Responsável por agitar a pista da segunda edição do NRC Ao Vivo, a DJ Linda Green apresentou um set em vinil recheado de pérolas da música brasileira. Do axé, ao samba e à MPB, a sua pesquisa abraça diferentes sonoridades. “Costumo brincar que eu só não toco hard techno e sertanejo. De resto, dou um jeito”, divide a artista.
Antes de adotar a alcunha Linda Green, a produtora cultural brasiliense Cecília Lindgren vivia na noite. Quando estudava ciências da computação na faculdade, ela dividia o tempo como organizadora de eventos do centro acadêmico da UnB: “Já trabalhei em caixa, espalhei panfletos pela cidade, fui hostess, passei por todas as partes da produção”.
O caminho até o palco teve altos altos e baixos, mas se tornou realidade há uma década. “A primeira vez que pensei que queria ser DJ foi em 2007, mas quando era mais nova, não tinham muitas DJs mulheres. Foi em 2014 que vi mais meninas se apresentando e os softwares ficaram mais acessíveis”.
Inclusive, foi com o apoio das amigas que ela migrou para a discotecagem em vinil. Já morando em São Paulo, a DJ circula pelo circuito que inclui nomes como Mari Rossi, Andrea Gram, Pensanuvem e Cecyza. Nos últimos anos, vem destacando a presença feminina por meio do projeto House of Divas, festa itinerante com line-up formado apenas por mulheres.
A arte do disco: 10 mulheres que discotecam com vinil
“A batalha continua para as mulheres. Está mais fácil do que era há 30 anos? Sim, mas ainda é difícil achar lugar para discotecar”, reflete sobre a cena paulistana. Outro fator determinante para o cenário atual foi a pandemia, pois os novos espaços não dão conta da oferta de talento disponível.
“Você sacode uma árvore e caem uns 35 DJs. Ao mesmo tempo em que muitos lugares fecharam na pandemia, vemos muito mais gente se tornando DJ”, afirma Linda Green.
A última década marcou um momento de efervescência da noite paulistana, mas essa realidade foi transformada com as mudanças de comportamento. “Sinto que a cidade está muito mais careta. Hoje em dia, as pessoas saem mais cedo, bebem menos e gostam de festivais diurnos”, pontua a DJ.
Arte do garimpo
Para ela, o próprio colecionismo de vinil mudou com a chegada das novas gerações, que inflacionaram os valores dos discos. Os LPs herdados da infância dividem espaço com a música contemporânea. Para encontrar novidades, ela busca na loja Pindorama Discos, no bairro da Pompeia, e pelo Discogs, quando consegue importar raridades internacionais.
O ecletismo vem dos tempos em Brasília: “Eu ia na festa que tinha no dia, era reggae, ska, samba, música eletrônica. A minha formação é bem aberta, então tenho prateleiras de pop rock, música nordestina, samba, MPB, funk, house, tecno, soul e r’n’b”.
Na hora de colocar o público para dançar, há algumas músicas coringas, caso dos hinos da disco music: “Funkytown”, da Lipps Inc, e “I Feel Love”, da Donna Summer. Já das nacionais, “Estrelar”, do Marcos Valle, “Eu Bebo Sim”, de Elizeth Cardoso, e das mais recentes, o remix de “Construção”, do L_Cio.
Mesmo com os desafios da profissão, ela não se vê traçando outro caminho. “Eu odeio amar a festa. Sou festeira. Sinto saudades de como as coisas eram antes da pandemia, mas as coisas se transformam. O passado não volta ao que era antes. Eu também mudei, mas não quero assumir. Virei meio desistente clubber, do que resistente (risos)”.