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core/freeform

O Deserto do Saara cobre mais da metade do território do <strong>Mali</strong>, já a música cobre o país inteiro. Essa nação do norte africano reúne uma quantidade imensa de gêneros que nasceram a partir do desenvolvimento de instrumentos artesanais, como, por exemplo, a <strong>kora</strong> (uma espécie de alaúde com 21 cordas muito popular na África ocidental). O curioso é que há uma forte relação entre a música típica do Mali e a sonoridade do blues dos Estados Unidos - tanto que existe o termo "desert blues" para se referir a esse som. <strong>Ali Farka Touré</strong>, chamado de "John Lee Hooker africano", talvez tenha sido o mais famoso artista dessa vertente, mas a lista de músicos importantes para esse cenário é extensa. O casal de cegos <strong>Amadou & Mariam</strong>, que inclusive fez um disco com <strong>Manu Chao</strong>, está inserido nesse contexto, assim como as dezenas de artistas que participam do projeto <strong>Africa Express</strong>, capitaneado por <strong>Damon Albarn</strong>.       

Aos 73 anos, <strong>Boubacar Traoré</strong> é amigo de todos esses músicos e é também uma lenda da música do Mali. Em novembro, ele virá ao Brasil pela primeira vez para se apresentar no <strong>Rio de Janeiro</strong> e em <strong>Olinda</strong> como parte da programação do <strong><a href="http://mimofestival.com" target="_blank">Festival MIMO</a></strong>. Traoré está vindo divulgar seu álbum mais recente, <em>Mbalimaou</em> (2015), um dos poucos que ele gravou, apesar de sua carreira remontar os anos 1960. "Logo que comecei, fiquei muito popular rapidamente. Foi na época da independência, era 1962 e ouvia-se de tudo nas rádios do Mali. Eu me senti muito privilegiado por fazer sucesso naquela época", contou em uma rápida entrevista à <strong>NOIZE</strong>. 

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O Mali só deixou de ser uma colônia da França em 1960 e Boubacar se lançou na música bem nesse momento. Gravar um disco naquela época era praticamente impossível no Mali, mas Traoré consegiu registrar no estúdio de uma rádio as faixas <strong>"Mali Twist"</strong> e <strong>"Kayes Ba"</strong>, que estouraram no país. O músico ficou conhecido pelo apelido de <strong>Kar Kar</strong>, que significa algo como "aquele que dribla muito" na língua bambara, pois, além de músico, ele também jogava futebol.     

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Acontece que a estabilidade política durou pouco no Mali e a carreira de Boubacar sofreu com isso. Em 1968, o presidente <strong>Modibo Keïta</strong> foi deposto por um violento golpe militar de <strong>Moussa Traoré</strong> (militar que ficou no poder até 1991). Associado ao curto período de democracia independente, Boubacar perdeu espaço e acabou tendo que se afastar da música profissional por décadas. Ele deixou a capital Bamako e voltou para sua cidade natal, Kaynes, onde sobreviveu trabalhando como comerciante. Muitas pessoas se chocaram quando o viram em um programa de TV no Mali em 1987, pois, na época, circulava a história de que ele haveria morrido. 

Depois dessa ocasião, Traoré foi morar na França onde, após um tempo trabalhando na construção civil, foi descoberto por um produtor inglês que o ajudou a gravar seu primeiro disco, <em>Mariama</em> (1990). "Mesmo depois de tudo que aconteceu, nunca perdi a minha identidade. Minha música reflete a minha personalidade e a minha trajetória. Até hoje, quando as pessoas escutam uma canção minha, percebem logo que é o 'Kar Kar'", comenta.           

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Atualmente, <strong>Boubacar Traoré</strong> é um dos maiores símbolos da riqueza musical do Mali. Mesmo que o país esteja sendo alvo de conflitos sangrentos entre grupos que apoiam e combatem o governo atual por questões políticas, étnicas e religiosas, Boubacar é muito otimista sobre o futuro do Mali e de sua cultura única: "Foi a nossa música que nos levou a fazer sucesso fora do país, continuamos em turnê e isso ajuda o Mali a ser conhecido lá fora. Existem grupos radicais que agem com violência, mas não os acompanho muito porque estou sempre em turnê. O avanço da violência está em todo lugar e não só no Mali. Isso não afeta minha música. Temos muito esperança porque a música vai muito bem".

