Fotos: Ariel Fagundes
A cada edição, o El Mapa de Todos reforça a integração iberoamericana que prega. Abraçando ainda mais a cidade, os shows dessa vez foram distribuídos em quatro espaços de Porto Alegre, uma das capitais brasileiras mais hermanas e centro de confluência de culturas latinas.
Dos clássicos Bar Ocidente e Theatro São Pedro o festival retornou nesta quarta-feira ao seu berço, o Bar Opinião. O clima foi de encontros e troca de ideias, e a trilha sonora eclética, explorando da cumbia eletrônica do Bomba Estereo ao rock soturno do Buenos Muchacos.
Os Skrotes começaram cedo e, por isso, pouca gente conseguiu curtir o show inteiro deles. Que pena. Fernando Rosa, o SenhorF e idealizador do El Mapa, fez questão de apresentar todas as bandas antes de subirem ao palco. Na vez dos Skrotes, ele chamou uma das melhores bandas instrumentais da atualidade no Brasil. “Vocês vão ver agora o porquê”, disse. Eis que a formação inusitada entra em cena pra surpreeender os poucos que tinham chegado ao Opinião às 21h. Guilherme Ledoux na bateria, Chico Abreu no baixo e Igor de Patta nos sintetizadores e teclado, todos com fome de fazer som.
Músicas que você não sabe onde vão dar e que constroem uma narrativa, sem mencionar uma palavra. Como a música instrumental deve ser. A sintonia do trio se sentia pelos tempos e contratempos e nas conversas entre os intrumentos. Sem deixar de lado as mais conhecidas, como “Baixa Ajuda”, o show ainda teve a participação especial de Tonho Crocco. Enganou-se quem pensou que o vocalista do Ultramen iria pegar o microfone e soltar algumas rimas, que combinariam com o som do Skrotes. Em vez disso, Tonho Crocco saiu da zona de conforto e agregou à apresentação as vozes robóticas produzidas pelo talk box, ou voice talk, um instrumento usado e abusado por funkeiros norte-americanos nos anos 80, como Roger Troutman.
Mal o show do trio havia acabado e os roadies rapidamente já haviam estruturado o palco para a próxima banda, e isso se repetiu até o final da noite. E olha que a organização das bandas no palco alternava sempre. Ponto para o El Mapa.
No público, durante o show do Skrotes, estavam três homens de bandana no pescoço e camisa. Exagerados, logo pensei que deveriam ser de alguma banda. Acertei: faziam parte do Molina y Los Cósmicos, grupo uruguaio que acabou dando uma acalmada no público depois dos Skrotes com seu folk simples e cativante. As três guitarras no palco ficou um pouco demais, mas a doce voz de Emma Ralph e a liderança de San Nícolas mostraram ao público um belo exemplo de um som leve que, ultimamente, tem sido bastante usado por bandas no Uruguai de Mujica. País que, segundo Fernando Rosa, é um dos primeiros com os quais o Brasil deveria estreitar relações, por estar logo aqui do lado.
Depois de canções queridas como “En el Camino del Sol” e “Gallo de Kentucky”, todas do disco de estreia El Desencanto (2014), o Molina y Los Cósmicos encerrou o show com uma homenagem ao nosso Raul Seixas. Há 25 anos, o maluco beleza nos deixou, e a lembrança da banda foi com “Cowboy Fora da Lei”, que contou com a participação no palco dos músicos porto-alegrenses Santiago Neto, Clarissa Mombelli o Alex Vaz.
Diretamente de Bogotá, o Bomba Estereo era a atração mais esperada da noite e entregou um show além das expectativas do público. O quarteto colombiano colocou o Opinião abaixo com sua cumbia moderna, que mistura batidas eletrônicas com as orgânicas de Kike Egurrola. A pequena Liliana Saumet se transformou em uma gigante em cima do palco e coordenou uma catarse que a qualquer momento corria o perigo de explodir. A performance da vocalista que somou-se à expressividade do guitarrista Julián Salazar e a pancadaria na bateria fizeram o público redescobrir os movimentos requebrados do quadril e colocá-los em prática. Até nas canções mais tranquilas, como “El Alma y El Cuerpo”, Bomba Estereo é puro ritmo.
A banda lembra muito o som do Buraka Som Sistema – não perde a entrevista exclusiva com eles na próxima ediçao da Revista NOIZE impressa que vem acompanhada do vinil da Banda do Mar -, que em vez da cumbia usa o kuduro em seu ritual de dança. A mesma receita para uma integração completa entre plateia e artista. Não é por acaso que os dois grupos gravaram a faixa “Mozo” juntos.
Depois de bombardear o pessoal com as explosões de “Qué Bonito”, “Bailar Conmigo” e “Pájaros”, o Bomba Estereo foi convocado a voltar ao palco e continuar a festa que só tinha começado para o público.
Os sergipanos do Coutto Orchestra tiveram a difícil missão de manter a galera com palpitações acima dos 100 batimentos por minuto. Mas deixar a principal atração para a metade da noite fez com que o público começasse a esvaziar aos poucos depois do Bomba Estereo. Mas o Coutto Orchestra não deixou por menos: trouxe o melhor do Nordeste em um instrumental dançante. Até “Pagode Russo”, de Zeca Baleiro, entrou pra mistura de sonoridades da banda.
Já era tarde pra quem levanta cedo, mas o baixo do Buenos Muchachos acordou o público que ainda restava. Em contraste com o folk suave do Molina y Los Cósmicos, os também uruguaios do Buenos Muchachos mostraram um rock mais introspectivo do que conhecemos das bandas clássicas do país como El Cuarteto de Nos. De melodias soturnas, a banda liderada por Pedro Dalton lançou em 2004 uma das obras mais importantes do rock uruguaio, o disco Amanecer Búho, e Fernando Rosa não tinha dúvidas que seria uma experiência enriquecedora conhecer o som deles.
O El Mapa continua hoje e amanhã, com shows de Juvenil Silva, Mundo Livre S/A, Camila Moreno (Chile), Boogarins e muito mais. Fique ligado que amanhã tem mais El Mapa na NOIZE. Veja a programação completa do El Mapa aqui.
Quer saber como foi a abertura do festival no Ocidente com o colombiano Andrés Correa? Vem aqui.