CocoRosie: “Nós não somos mais tão tímidas”

20/11/2013

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Avatar photo

Por: Revista NOIZE

Fotos:

20/11/2013

Bianca e Sierra Casady. Ou, Coco e Rosie, como a mãe costumava chamá-las ainda na infância. Naquela época, elas pulavam de cidade em cidade, de leste a oeste dos Estados Unidos porque a mãe acreditava que as filhas precisavam aprender com a “vida real”. Mas as irmãs nem sempre estiveram lado a lado.

Durante muitos anos, Bianca e Sierra chegaram a viver separadas pelo Oceano Atlântico. Até que se reencontraram em Paris, já com 20 e poucos anos. Foi ali, em um pequeno apartamento em Montmartre, que elas formaram o CocoRosie, banda que se apresenta em São Paulo nesta quarta-feira, 20 de novembro.

*

As irmãs trazem ao Brasil uma história de dez anos, cinco discos – “Tales of a GrassWidow” é o mais recente, a tour que a dupla apresenta no país – e uma coleção de elogios. Devendra Banhart já fez questão de colaborar com as moças, a luxuosa grife Prada já embalou desfiles seus com a música das irmãs Casady, enquanto a betterPropaganda chegou eleger o duo como um dos 20 artistas mais influentes da última década.

“Nós não somos mais tão tímidas como éramos anos atrás”, destaca Sierra em entrevista exclusiva à NOIZE. Ao soltar a frase, o que ela faz é justificar como duas garotas em seus 20 e tantos anos transformam o palco em um verdadeiro espetáculo visual e sonoro.

Sim, porque assistir a uma apresentação das CocoRosie não é apenas ouvir a música, mas passear pelas imagens que refletem no telão e bater os olhos no figurino de apurado senso estético. Para elas, ter uma banda é muito mais do que fazer música: elas editam uma revista chamada Girls Against God, lideram o coletivo The Future Feminists e fazem questão de dirigir os videoclipes que acompanham suas canções.

“Esse desejo de estar envolvida em diferentes coisas ao mesmo tempo, de instigar a criatividade de diversas maneiras, faz parte de quem nós somos como pessoas”, diz Sierra.

Feminismo, violência urbana, religião, são assuntos que percorrem o quinto e mais novo álbum do duo. Assuntos que devem dar o tom ao show desta quarta, no Cine Joia. E que guiam a nossa conversa com Sierra.

Vocês tiveram no Brasil uma única vez, em 2006. O que mudou desde então?

Tem sido uma jornada bastante intensa pra nós. Acima de tudo, acho que a gente saiu da concha, sabe? Descobrimos melhor quem somos, e também a maneira de melhor colocar isso pra fora. Além disso, nesse novo disco estamos lidando com questões que até não são novas pra gente, mas que agora tocamos de forma muito mais direta – política, questões humanitárias, feminismo… E estar no palco com esse disco nos trouxe uma performance muito mais íntima, mais atraente visualmente.

O CocoRosie tem um apelo estético muito forte. Vocês duas escrevem as músicas mas também dirigem os vídeos, coordenam cuidadosamente as fotografias e o figurino. Nesse duelo música vs. artes visuais, quem sai ganhando?

Criativamente, a gente trabalha a partir da mesma fonte. A música nunca vem apenas do som, mas de uma história. Assim como uma fotografia. Então nós exploramos os personagens em nossa voz, nos vestimos de uma determinada maneira para induzir esse processo. Em nossas apresentações ao vivo, acrescentamos vídeos para colocar as pessoas ainda mais naquele contexto, inserí-las na história. Tudo vem do mesmo lugar.

Esse lado multitarefa seria um reflexo do mundo em que a gente vive?

Acho que não, acho que é algo que faz parte de quem nós somos. É o que torna a vida divertida.

O que é feminismo no mundo de hoje?

Eu espero que seja algo que esteja mudando. Sempre foi um estigma muito negativo. Nós temos feito um trabalho que busca escavar, reinterpretar o termo. Trazer vida nova para ele, dar a ele um novo significado. Tem sido uma parte muito divertida da nossa vida. A gente faz parte de um grupo chamado The Future Feminists, e o nosso trabalho é direcionado em tentar estabelecer um diálogo com o que acontece ao redor do mundo, assim como estabelecer uma conexão com a natureza, no sentido de observar como o tratamento para com as mulheres e as crianças é bastante similar com o tratamento dado a natureza. Estamos tentando questionar o sistema.

E o que querem as mulheres?

Eu vejo que há um novo desejo, um despertar para uma nova realidade no sentido de ser ou não feminista. Acho que não é apenas o que as mulheres ou os homens querem, mas sim um verdadeiro sentimento de igualdade. Mas pra poder encontrá-lo, nós temos que reconhecer que existe uma necessidade de feminismo. Nesse sentido, talvez a melhor pergunta seria: o que as mulheres e os homens querem?

A música ainda importa?

Eu acredito que sim. Acho que a arte em geral é a ferramenta que temos para processar emocionalmente o nosso estrago.

E a música que vocês fazem atualmente, se situa onde?

Não tem muito por trás do álbum em termos de gênero ou estilo. Não chegamos a listar critérios ou nada desse tipo para seguir enquanto fazíamos o disco. Aliás, enquanto gravavamos ele em casa, sentimos que faltava alguma coisa na arquitetura da música, algo entre a música e a poesia. Foi aí que convidamos o Valgeir Sigurðsson (mesmo produtor de artistas como Bjork) pra se juntar a nós na Islândia, e ali conseguimos estabelecer essa relação entre o que é artificial e o que é orgânico. A música definitivamente nos guiou, e o contexto das letras nos levou para o passo seguinte.

Você faz questão de dizer que vocês não são mais tão tímidas como da outra vez em que estiveram no Brasil. Por que?

Não somos mesmo. É que as coisas mudaram, nós mudamos. Os shows com certeza estão muito diferentes. Na outra vez em que estivemos no Rio, por exemplo, a Bianca teve uma enorme crise de choro em cima do palco.

Mesmo?

Rolou uma briga logo em frente ao palco, a segurança entrou em cena, retirou as pessoas que estavam brigando e o show teve que parar. Foi tudo uma grande confusão. A Bianca começou a chorar, e não conseguia mais levantar. Mas aí o público passou a gritar “sorry, sorry, sorry” (risos). Foi demais!

CocoRosie em São Paulo
Onde: Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade)
Quando: Quarta-feira, 20 de novembro, a partir das 21h30
Mais info: www.cinejoia.tv

Tags:, , , , ,

20/11/2013

Avatar photo

Revista NOIZE