O rock congolês pede passagem. Com uma carreira iniciada ainda nos anos 90, a parceria entre Jupiter Bokondji e a banda Okwess tem reivindicado os holofotes da cena musical para o continente africano, mais especificamente para a República do Congo. Apesar da estrada, o primeiro álbum do grupo foi lançado somente em 2013, sob o título de Hotel Univers. O sucessor Kin Sonic (2017) alcançou o nono lugar no ranking dos discos do ano pelo jornal The New York Times e marcou presença na famosa playlist do ex-presidente estadunidense Barack Obama.
Agora, a banda se prepara para lançar seu próximo disco de inéditas Na Kozonga, previsto para o mês de abril. Carregado de referências a música de diáspora, o registro tem a produção de Mário Caldato Jr e parcerias internacionais, como chilena Ana Tijoux e os brasileiros Rogê e Marcelo D2. Oferecendo ritmos que curam a letras que não tapam o sol com a peneira, o trabalho deles é marcado por faixas enérgicas e que falam sobre desigualdades sociais, problemas climáticos e colocam o dedo na feira aberta que os processos de colonização deixaram nos territórios e povos colonizados.
Batemos um papo com Jupiter que, ao final, compartilha cinco artistas congoleses para você conhecer! Leia abaixo.
O que nós podemos esperar do seu próximo álbum Na Kozonga? Que sonoridades, ritmos e temáticas serão exploradas neste trabalho?
Em Na Kozonga, nós tivemos colaborações de artistas como Ana Tijoux, do Chile, Marcelo D2 e Rogê, do Brasil, e musicistas do Preservation Hall in New Orleans, cada um deles em uma faixa específica. Cada um deles contribuiu com sua própria marca, e o resultado você vai descobrir, se você ainda não ouviu os singles que já foram lançadas. Nos beneficiamos da participação de Mário Caldato em seu estúdio em Los Angeles, onde nós gravamos. Em nossas canções, sempre temos falado sobre os problemas da sociedade na qual vivemos. Em Na Kozonga, exploramos de maneira notável as temáticas relativas aos problemas climáticos e ambientais, colonização, sempre com ritmos cativantes para curar as almas.
Como é para você a experiência de colaborar com artistas que cantam e compõem em outras línguas? Qual é a sua conexão com a música latina?
Para nós, a alma, o ritmo e a melodia são o que mais importam. Língua é secundário. Musicalmente, nós estamos ligados pela história. Música Latina veio daqui, música Latina e música Africana são da mesma família.
No single “You Sold Me A Dream”, a temática lírica principal toca na discussão sobre o processo de colonização a partir do ponto de vista dos países colonizados. Como esse trauma global conecta a experiência africana da experiência latina?
Nós tivemos a mesma experiência de colonização, alguns tiveram que deixar suas casas para trabalhar do outro lado, mas, também as pessoas indígenas na América Latina sofreram a mesma dominação e hoje em dia nossos continentes estão, muitas vezes, nos mesmos problema sociais; nós continuamos a sofrer a exploração dos nossos recursos naturais em benefícios de grandes grupos e, durante esse tempo, as pessoas sofrem.
Voltando às suas parcerias: como rolou a parceria com o rapper Marcelo D2?
Eu e meu empresário Francois Gouverneur queríamos uma energia hip hop. Mário Caldato teve a ideia de entrar em contato com Marcelo D2 porque nós pensamos que ele era sensível à temática da canção. Nos encontramos em Paris, no Warren Ellis para um churrasco; estávamos de folga e Marcelo estava em turnê. A gente tocou, e então, na mesma noite, Mário Caldato e Francois Gouverneur nos gravaram no estúdio Warren.
E o que você gosta na música brasileira?
A música brasileira tem um lado sensual e uma energia que também é encontrada na música tradicional de algumas pessoas lá na nossa terra. Ela dá muita importância aos ritmos e também encontramos isso em nossos ancestrais em comum.
Você sente que os artistas musicais africanos enfrentam dificuldades específicas na cena musical global? Você acha que a música africana é valorizada fora de seu continente?
Sim, havia essa falta de informação no cenário mundial. Mas, agora, a música tem ganhado um momento positivo, notavelmente graças à internet, e é mais valorizada fora do continente. Mas isso depende da criatividade dos artistas. Nós mesmos enfrentamos dificuldade de circulação e taxas de visto que tornam a nossa economia mais difícil do que a de uma banda da Europa ou dos Estados Unidos.
Por favor, compartilhe com a gente cinco artistas ou bandas congolesas para conhecer!
Ray Lema, Lokua Kanza, Konono Nº1, Tabu Ley Rochereau e Franco Luambo Makiadi.