Entrevista de quinta | Daniel Tessler: quando se trata de rock, o termo ‘obedecer’ não se encaixa muito bem

28/06/2012

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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28/06/2012

Rock sessentista, ou melhor, tudo o que vier dos anos 50, 60 e 70. Além do reflexo nos trajes que desfila por aí – terninho e gravata all day long -, a época também deixa suas marcas na música de Daniel Tessler. Em Tess, a estreia solo do cantor e compositor porto-alegrense, é esse o ar que se respira.

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“Óbvio que o som da Tess é influenciado por Beatles. Poxa, eles são os maiores! Vai fazer o quê? Pode até ter uma opinião contrária, mas o FATO é que eles são os maiores. FATO!”.

Apesar da devoção confessa aos Beatles, Tessler curte pra caramba um The Killers, Miles Kane, Supergrass e Arctic Monkeys. Parece estar aberto a experimentação: “Tem tanta coisa boa pra ser feita, tantas possibilidades pra explorar dentro da música”.

Na noite desta quinta-feira, o músico explora as possibilidades de sua banda no palco do Ocidente, na capital gaúcha. É a estreia do disco homônimo – que está saindo do forno, mas ainda sem data de lançamento definida.

Se ao vivo Tessler divide os acordes com Saymond Roos (Reverso Revolver), Rodrigo Fischmann (Dingo Bells) e João Augusto (Stratopumas), nosso bate papo é só com ele.

Rock, boemia e “dar a cara a tapa” são os principais assuntos da conversa.

Venga!

NOIZE: Lançar um projeto novo, depois de passar bons anos na estrada com a Efervescentes, é como ter uma segunda chance ou “simplesmente” uma nova fase?
Daniel Tessler: É uma boa pergunta. As pessoas não têm como escapar do seu passado, então poderia dizer que é uma nova fase, se a gente concordar que aquela foi uma fase diferente dessa. Eu estou mais velho, um pouco mais experiente (mesmo que ainda seja uma criança em vários aspectos). Por outro lado, também é uma segunda chance sim, uma vez que “depois de passar bons anos na estrada com a Efervescentes” não tenham me dado o retorno que eu esperava em termos musicais, financeiros e, até mesmo, culturais.

Veja bem: eu considero Os Efervescentes um marco muito importante pra minha vida, na minha história, na minha carreira como músico. Não acho ruim ter passado por essa banda. Mas de um modo geral, no cálculo da vida, acho que dei mais pela banda do que talvez ela estivesse merecendo naquele momento.

Agora tenho a chance de fazer “como deveria ter feito” antes e sim, em uma nova fase. A convicção, olhar pra si e saber que é aquilo. Não é por acaso que Os Efervescentes não existem mais. E não é por acaso que eu estou com um disco gravado, com outro projeto e que levo tanta fé. Todos temos uma segunda chance todos os dias quando acordamos.

NOIZE: Muito se escuta por aí que “fazer música não tá fácil pra ninguém”. Você acredita em “banda certa na hora errada” e vice-versa?
Daniel: Eu não desacredito nisso, mas eu acredito mais na convicção e no empenho em querer fazer acontecer. Quando o grupo está na mesma onda, nada segura. Claro que é difícil. O mercado tá uma loucura. Hoje em dia (e não faz pouco tempo) não basta só tocar bem, ter músicas legais, etc. Tem que ter bons contatos, dar as caras. Não adianta pensar que é um artistão, que vai ser descoberto em qualquer boteco. Não vai.

Tem que ir em shows, ir em festas, conhecer gente, dar o CDR gravado em casa mesmo na mão de um e de outro ali, criar vínculos, etc. Se não, não é difícil… É impossível. Esse “banda certa na hora certa” eu acho que daria pra traduzir da seguinte forma: “não dá pra tocar com vagal, que quer sucesso sem esforço e todos os dias tem que ser a hora certa pra fazer tudo o que precisar ser feito.”

NOIZE: Você curte pra caramba um rock sessentista, certo? Com a Tess, a referência permanece?
Daniel: Não tem como escapar: a influência existe sim. Mas é preciso dizer que não sou cego… Sou apaixonado por bandas novas, modernas, atuais ou seja lá o termo que quiser usar. Rock é rock e vice-versa. Não tem mistério. Algumas influências gritam forte sim, mas não são as Únicas. Existe o The Killers, o Miles Kane, o Supergrass, Arctic Monkeys.

