Dono de um sotaque mineiro firme, Ciro Belluci, 22, fez seu sua estreia na última sexta-feira (10) com o disco Recanto (2022), divulgado pelo Selo Sensorial Centro de Cultura. Formado por 12 faixas, sendo 11 delas interpretações de músicas brasileiras, de autores que vão de Rita Lee, Chico Buarque, Gilberto Gil, a Baden Powell e Vinicius de Moraes, o ator e cantor exibe sua bagagem musical fazendo uso da interpretação de faixas de uma maneira suave, como quem domina o que faz.
Contemplado pela Lei Aldir Blanc, em 2021, o artista conseguiu lançar seu projeto ao lado dos músicos Gladston Vieira na bateria, Matheus Duque no saxofone e Pitágoras Silveira no piano. Em papo com a NOIZE, Belluci afirma: “Para o repertório eu fui juntando músicas que me marcaram em algum momento, pensei que queria devolver as faixas para o mundo como uma forma de homenagem.”
Imerso no meio artístico, seja pelos trabalhos no grupo de teatro Ponto de Partida, ou pela formação na Bituca – Universidade de Música Popular, o artista almejava desde os 16 anos se tornar cantor profissionalmente. Dando o ponta pé na sua discografia, Belluci convidou Vanessa Moreno, Zé Ibarra e Nailor Proveta, sendo esse último um dos responsáveis por transformar a canção “Choro Pro Zé” em valiosa interpretação, pelo uso do sopro de saxofone. A presença do baixista Paulo Paulelli, que assina a direção artística, traz o uso dos graves nos acordes remetendo a influências do jazz.
“Assim que ‘Canção Pro Zé’ entrou no repertório eu pensei no Proveta, ele é muito querido, generoso e carinhoso. A gente se ligou várias vezes e ele se mostrou super preocupado, cuidando daquilo como se fosse dele, foi muito doido porque ele é um cara absurdo, muito grande, e que eu cresci ouvindo.”, diz Belluci.
Com as interações presenciais restritas, devido ao cenário pandêmico, o cantor se encontrou com o carioca Zé Ibarra, para a faixa “Beijo Partido”, de Toninho Horta, poucas vezes. “Saber que tinha a abertura do Zé vir a Minas Gerais, eu tentei obviamente e foi lindo. Foi engraçado porque a gente só combinou, e quando ele chegou efetivamente a gente conversou e fomos decidir o tom e outros detalhes. Foi fritando na hora dentro do estúdio, foi intenso, cansativo mas foi muito bom.”, comenta o cantor. A música, sendo a mais longa do álbum, expressa os cantos agudos de Ibarra ao lado da voz eloquente de Ciro.
Residindo em Barbacena (MG), o artista sob direção vocal de Pablo Bertola, propõe uma forma quase teatral de cantar, buscando entender a música para além das notas, tentar transmitir a emoção e o sentimento que aquelas palavras carregam junto aos seus significados. No fechamento do álbum de estreia, o artista dá voz à única música inédita do álbum, “Passageira”, samba de autoria de Bertola e Lido Loschi. ”O Pablo me mandou essa música, pois achava que tinha muito a ver comigo. Fiquei super feliz com o presente. Até certo ponto o disco seria só de releituras e, por conta disso, até cogitei não colocá-la. Como o conceito acabou se transformando em abrir as bagagens e recantar as referências, fazia muito sentido ter uma música do Bertola e do Loschi no meio disso, já que eles são, há um bom tempo, compositores das trilhas originais do Ponto de Partida, que cresci assistindo.”
Seguro de seu trabalho e com convicção do próprio caminho, o multiartista apresenta sua coletânea de referências com desenvoltura e cuidado, em especial nas faixas “Canto de Xangô”, “Zoeira” e “Agnus Sei”. Questionado sobre os comentários do público, Belluci é preciso: “A questão das comparações são óbvias, mas faz parte disso. No momento em que eu escolhi fazer esse repertório isso veio junto, e isso faz parte do conceito também. Para mim tem uma coisa de reavivar essas obras, não falando que elas estejam guardadas ou esquecidas, jamais, mas na minha concepção hoje em dia elas não têm o espaço que deveriam ter. Para mim tem uma forma de defender a música brasileira, de trazer de volta um pouco isso que é muito importante mas que hoje em dia, em grande escala, não seja tão valorizada.”, conclui.
LEIA MAIS ENTREVISTAS