Fotos: Traumas Video/Divulgação
Canaã dos Carajás é novo momento, novas emoções
Depois das apresentações inesquecíveis e de ótima energia nos shows de Natália Matos, Antonio Novaes e Projeto Secreto Macacos em Parauapebas e Curionópolis, entraram em cena Pedrinho Callado, Allan Carvalho, Larissa Leite, Camila Honda e Molho Negro. O destino: Canaã dos Carajás e Marabá.
As três primeiras atrações, que chegaram a Parauapebas e Curionópolis, são formadas por uma galera que, embora tenham trabalhos distintos, dialogam mais diretamente em suas produções. São artistas de trajetórias próximas e que galgam ainda em direção ao primeiro CD.
Já nesta segunda etapa, o hibridismo foi além dos estilos musicais. A nova equipe de músicos que chegou ao sudeste do Pará formou-se com cantores e compositores de três gerações. Pedrinho Callado e Allan Carvalho, que trazem consigo uma produção que se acentua com uma música brasileira de sotaque paraense, possuem um tempo maior de estrada. São músicos que vêm dos anos 1980. Pedrinho já tem CDs lançados. Allan ainda vai lançar o seu solo, mas tem inúmeras participações em outros trabalhos fonográficos.
Larissa Leite e Camila Honda pertencem a mais nova geração de cantoras do emergente cenário musical paraense. No palco que dividiram, elas foram acompanhadas por músicos mais experientes do que elas, que se mesclam nas origens de suas carreiras, datadas entre o final dos anos 1990 e meados da primeira década dos 2000.
O guitarrista Leo Chermont e o baterista Arthur Kunz, por exemplo, são da Strobo, banda que vem circulando pelo país, principalmente, com shows em São Paulo e Rio de Janeiro. Também complementando a banda base das meninas, Maurício Panzera, que também já integrou várias bandas, como a Clepsidra, e acompanha e grava com outros artistas.
Já a banda Molho Negro representa, e muito bem diga-se de passagem, a geração autoral recente de roqueiros de uma cena independente de Belém. São ousados, com ótimas letras, além da performance arrebatadora no palco. A banda já tem atuações marcantes na cena. Em 2012, por exemplo, a banda lançou o clipe da música “Aparelhagem de Apartamento”, em que brinca com DJ Cremoso, Gaby Amarantos, Gang do Eletro e as festas de aparelhagem.
A música integra o primeiro EP do grupo, disponível na internet e que vem tocando nas rádios, mas na versão cantada por Camila Honda, que ganhou a música de presente do guitarrista João Lemos. Ela foi apresentada no último Terruá Pará, não só por Camila, mas também por Sammliz (Madame Saatan) e Natália Matos.
Cidade recebeu o projeto em grande estilo
A primeira parada deles foi Canaã dos Carajás, na quinta-feira, 15 de maio. O município, que possui expressiva indústria de extração mineral, está em uma expansão urbana sem fim, que já sobe por seu relevo montanhoso, a perder de vista. A população, assim como em todas as demais cidades pautadas nesta edição, no sudeste paraense, é bem diversa, formada por pessoas de muitos lugares do país, principalmente maranhenses, goianos, mas também paulistas e cariocas. Costumamos dizer que tem até paraense em Canaã, a terceira cidade a receber o Música na Estrada. E que recepção. A noite surpreendeu.
A lua cheia que iluminou a Praça Irmã Adelaide, situada bem no centro da cidade, alumiou também os músicos, que fizeram apresentações resplandecentes. O público lotou cada centímetro da praça para ver nossos artistas, causando “espécie” até em algumas autoridades ligadas à cultura do município. Pensou-se que com a tradição da música sertaneja e “Lepo Lepo” parecem imperar na região, ninguém daria bola pra nossa proposta autoral. Ledo engano. Felizmente, vimos que é só uma impressão.
A população compareceu em peso e a plateia se mostrou entusiasmada com a programação. Iniciamos com a apresentação do cantor Del, morador de Canaã, que fez um repertório de canções brasileiras que o influenciam. Em seguida, veio o grande show do grupo Raízes Paraoara, que colocou todo mundo para dançar o bom carimbó de raiz.
Os shows dos artistas selecionados pelo edital do Música na Estrada iniciou com Pedrinho Callado e Allan Carvalho, que embalaram o público com seus ritmos dançantes e canções leves, com guitarradas, mais carimbó, dentro de repertórios autênticos.
E viva o rock’n roll
A banda Molho Negro subiu ao paco da carreta, em seguida, revelando os roqueiros da cidade, sufocados e sem espaço na região. Eles se manifestaram e alguns vieram nos dizer que a partir de agora, não vão mais desistir de fazer música autoral e que vão exigir mais respeito no município.
A banda não veio completa para o Música na Estrada, o baixista Raony deu lugar à Camilo Royale, que integra outra banda, da mesma geração, a Turbo. Veio ainda, como roadie, Neto, também baterista da Turbo.
Na plateia, os muitos jovens de preto sobressaíram e chegaram a subir no palco, enquanto a Molho Negro de apresentava. Deram um show à parte, provando o quanto o rock’n’roll é universal.
A noite fechou com Larissa Leite e Camila Honda, que mostraram o repertório de seus primeiros CDs, a serem lançados este ano. As meninas foram aplaudidas por sua música e beleza. Cantaram sob os flashes das câmeras fotográficas dos indefectíveis celulares, na mão de cada roqueiro.
A primeira noite da segunda etapa foi esfuziante, recompensadora. Foi o primeiro grande público desse circuito, melhor que em Parauapebas, onde choveu muito e Curionópolis, cuja comunidade, mais pacata, curtiu sentadinha, a maioria das apresentações, mas que após os shows também se manifestou, procurou os artista para dizer que gostaram.
Em Canaã, por isso, ficou provado: a música autoral feita no Pará é bem vinda no município, e que o público quer sim novos ritmos, deseja sair da mesmice com inovações musicais, está aberto a este tipo de iniciativa e que, na verdade, querem é mais. Os roqueiros e demais pessoas presentes agradeceram a chegada do Música na Estrada. Acesse a nossa página no facebook e você vai ver declarações, curtições e muitas imagens que não me deixam mentir!
Muito chão, esforço e bons retornos ao longo da estrada
É assim que esta quarta edição segue viagem em sua jornada pelo sudeste do Pará e, uma das coisas que tem impressionado nesses circuitos é a sua capacidade de oxigenar os ânimos, em meio a um trabalho árduo de produção, montagem e desmontagem da carreta palco e toda a sua estrutura de luz e som.
Vale dizer que esta carreta tem 14 metros de comprimento, garantindo um palco livre de 10x5m, além de um pequeno camarim. O sistema de som é digital e a luz conta com 10 movings, 20 refletores par led, refletores par 64, estruturas de alumínio, etc. Na sonorização, há mesas Yamaha digitais M7 e LS9.
Então, é preciso que tudo funcione perfeitamente. Os cuidados são inumeráveis e garantem o bom espetáculo, tanto para o público, quanto para os artistas envolvidos. E esse clima de envolvimento é tão bom que, com todo o cansaço, nossos guerreiros, os que pegam no pesado pra garantir esta estrutura, se mantêm firmes, se nutrindo de música e dos resultados positivos que o projeto vem alcançando.
Agora é #partiuMarabá, a maior das cidades do circuito, nos, na praça São Félix, localizada na orla, à beira do rio Tocantins.
*Luciana Medeiros é jornalista, produtora cultural e escreve para o blog Holofote Virtual sobre produção cultural no Pará