Entrevista | A caminhada de L7nnon em “Hip Hop Rare”

10/12/2020

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: João Pedro Maia Pereira/Divulgação

10/12/2020

“Caminhante, não há caminho / O caminho se faz ao caminhar”. Os versos célebres do poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939) dialogam diretamente com o trabalho de L7nnon, rapper carioca que acaba de lançar seu segundo álbum, Hip Hop Rare.

Nascido no bairro do Realengo, na Zona Oeste do Rio, L7nnon trilhou a sua própria trajetória, descobrindo passo a passo direção que queria seguir. Seu primeiro single saiu em 2017 e, de lá pra cá, o corre só aumentou. Hoje, com milhões de ouvintes mensais nas principais plataformas de streaming, não há dúvidas de que algo importante já foi alcançado.

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Mas a caminhada segue, e cada dia traz os seus próprios desafios. Hip Hop Rare é um álbum que fala especialmente sobre a força do rap enquanto uma ferramenta capaz de mudar vidas. No disco, há momentos de descontração e de celebração das conquistas, mas há também espaço para reconhecer as cicatrizes da luta. Há influência do trap, mas também do boom bap raiz, até do funk carioca, por que não?

Com beats e produção de Papatinho, o disco conta com a presença ilústre de Black Alien, além de novos nomes como Gaab, Pescadinha e Bolin, e de MC Marks e MC Hariel. Trocamos uma ideia com L7nnon sobre o lançamento do álbum em meio ao louco 2020.

Confira abaixo:

Como tá sendo a recepção do Hip Hop Rare por enquanto?

A melhor possível. Estou muito feliz de conseguir ajudar a fazer com que as pessoas acreditem nelas mesmo por meio da minha música. Ah, cara, vi que muita gente entendeu a mensagem e não esperava que fossem pegar tão rápido. De qualquer forma fico muito feliz. É realmente muito gratificante poder fazer com que alguém se sinta melhor durante alguns minutos, só ouvindo meu som.

Teve uma situação complicada após o lançamento dos lyric videos do disco, em que fãs apontaram que havia uma pessoa com tatuagens nazistas na plateia, e você logo tomou a atitude de se posicionar contra qualquer manifestação de discursos de ódio. Como você contornou essa situação?

Olha, num primeiro momento nós deixamos o vídeo privado para pensar em como seguir. Conversei com a minha equipe e me pronunciei nos stories dizendo o que todos já sabiam, mas precisei reforçar: não compactuamos com os ideais daquele cara e também não percebemos aquilo ali.

Quem me conhece ou me escuta percebe rapidamente que eu canto o oposto daquilo. Minhas letras são para inspirar e unir as pessoas. O rap é simplesmente a ferramenta que me salvou e uso para salvar outras vidas. Hip Hop Rare no fim das contas é sobre isso.

O seu primeiro disco, Podium (2019), ganhou vários elogios, como foi o desafio de botar um segundo trabalho completo no mundo? Qual era o seu grande objetivo nesse novo disco?

Olha, eu tenho muita música escrita. Todo dia estou anotando alguma linha pelo menos. O desafio maior foi achar a temática que eu queria pro álbum e reunir as músicas para que fizessem sentido. Meu objetivo dessa vez foi inspirar o pessoal, mas também entreter.

Hip Hop Rare traz uma variedade de sons, tem desde referências mais old school até uma pegada bem contemporânea. Como foi a busca do som do disco? Como foi sua parceria com o Papatinho nesse processo?

Assim como no primeiro álbum, Podium, buscamos a versatilidade. Tem rap de mensagem, de amor , de papo reto … para todos os gostos. No Hip Hop Rare conto mais sobre o momento atual, sobre conquistas , amor, mas claro, sem deixar de falar sobre a realidade.

Com o Papatinho as coisas fluem muito fácil. Eu passo a ideia que eu quero e ele pensa em cada detalhe para montar as faixar. É um privilégio tê-lo ao meu lado. Já sabemos a fórmula dos hits juntos. Monstro!

Com a presença do MC Hariel, MC Marks, Pescadinho e Bolinho, tem um cruzamento da cultura do rap com a cultura do funk no teu trabalho. Como você vê essa relação hoje, especialmente no Rio de Janeiro?

Faz parte da nossa cultura, o rap e funk meio que se misturam. Não tem jeito! Os dois gêneros se aproximam muito nas temáticas e até na forma que ser marginalizado. É natural que acabem se misturando, pelo menos pra mim.

Foi uma alegria imensa poder reunir esses caras que tanto admiro no meu álbum. Hariel e Marks dispensam comentários. Sou fã dos dois. Pescadinha e Bolin são irmãos de caminhada. Estão começando agora a carreira artística e, no que eu puder, pretendo ajudá-los. Pra mim, é maior satisfação contribuir pro início dessa caminhada. Dou valor aos que me ajudaram também.

O disco começa com um tom de agradecimento, com “PPTN”, e termina no mesmo clima, com “Gratidão”. É como se você estivesse dando um muito obrigado a todo mundo que tá contigo, né? Como surgiu essa ideia de amarrar o disco assim?

Sou sempre grato aos que correm comigo. Minha família Papatunes que está no dia a dia preocupada com tudo no âmbito profissional e a faixa gratidão já fala por si. Sou sempre grato a Deus por abençoar minha caminhada e a todos os irmãos que somam junto, minha família, principalmente. Sem eles não sou nada. Esse sentimento que motivou a criação desse álbum. Queria passar uma mensagem de união e esperança, que as pessoas acreditem em quem está sempre ao lado para correrem atrás dos seus sonhos.

No álbum anterior, você convidou o MV Bill, agora traz a presença ilustre do Black Alien. Comenta, por favor, a importância de reconhecer os pioneiros, o pessoal que abriu caminho lá atrás. O que você pode dizer que aprendeu com esses caras?

São mestres que tenho como referência. Cresci ouvindo eles e é uma honra imensa poder contar com a participação deles no meu álbum. Dividir música com eles me faz aprender demais. Com o Black Alien, por exemplo, aprendi a nunca desperdiçar uma linha. Tudo que ele escreve tem um significado e esse carinho e atenção que fazem a diferença. Já com o Bill aprendi bastante sobre vivência mesmo, sabe? Ele está sempre me orientando a tomar as melhores decisões na minha caminhada. Sou muito grato a eles por terem somado comigo.

E agora, quais são os próximos pra trabalhar o disco? Como tem sido driblar essa pandemia?

Assim que possível vamos trabalhar a tour Hip Hop Rare, mas no decorrer do ano sairão vários singles que já estão no forno! Estamos rezando para que venha logo a vacina e tudo possa voltar ao normal logo. Valeu demais pela atenção, abraço!

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10/12/2020

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