No Brasil existem bandas excelentes de rock que eu curto. Tem esse projeto Agridoce da Pitty que eu acho legal, tem os Helvéticos que vão lançar um disco bem bacana agora, ainda em Junho. Eu curto música boa. Gênero predileto: Rock. Mas não deixo de escutar outras coisas. Tenho escutado muito Charlie Parker e Mozart nessa última semana. Então… Sei lá…

NOIZE: Que artistas você tem ouvido nos últimos tempos?
Daniel: Poxa, tem uma banda australiana que é muito legal chamada Tame Impala, que é uma loucura. Os caras deram um passo na música. Coisa que não acontecia há muito tempo. Sabe quando a música dá mais um passinho pra frente? Eles conseguiram mudar. Coisa que o Kasabian fez quando apareceu. Aliás, o Kasabian é uma banda foda também. Tem o disco do Charly Coombes. O irmão dele, Gaz, vocalista do Supergrass, lançou um disco solo que é INCRÍVEL e eu tenho escutado também. Tem um disco do Chilly Gonzales que eu escuto as vezes e até uso pra discotecar dependendo do clima, que é o Ivory Tower.

Agora voltou uma banda que curto bastante que é de Porto Alegre chamada Stratopumas, que eu sou fã. Outra banda que gosto bastante é a Wannabe Jalva. Eu escuto tanta coisa.. Como eu falei antes, nessa última semana eu escutei muito jazz e música erudita. Nem sei o motivo. Mas garanto que faz bem pra alma.

NOIZE: A intenção do novo disco é ser mais do que gaúcho, ser global. Certo? Acha que o termo “rock gaúcho” tá banalizado?
Daniel: Bom, eu vejo o termo “rock gaúcho” como uma questão geográfica e só. Pelo menos pra Tess. De fato tem muita banda que faz “rock gaúcho” e não só por ser daqui. Existe uma linguagem fechada, que muita gente fica literalmente presa. Rock é rock em qualquer lugar do mundo. É transgressor, é jovem. Eu não quero e não vou deixar a Tess se tornar uma banda de “rock gaúcho”. A gente faz rock. Ponto. Linguagem universal. Não só daqui.

NOIZE: Terno e gravata é uma marca sua que nao é de hoje. Você acha que hoje em dia o rock tem sem preocupado mais com estética e menos com música? Alex Turner, por exemplo, tirou o cabelo da cara e agora usa topete a la brilhantina, faz caras e bocas, cheio das poses. Por outro lado, o Arctic Monkeys não brinca em serviço quando o assunto é música. Concorda?
Daniel: Não acho que o rock tem se preocupado mais com a estética do que com a música. Tudo faz parte do negócio. Sempre fez… Olha o Elvis! Não foi por acaso que os Beatles usaram terninhos e os Rolling Stones tiraram os terninhos! Eu sou fã do terno e da gravata. Sempre fui. Gosto de andar bem vestido e o meu estilo se encaixa nesse lance mais clássico. Simples assim.

Acho que pra tocar o cara tem que estar bem vestido. Ter o seu estilo, aquele que ele se sente bem, que fique feliz e a vontade pra fazer o que gosta. Um surfista não vai surfar de tênis. Eu nunca vi. Pergunta pro Paul Weller como ele acha que um músico deveria se vestir pra fazer um show.

Os Arctic Monkeys sabem jogar muito bem com isso. Acho que ali as coisas fazem sentido. Eles são um bom exemplo de “bandão”.

NOIZE: O que sua mãe queria que você fosse “quando crescesse”? Você bateu pé ou obedeceu?
Daniel: Ela sempre quis me ver advogando. Imagina.. Eu até cheguei a cursar metade do curso de Direito. Mas larguei. Não é pra mim. Eu bati o pé só por não ter parado de tocar. Eu ia para as aulas pela manhã, mas eu tinha muito show durante a semana (tocava numa banda que fazia covers na noite. Banda de baile ou quase isso.).

Mas a música, a vida noturna… A paixão romântica pela música. Acho que isso define melhor. Tudo isso me fez continuar tocando sempre. Nunca baixei a guarda. O termo “obedecer” não sei se encaixa muito bem. Era mais pra ver ela feliz do que obedecer, entende? Só que tudo tem limite. Quando eu larguei o curso, ela teve um troço… Mas é isso! Tem que fazer o que gosta e ponto.

Serviço

Tess em Porto Alegre
Dia 28 de Junho
Bar Ocidente, Rua João Telles, esquina com Osvaldo Aranha.
O bar abre às 21h.
Ingressos na hora: R$ 20,00

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28/06/2012

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