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<em>Em 2015, o <strong>Festival MIMO</strong> acontece em Paraty (de 2 a 4/10), Rio de Janeiro (13 a 15/11) e em Olinda (20 a 22/11). Acompanhe a programação completa do evento aqui: <a href="http://www.mimo.art.br  " target="_blank">www.mimo.art.br</a> </em>   

<p>O Deserto do Saara cobre mais da metade do território do <strong>Mali</strong>, já a música cobre o país inteiro. Essa nação do norte africano reúne uma quantidade imensa de gêneros que nasceram a partir do desenvolvimento de instrumentos artesanais, como, por exemplo, a <strong>kora</strong> (uma espécie de alaúde com 21 cordas muito popular na África ocidental). O curioso é que há uma forte relação entre a música típica do Mali e a sonoridade do blues dos Estados Unidos &#8211; tanto que existe o termo &#8220;desert blues&#8221; para se referir a esse som. <strong>Ali Farka Touré</strong>, chamado de &#8220;John Lee Hooker africano&#8221;, talvez tenha sido o mais famoso artista dessa vertente, mas a lista de músicos importantes para esse cenário é extensa. O casal de cegos <strong>Amadou &#038; Mariam</strong>, que inclusive fez um disco com <strong>Manu Chao</strong>, está inserido nesse contexto, assim como as dezenas de artistas que participam do projeto <strong>Africa Express</strong>, capitaneado por <strong>Damon Albarn</strong>.       </p>
<p>Aos 73 anos, <strong>Boubacar Traoré</strong> é amigo de todos esses músicos e é também uma lenda da música do Mali. Em novembro, ele virá ao Brasil pela primeira vez para se apresentar no <strong>Rio de Janeiro</strong> e em <strong>Olinda</strong> como parte da programação do <strong><a href="http://mimofestival.com" target="_blank">Festival MIMO</a></strong>. Traoré está vindo divulgar seu álbum mais recente, <em>Mbalimaou</em> (2015), um dos poucos que ele gravou, apesar de sua carreira remontar os anos 1960. &#8220;Logo que comecei, fiquei muito popular rapidamente. Foi na época da independência, era 1962 e ouvia-se de tudo nas rádios do Mali. Eu me senti muito privilegiado por fazer sucesso naquela época&#8221;, contou em uma rápida entrevista à <strong>NOIZE</strong>. </p><div id="videoAd">*</div><br><script type="text/javascript">var t = "//des.smartclip.net/ads?type=dyn&plc=90854&sz=400x320&elementId=videoAd";t += "&ref=" + encodeURIComponent(window.top.document.URL);t += "&rnd=" + Math.round(Math.random()*1e8);var s = document.createElement("script");s.type = "text/javascript";s.src = t;document.body.appendChild(s);</script>
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<p>O Mali só deixou de ser uma colônia da França em 1960 e Boubacar se lançou na música bem nesse momento. Gravar um disco naquela época era praticamente impossível no Mali, mas Traoré consegiu registrar no estúdio de uma rádio as faixas <strong>&#8220;Mali Twist&#8221;</strong> e <strong>&#8220;Kayes Ba&#8221;</strong>, que estouraram no país. O músico ficou conhecido pelo apelido de <strong>Kar Kar</strong>, que significa algo como &#8220;aquele que dribla muito&#8221; na língua bambara, pois, além de músico, ele também jogava futebol.     </p>
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<p>Acontece que a estabilidade política durou pouco no Mali e a carreira de Boubacar sofreu com isso. Em 1968, o presidente <strong>Modibo Keïta</strong> foi deposto por um violento golpe militar de <strong>Moussa Traoré</strong> (militar que ficou no poder até 1991). Associado ao curto período de democracia independente, Boubacar perdeu espaço e acabou tendo que se afastar da música profissional por décadas. Ele deixou a capital Bamako e voltou para sua cidade natal, Kaynes, onde sobreviveu trabalhando como comerciante. Muitas pessoas se chocaram quando o viram em um programa de TV no Mali em 1987, pois, na época, circulava a história de que ele haveria morrido. </p>
<p>Depois dessa ocasião, Traoré foi morar na França onde, após um tempo trabalhando na construção civil, foi descoberto por um produtor inglês que o ajudou a gravar seu primeiro disco, <em>Mariama</em> (1990). &#8220;Mesmo depois de tudo que aconteceu, nunca perdi a minha identidade. Minha música reflete a minha personalidade e a minha trajetória. Até hoje, quando as pessoas escutam uma canção minha, percebem logo que é o &#8216;Kar Kar'&#8221;, comenta.           </p>
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<p>Atualmente, <strong>Boubacar Traoré</strong> é um dos maiores símbolos da riqueza musical do Mali. Mesmo que o país esteja sendo alvo de conflitos sangrentos entre grupos que apoiam e combatem o governo atual por questões políticas, étnicas e religiosas, Boubacar é muito otimista sobre o futuro do Mali e de sua cultura única: &#8220;Foi a nossa música que nos levou a fazer sucesso fora do país, continuamos em turnê e isso ajuda o Mali a ser conhecido lá fora. Existem grupos radicais que agem com violência, mas não os acompanho muito porque estou sempre em turnê. O avanço da violência está em todo lugar e não só no Mali. Isso não afeta minha música. Temos muito esperança porque a música vai muito bem&#8221;.</p>
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O Deserto do Saara cobre mais da metade do território do Mali, já a música cobre o país inteiro. Essa nação do norte africano reúne uma quantidade imensa de gêneros que nasceram a partir do desenvolvimento de instrumentos artesanais, como, por exemplo, a kora (uma espécie de alaúde com 21 cordas muito popular na África [&hellip;]

Entrevista | Boubacar Traoré, um herói africano

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