Alcançando esferas sonoras e de público que ultrapassam muito as fronteiras do heavy metal, Ozzy Osbourne chega aos 72 anos fazendo uma avaliação profunda da sua trajetória. Apresentando um olhar íntimo do artista, o novo documentário As Nove Vidas de Ozzy Osbourne apresenta esse processo, em um registro que expõe tanto os picos de glória das várias fases de sua carreira histórica quanto as dúvidas da juventude, o abuso de drogas e a recente luta de Ozzy contra o mal de Parkinson.
Produzido e dirigido por R. Greg Johnston, o filme foi feito, em parceria com a família Osbourne, pelo canal A&E e é parte da sua série Biography. No Brasil, As Nove Vidas de Ozzy Osbourne estreia no dia 20 de março às 23h20 com exclusividade no canal (veja trechos abaixo).
Em entrevista coletiva à imprensa latino-americana, o próprio Ozzy garantiu que o filme apresenta um retrato muito franco dele. “Não ficamos maquiando para que parecesse ‘maior’ e ‘melhor’ do que eu sou. Mostra as partes boas, tristes. É muito honesto. Não é todo ‘glamourizado’ e polido. É muito verdadeiro. Com o bom, o mau e o feio”, disse. “Mostra os triunfos de Ozzy, mostra os períodos difíceis. Eu acho que é um grande documentário sobre a vida de uma pessoa, e Ozzy teve uma vida impressionantemente interessante”, completou Sharon Osbourne, sua esposa, parceira e empresária desde os anos 1980, que estava ao seu lado nesta entrevista.
Jack Osbourne, filho de Ozzy e Sharon, também estava presente e comentou como o comportamento destrutivo dos anos de excessos do seu pai não seria visto com bons olhos hoje: “Eu estava falando com minha mãe outro dia, nós estávamos brincando. Eu não acho que o Ozzy dos anos 1990 e 1980 se sairia muito bem em 2021. Eu acho que o homem que ele era naquela época seria cancelado muito rápido. Felizmente, ele escreveu músicas muito bem. Alguns gatos têm nove vidas, alguns têm mais. Eu espero que ele tenha muitas mais ainda”, disse Jack.
“Ele é um sobrevivente”, apontou Sharon: “Ele viveu uma vida difícil e sobreviveu ao que a vida fez com ele. Ele se recuperou e começou tudo de novo, e ele é um homem bom. Ele não finge ser nada que ele não é, o que você vê é o que ele é. É um sobrevivente incrível, ele teve que passar por coisas que outras pessoas nessa indústria não sobreviveram. Ozzy sobreviveu. E ele tem projetos novos e depois de 52 anos ainda é relevante na indústria musical, as pessoas ainda amam ouvi-lo. É incrível”.
No filme, há um depoimento de Ozzy dizendo que sente ter uma “personalidade dividida” entre John Osbourne e o personagem do Príncipe das Trevas. Na entrevista, ele mesmo explicou como enxerga esse mecanismo à la Dr. Jekyll-Mr. Hyde: “John Michael Osbourne é um cara filho da classe trabalhadora, de mãe e de pai. Eu era confuso, quando jovem, sobre o que queria fazer até que eu ouvi os Beatles. Quando ouvi os Beatles, eu soube o que eu queria fazer”. Quanto ao Príncipe das Trevas: “É essa persona, essa personalidade dos palcos. E acho que é demais pra ser carregada por aí. Eu deixo isso no palco”.
Por muito tempo, não foi assim. Ozzy acumulou uma série de episódios controversos em sua trajetória pública, porém hoje parece estar em paz com seu passado. “Todos nós temos arrependimentos, eu tenho. Os arrependimentos formam a pessoa que você é no fim das contas. Mas não deixo isso comandar a minha vida”, disse Ozzy.
Ele comentou ainda que preocupa-se muito com a relação que tem com os seus fãs: “Eu sou muito consciente, eu me preocupo profundamente com meu público. E eu sou o homem mais sortudo do mundo por ter uma carreira tão longa e expressiva. Eu tive a melhor vida que alguém pode ter, saí do nada para a riqueza, minha profissão me abriu tantas portas e minha esposa também colaborou muito”.
Perguntando sobre qual foi a melhor experiência de sua vida, Ozzy não perdeu o galanteio: “Foi conhecer a Sharon. Eu amo mais ela agora do quando eu a conheci. Então, estou fazendo alguma coisa certa aí”, disse antes de beijá-la na boca. “Sou muito abençoada por ter conhecido Ozzy. Ozzy mudou muito minha vida, nunca imaginei que eu teria minha própria família até conhecê-lo. E ele fez tanto por mim quanto eu fiz por ele. Acho que somos duas pessoas com diferentes caminhadas de vida, com nada e com tudo em comum. É uma relação que eu sinto que estava destinada”.
Sharon, que enfrentou ao lado do marido uma luta contra o câncer em 2002, aparentava estar super bem de saúde na conversa com os jornalistas. Já Ozzy, que permaneceu apenas nos primeiros dez minutos de entrevista, pareceu um pouco abatido e precisando fazer um grande esforço para estar ali. Em 2019, em meio às filmagens de As Nove Vidas de Ozzy Osbourne, ele foi diagnosticado com Mal de Parkinson e o tema inevitavelmente acabou sendo abordado no filme.
“Quando filmamos, foi durante seu primeiro diagnóstico. Nós tomamos conhecimento, conversamos e o que sabíamos foi o que botamos [no filme] . Eu diria que 80% do filme estava pronto quando ele teve sua queda e o diagnóstico de Parkinson, então foi realmente estranho, nós não sabíamos o que ia acontecer. Foi um momento estranho de se estar fazendo um filme biográfico, teve horas em que pensei: ‘Será que isso é mais um tributo do que uma biografia?’. Foi bem assustador por um momento”, afirmou Jack Osbourne.
“Ele muda todos os dias”, diz Sharon: “Em alguns dias, Ozzy está brilhante, está caminhando, se sente ótimo. E aí na próxima semana, pode ter dois dias realmente ruins em que ele não sinta muita energia. Então, nada é permanente, muda o tempo todo. Ozzy está trabalhando com um fisioterapeuta, todos novos medicamentos que saíram pra Parkinson nós estamos procurando, os melhores tratamentos pra ele. Todo dia é um dia diferente. Não é como se você tivesse isso e o resto da vida fosse ficar sentado numa cadeira, não é assim com Ozzy”.
“Ele com certeza não vai desacelerar em nada. Ele gravou um disco [Ordinary Man (2020)], está gravando outro agora mesmo, estamos filmando um outro show. Seu diagnóstico mudou ligeiramente sua vida, mas não diria que mudou drasticamente”, completa Jack.
Produzido por Andrew Wat e Louis Bell (acostumados a trabalhar com artistas pop como Justin Bieber e Cardi B), o álbum mais recente de Ozzy traz as participações de Elton John, Travis Scott, Post Malone, Slash, Chad Smith e Tom Morello. Ordinary Man é o 12º disco da sua carreira solo e há um 13º a caminho, ainda sem data de lançamento previsto.
Sobre os novos projetos, Sharon garante que a aposentaria não é planejada. Porém, em meio à pandemia mundial de Covid-19, para Sharon e Ozzy também está sendo difícil fazer planos: “Ele teve que desacelerar como qualquer pessoa. Não tem havido turnês há bastante tempo e também não haverá nesse ano. Mas nós estamos todos vivendo o agora, não pensamos no ano que vem ou no próximo, nós apenas estamos vivendo no presente”, diz Sharon.