ao partido Tuaregue. Lá conheceu Haja Bebe, melhor guitarrista do partido que lhe deu aulas de guitarra. Em um determinado momento e reconhecendo a virtuose de seu “gafanhoto”, Haja, convidou-o a participar de sua banda. Foi nessa época que Goumor recebeu sua alcunha, Bombino, uma variação da palavra italiana bambino. Afinal ele era o mais jovem membro da banda de Haja. Em abril de 95 é selada a paz entre o governo do Níger e o povo Tuaregue, que podem retornar ao Níger. Foi nesse período, e a contra gosto de seu pai, que Bombino decide viver da música.

Entre idas e vindas, Bombino, retorna ao Níger. Lá deu continuidade em seu trabalho, sua fama cresceu, tocou com músicos locais. Em dado momento uma equipe espanhola de filmagem, ajudou-o a gravar seu primeiro álbum, que estourou na rádio local em Agadez. Era a afirmação que Bombino precisava, em fim, sua escolha pela música foi acertadíssima. Em 2006, pegou a estrada com a banda Tidawt, também do Níger, rumo à Califórnia. Lá gravou uma versão estilo “blues deserto”, do clássico “Hey Negrita”, dos Stones, ao lado de Keith Richards e Charlie Watts. Essa gravação consta no álbum The Rolling Stone Project Volume 2, de 2008. Ainda em 2006, Bombino foi guia de Angelina Jolie em uma visita, de uma semana, ao Níger. No pacote contou suas histórias de deserto e lhe apresentou a música tuaregue.

No ano de 2009, Bombino conhece o cineasta norte-americano, Ron Wyman, que ouviu e se apaixonou pela sua música. Wyman encontrou o músico em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, e o convidou a participar de seu documentário sobre a cultura Tuaregue: “Agadez, the Music and Rebellion”. Wyman, levou Bombino para Cambridge, Massachusetts, para resgistrar seu primeiro álbum internaiconal, Agadez, em seu estúdio caseiro.

No ano seguinte, no início de 2010, Ron foi para Agadez, para finalizar o álbum e o documentário. Os tuaregues levantaram a bandeira branca e puderam retornar para o Níger. Bombino recebeu do sultão de Agadez, pela primeira vez na história permissão para organizar um show da Paz, na base da Grande Mesquita. Uma multidão se reuniu para comemorar o fim do conflito ao som sedutor e engajado de Bombino. Agadez foi lançado em 2011, pela Cumbacha Records e teve aclamação internacional. Entre 2011 e 2012 Bombino excursionou pelo mundo todo, promovendo a culutra e a luta Tuargue.

Com o lançamento de Nomad, em 2013, seu mais apurado trabalho, pela Nonesuch Records, produzido pelo guitarrista e vocalista, Dan Auerbach – The Black Keys; em seu estúdio Easy Eye Sound, Bombino se estabelece como figura relevante da world music. O álbum estreiou em primeiro lugar na Billboard World Music e no iTunes. Recebeu uma enxurrada de elogios. A BBC World Service o definiu como “absolutamente fantástico”. Foi escancaradamente enaltecido pela Rolling Stone que o chama de novo herói da guitarra. Suas apresentações arrebatadoras em shows e importantes festivais como Coachella e Lollapalooza o colocam definitvamente no andar de cima da cena musical mundial.

Os 35 anos de Omar “Bombino” Moctar, se confudem com a longínqua e recente história de lutas e conflitos enfrentados pelos tuaregues. Para ele, a guerra não é solução, a educação que cria uma identidade tuaregue, sim! Bombino é a nova voz que exalta a sua comunidade, a sua cultura e a luta de seu povo, para o Mundo.

Pela primeira vez no Brasil, Bombino, será uma das atrações do festival Mimo 2015, no Rio de Janeiro, dia 14/11, às 22h, no Parque Laje e se apresentará no dia 15/11, às 18h, no Sesc Pinheiros, no Teatro Paulo Autran, em São Paulo. Uma boa chance para que quiser conferir de perto e ao vivo o soar mágico de sua Fender Stratocaster.

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11/11/2015

Gaúcho, de Porto Alegre, vivendo a 15 anos no Rio de Janeiro. Colaborador da Vice Brasil e autor lusófono do portal de mídia cidadã Global Voices.

Fabiano Post