Do Congado Mineiro aos quilombolas do Jequitinhonha

20/11/2024

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Anna Bernardes

Por: Anna Bernardes

Fotos: Francielle Cota

20/11/2024

As manifestações culturais dos quilombolas da região do Vale do Jequitinhonha (MG) são consideradas um Patrimônio Cultural Imaterial. A música é um fator agregador e identitário dessas comunidades. Sendo assim, a preservação das tradições musicais na região e o resgate das memórias é extremamente valioso para a preservação das comunidades e do legado cultural, que resiste desde a época da exploração do ouro, no século XVIII.  

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Sérgio Fogaça, jornalista e pesquisador, que coordenou, em 2017, junto com Evanize Sydow, o livro Quilombos do Vale do Jequitinhonha: Música e Memória, acredita que um elemento presente em toda a musicalidade mineira é a originalidade:

“Enquanto o Rio se firmou nas variações do samba e do choro, e São Paulo, cosmopolita, sempre teve um pouco de tudo como vocação, Minas ia inventando com mais liberdade na antropofagia musical do Clube da Esquina e outras vertentes, inclusive instrumentais, além de agregar a base percussiva dos tambores mineiros”

Nas comunidades quilombolas, diversas manifestações culturais afro-brasileiras se misturaram e seguem resistindo. A Folia de Reis, por exemplo, foi trazida pelos portugueses, mas incorporada e adaptada pelos quilombolas. A festa popular ocorre entre os dias 24 de dezembro e 6 de janeiro e é uma tradição fortíssima observada por todo o Vale do Jequitinhonha e em diversas cidades de Minas Gerais.

São dias muito festivos e de ampla confraternização. Considerando que, por conta da falta de trabalho, muitos mineiros do Jequitinhonha precisam passar o ano fora, trabalhando em outras localidades do estado e até fora dele, a Folia de Reis ganha ainda mais importância por unir as comunidades, suas populações e confraternizar em torno da fé, da festa, da devoção e do sincretismo religioso.

Congado e resistência

O Congado ou Reinado Mineiro é outro Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro. A festividade secular persiste resgatando história e revigorando a grandiosidade da cultura afro-brasileira. Ela acontece em diversas cidades do estado, de norte a sul. A atividade popular possui uma diversidade de matrizes, com influências ibéricas católicas.

As celebrações são animadas por meio de danças, músicas e batuques de zabumba. A manifestação celebra a coroação do Rei do Congo e da Rainha Ginga de Angola com a presença da corte e de seus vassalos. O Congado, em Minas Gerais, é tão forte que sobrevive há mais de 200 anos. 

Já na capital mineira, há 20 anos foi criado o Espaço Tambor Mineiro pelo cantor, compositor, percussionista e ator Maurício Tizumba. O espaço nasceu para sediar os ensaios de uma peça teatral, mas Tizumba acabou aproveitando o galpão para dar aulas, formando alguns grupos de alunos. Hoje, o espaço se consagra como um centro de referência da cultura afro-brasileira, abrigando projetos de artes cênicas, música e festejos do congado. Tizumba também é idealizador do Festejo Tambor Mineiro, projeto ligado à percussão afro-mineira. 

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 120 da revista NOIZE, lançada com o vinil De Primeira, da Marina Sena, em 2022.

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20/11/2024

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