Depois de quase duas décadas de carreira, Ekena se prepara para apresentar o seu primeiro disco cheio, Nó. Após a divulgação do EP Passarinho, lançado em 2016, e de seu trabalho como backing vocal de Liniker, o novo disco é o resultado de sua constante desconstrução e busca por liberdade, feita a partir de nós que desatou ao longo de sua vida. Nó foi gravado com o incentivo de um financiamento coletivo e trará 13 faixas inéditas.
“Todxs Putxs” é o primeiro single da produção, divulgado com um clipe que expressa a força de seu desabafo feminino alcançando mais de 373 mil visualizações no Facebook e de 24 mil no Youtube. Confira nossa entrevista com a cantora araraquarense, e fique por dentro do processo de composição e gravação do álbum, previsto para sair em agosto:
As composições foram criadas dentro de um período de seis anos. Você pode afirmar que essas letras acompanham o seu amadurecimento nesse período?
Com certeza! Eu vim me descobrindo ao longo desses 17 anos trabalhando com música e esses últimos seis anos foram cruciais pra que eu me encontrasse e descobrisse o que eu queria ser como cantora e compositora.
A gestação do Gael foi importante pra trazer ao mundo essas canções inéditas?
Eu diria que foi meu grande refúgio pra que eu me encontrasse e então pudesse fazer essas canções. Gael me fez ver o quão forte eu sou e o quanto de amor eu tenho pra dar!
E como foi o reencontro com seus parceiros de gravação?
Foi incrível! Alguns eu já havia trabalhado anteriormente e outros eram novos na minha vida. Foi um experiência incrível gravar um disco em um rancho, com o Nettão que é um cara genial e que acabou virando parte da família.
Esse processo de gravação (que está em finalização) durou quanto tempo?
Foram sete dias pra gravar tudo, mas a produção do disco durou uns seis meses, até que tudo ficasse exatamente como eu imaginava.
Existe algum momento que você queira destacar?
Poxa, foram vários momentos incríveis, mas teve um na gravação de “Bem-te-vi” que na última nota eu consegui fazer duas notas de uma vez. Nem sei como chama isso ou qual a técnica, mas saiu, só esse dia, e ficou lá registrado. Depois dessa vez, nunca mais, (risos). No coro de “Passarinho” tinha muita gente querida e foi a coisa mais linda que eu já vi acontecendo assim de pertinho.
Qual o significado para você, de agora poder tirar esse projeto do papel?
É como se eu tivesse parindo outro filho mesmo. A capa do disco é sobre a gestação desse disco, esse processo de transformação e todas as mudanças pelas quais passei. Tá tudo ali, tudo que eu senti e toda entrega, quando as pessoas escutarem vão saber que as canções falam diretamente com elas mesmo.
A canção “Todxs Putxs” é a única faixa previamente disponibilizada, ela pode ser considerada um norte do que vem por aí?
Ela é a única música diferentona do disco, eu acho; eu sou super amorzinho, apesar da cara de ogra. Na hora de compor eu vou lá, sofro umas desilusões e aí, pronto, sai umas boas músicas. A verdade é que basicamente todo o disco trata de fins e recomeços, de encontros e amores. Tem a militância, tem algumas músicas com nome de minas e outras que dá pra ver os casais se amando nos finais de novelas.
A canção “Todxs Putxs” é muito visceral, um grito de libertação para todos os rótulos que recebemos enquanto mulheres. Você recebeu muitos deles em sua carreira? Acredita que em algum momento eles te afetaram? Como foi o seu processo de libertação?
Bicho, eu recebi todos os julgamentos possíveis nesses quase 30 anos de vida! Eu sofria por conta do nome estranho, por ser gorda, por ser artista, por ser mulher e estar a frente de tudo. As pessoas veem as cantoras só como intérpretes, elas se doem quando sabem que a gente é rainha da porra toda! Teve um momento que deve ter afetado, sim, mas eu nem lembro em qual, porque apesar de toda a dor, eu sempre acreditei muito no meu trabalho e acabei ganhando meu espaço e conhecendo cada vez mais minas fodas pelo caminho. Eu tô num processo ainda, “Todxs Putxs” foi só o primeiro ruído desse berro todo. Ainda tô aí me desconstruindo, me encontrando dentro das coisas, aprendendo com as outras, tentando aceitar e ter mais e mais amor por mim também. Acho que o Gael foi o meu momento libertador; é ele quem me motiva a lutar, sabe? Quero que meu filho um dia veja e sinta orgulho da mãe que ele tem.
O que mudou do EP Passarinho para o disco Nó? Houveram transformações ou podemos considerar como uma continuação?
Houve um amadurecimento nos arranjos, mas Nó é a continuação da história. É como se o passarinho tivesse aberto a gaiola pra voar pela primeira vez! O disco é uma ordem cronológica de como eu desatei meus nós, abri minha gaiola e comecei a aprender a bater as asas.
O pré-lançamento do álbum está marcado para o dia 6 deste mês, em Araraquara, com direito a conversa com a cantora sobre a composição das faixas e história por trás delas, saiba mais aqui. E no dia 22 a banda abrirá o show da Vanguart em São Paulo.