As vidas e obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil se fundem há cinco décadas. Os músicos tem uma amizade que beira a irmandade, fruto de uma relação que começou em 1963, quando eles se conheceram em Salvador.
A dupla confirmou recentemente que está com shows marcados que passarão em 2015 por, pelo menos, três cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Ainda não saíram as datas exatas, mas a expectativa é que outras cidades sejam incluídas no roteiro deles.
No 2º semestre tem turnê NACIONAL “Caetano & Gil -Dois amigos, um século de música”! Cidades confirmadas:RJ,SP e SSA! pic.twitter.com/G8eCt5eosi
— Gilberto Gil (@gilbertogil) March 30, 2015
A turnê #DoisAmigosUmSeculoDeMusica, que percorrerá a Europa em junho, julho e agosto… http://t.co/n3oqDS2mTi pic.twitter.com/dU4CZH36xW — Caetano Veloso (@caetanoveloso) March 31, 2015
Essa turnê talvez seja a última que eles farão juntos e, por isso, pode ser tão histórica quanto as que marcaram sua juventude. A primeira experiência do tipo foi em junho de 1964, quando Caetano, Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé fizeram o show Nós, por exemplo, que agitou a capital da Bahia. No ano seguinte, Caetano, Gal, Bethânia e Tom Zé, tocaram no espetáculo Arena canta Bahia, dirigido por Augusto Boal. E a primeira gravação unindo Gil a Caetano aconteceu três anos depois disso, com Tropicalia ou Panis e1t Circencis (1967). Marco definitivo da música brasileira, o disco-manifesto do movimento tropicalista também contou com participação de Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes, Nara Leão e Rogério Duprat.
Em 1969, pouco após o turbilhão tropicalista, Caetano e Gil foram presos e convidados a se retiraram do Brasil pela Ditadura Militar. Na véspera da viagem que marcaria seu exílio em Londres, a dupla fez uma apresentação lendária no Teatro Castro Alves, em Salvador. Sua banda de apoio era o Leif´s, de Pepeu Gomes, e esse show acabou se tornando o disco Barra 69: Caetano e Gil ao Vivo na Bahia (1972), lançado no ano em que eles voltaram do exílio.
Dois anos depois da volta, em 1974, Gil, Caetano e Gal Costa fizeram uma apresentação no Teatro Vila Velha, em Salvador, que se transformou no álbum Temporada de Verão (1974).
Em 1976, Maria Bethânia se juntou a eles e nasceu o projeto Doces Bárbaros, que lançou um disco duplo ao vivo e fez uma turnê que passou por onze cidades do Brasil. Essa viagem foi registrada no documentário Os Doces Bárbaros (1976), dirigido por Jom Tob Azulay. Uma das cenas mais fortes do filme se passa no dia 7 de julho daquele ano, data em que Gilberto Gil e o baterista Chiquinho Azevedo foram presos em Florianópolis por porte de maconha e mandados para a cadeia pública da capital catarinense. Dois dias depois, eles foram internados no Instituto Psiquiátrico São José, em Santa Catarina, e, no dia 20 de julho, levados ao Sanatório Botafogo, no Rio de Janeiro.
Cinco anos depois, Gil e Caetano participaram do disco Brasil (1981), que os uniu ao João Gilberto. Maria Bethânia também participou de uma faixa do álbum.
No início da década seguinte, em 1991, Caetano e Gil se uniram a Sting, Elton John e Tom Jobim para um show em defesa da floresta amazônica no Carnegie Hall, em Nova Iorque.
Dois anos após isso, a dupla se juntou novamente para fazer um disco homenageando seus 30 anos de amizade. Surgiu então Tropicalia 2 (1993), álbum que motivou uma série de shows juntos. É desse disco a faixa “Haiti”, que ganhou um clipe com os dois músicos.
Naquele mesmo ano, Gil foi homenageado pelo Festival Internacional de Jazz de Montreux no show Gilberto Gil and friends, que contou com Caetano, Gal, Chico Buarque, Dominguinhos e Trio Esperança.
Depois disso tudo, Caetano e Gil acabaram dividindo o palco em algumas outras ocasiões esparsas, principalmente na Europa, mas nenhuma delas se tornou um disco. Quem sabe os shows de 2015 não viram um derradeiro álbum da dupla?