Há vida inteligente no cenário da música eletrônica no Brasil.
Os irmãos paulistanos Murilo Faria (DJ Mura) e André Faria, cabeça da banda de rock alternativo Faria & Mori, acabaram se juntar num projeto dedicado às pistas de dança. O duo ALDO acabou de lançar o seu primeiro álbum, chamado “Is Love”, e tem sido considerado, por críticos e especialistas, “a coisa mais interessante de 2013 até o momento”.
E se “Is Love” tem chamado a atenção pela audácia em miturar instrumentos básicos com programações e muitos sintetizadores, o ALDO está com tudo pronto para colocá-lo em cima do palco também. O show de estreia do álbum será realizado na próxima sexta-feira, dia 28, a partir das 22h, na Casa do Mancha, em São Paulo.
Foi para falar sobre o disco e sobre future do projeto que conversamos com André Faria.
No dia 28 de junho, será realizado o show de lançamento do CD “Is Love”. Como será para colocar o álbum no palco? Vocês serão apenas DJs ou teremos também uma banda os acompanhando?
Ao vivo quisemos manter o lado mais orgânico do disco, com as linhas de baixo e guitarras tocadas. Hoje temos a sorte de ter dois grandes caras com a gente. O primeiro é o baterista Érico Theobaldo, cabeça do Embolex e do Thelepatiques, que junto com a bateria integra mpc e efeitos, dando um peso extra. No baixo decidimos convidar o Isidoro Snake Cobra, amigo de longa data e ex-baixista do Jumbo Elektro, que estava sem tocar há 3 anos. Para nossa surpresa ele aceitou e não poderia ter sido melhor.
Há quem tenha considerado o disco de vocês “a coisa mais interessante de 2013 até o momento”. Como está a repercussão dele, mesmo depois de tão pouco tempo de lançamento?
Está sendo muito, muito legal. Quando se tem um projeto independente como o ALDO, o que nos move e nos alimenta são as críticas, elogios e parcerias. E antes mesmo do lançamento oficial algumas portas acabaram naturalmente se abrindo, desde convites bem legais para shows no segundo semestre até uma parceria bacana com a Red Bull Music Academy.
“Is Love” passa a impressão de que ele é um disco bastante pessoal, que fala sobre a vida de vocês mesmo. Até que ponto isso ocorre? Até que ponto o que está no disco é realidade e não só ficção?
A banda se chama ALDO em homenagem ao nosso tio, um ex-doidão da década de 80 que anos atrás nos levava para “passear” pelo lado mais casca grossa de São Paulo, mexendo com as meninas da Rua Augusta e apostando rachas de carro com seu Santana Sport vermelho pela Marginal Pinheiros. O lance é que éramos muito novos – eu tinha 12 anos e meu irmão 8. Todas as músicas e letras falam, de alguma maneira, dele e dessas histórias. Hoje o nosso tio Aldo é evangélico, mas adora o som. A primeira música “Aldo is a Real Person” é justamente porque queríamos dizer que tudo isso é de verdade.
O disco foi gravado e produzido por vocês mesmos. Vocês tem o intuito de trabalhar de maneira independente para sempre? Ou há a possibilidade de vocês procurarem uma alguma parceria para um próximo disco?
Eu e meu irmão somos bem abertos em relação a isso, mas temos um princípio claro: nossas parceiras são sempre baseadas numa sintonia de valores, som e atitude. Se eventualmente acontecer algo bacana, que nos permita manter esse espírito independente e ao mesmo tempo ajude a colocar nossas idéias de pé, vamos adorar.
No “encarte”do álbum há um agradecimento ao Tio Aldo, por “ter nos mostrado o poder de um novo começo”. Isso tem alguma relação com a vida profissional de vocês? O ALDO é mesmo uma nova etapa na vida de Mura e André?
No final das gravações eu e meu irmão brigamos bastante. Ficamos 3, 4 meses sem nos falar. Sabe como são os irmãos… Depois que fizemos as pazes, decidimos começar essa nova etapa, lançando o disco a qualquer custo, dando risada e curtindo cada passo.
O cenário da música eletrônica é bastante forte no exterior, principalmente no Reino Unido. O que vocês pensam sobre a música eletrônica que é feita no Brasil?
Tem muita coisa boa sendo feita por aqui, apesar do mercado ser obviamente menor. Stop Play Moon, Killers on the Dance Floor, The Twelves, Gui Borato e a cena no Espírito Santo com o Zémaria são bons exemplos.
Vocês são irmãos e isso muitas vezes ajuda, mas em outra tantas atrapalha. A proximidade facilita o trabalho, mas também deixa mais visível diferenças e conflitos e ideias. Como vocês avaliam isso? Qual é o balanço dessa parceria até o momento?
Meu irmão beira o insuportável. Eu também, principalmente no estúdio. Mas no final do dia (ou da madrugada) vale a pena. É mais forte do que a gente. Crescemos juntos, no mesmo quarto, escutando música, fazendo nossas mixtapes, arranhando instrumentos e pick-ups. Admiro demais meu irmão, tanto na concepção, quanto na atitude e nos experimentos com synths.
E por falar nisso: quais são os planos para o futuro? O ALDO é um projeto que veio para ficar?
Não temos nenhum plano ainda, além de alguns shows no segundo semestre, duas jaquetas que o F.Kawallys está customizando e uma vontade danada de tocar.
(Fotos: Paulo Bega)