A cena da música eletrônica em Minas Gerais segue a pleno vapor. Beagá já está consagrada como uma das pistas mais quentes do País.
Lançada em maio de 2020 pelo selo de música eletrônica Gop Tun, a websérie Cidades Eletrônicas fez um registro visual da cena eletrônica contemporânea independente de cinco capitais brasileiras: Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte. O episódio “Xia Menos”, em BH, traz um panorama da cena de música eletrônica com suas festas-manifestos, que ocupam espaços públicos e cultuam a liberdade dos corpos.
Referência na noite de BH, o Deputamadre Club se destaca na cena eletrônica local por sua programação composta pelos principais DJs de renome nacional e internacional. Ele surgiu para inicialmente ser um bar, mas por ter som demais na pista, o Deputa se tornou reduto do eletrônico em BH, aproximando as pessoas que gostam de psy, house e minimal techno desde 2003.
Por sua vez, existem pessoas que gostam de eletrônico, mas que não se identificam com os clubes. Elas se uniram e criaram uma nova cena dentro da cena, com pautas muito mais plurais sobre diversidade e mobilidade urbana. Os integrantes do coletivo Masterplano são os clubbers da esquina. Desde 2015, os encontros do coletivo articulam música, arte e temáticas que atravessam essas experiências – como ativismo de gênero, sexualidade, territórios e a própria forma de produção. Por meio de apresentações em festas e festivais de música eletrônica, o Masterplano segue ativando espaços na capital mineira e redescobrindo a cidade.
Também chama atenção a Mientras Dura, festa itinerante e multicultural que articula ritmos do mundo, performances artísticas e intervenções visuais, em uma experiência sensorial completa. A primeira edição aconteceu em 2015.
A primeira edição da 101Ø também aconteceu em 2015, com baixíssimo orçamento e apenas a luz da pista. O objetivo era pagar o aluguel do apartamento onde os integrantes moravam na Rua da Bahia, 1010. A história da festa/produtora/selo começou no coração do centrão de BH e perpassa os viadutos e espaços inusitados da capital com a presença de DJs mineiros e de todo o mundo. Além de ser um espaço musical, a pista pulsante da 101Ø respira liberdade e comunhão entre todes participantes.
De acordo com Izabela Egídio, uma das produtoras da 101Ø, o que motiva o coletivo é poder dar visibilidade para artistas que estão começando e “dessudestizar” a cena. A 101Ø nasceu por meio de um interesse em comum de poder arejar a cena underground de música eletrônica em BH.
“Geralmente, nos line-ups a gente sempre vê uma galera do Sudeste e do Sul. A gente quer mostrar para as pessoas que o Brasil vai muito além do Sudeste. Em 2015, era todo mundo em uma festa só, em um coletivo só. Acabamos nos separando, mas a gente continua unido, se ajudando e colaborando um com o outro. Acho que esse é o diferencial da cena daqui. Nós mineiros temos um jeito diferente de lidar com as pessoas. Somos acolhedores, solícitos e isso acaba refletindo no nosso trabalho e nos nossos interesses”, declara Izabela.
Por fim, o Galla é um projeto-coletivo que se define como uma plataforma sonora e visual de políticas latino-americanas entre o céu e o inferno. O Galla surgiu em 2018 e, assim como o Masterplano, a Mientras Dura e a 101Ø, segue o desejo da reconstrução de espaços e destruição de estruturas limitantes em Belo Horizonte.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 120 da revista NOIZE, lançada com o vinil De Primeira, da Marina Sena, em 2022.
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