Vitória Nogueira, conhecida como Tori – leia-se Tóri, 22, mescla melodias profundas entre composições intimistas no lado A, do disco Descese (2022), divulgado nesta sexta-feira (11). Sendo a caçula de quatro filhos, a sergipana reside, desde abril passado, no Rio de Janeiro e neste primeiro disco solo, gravado entre agosto de 2021 e janeiro de 2022, traz a parceria de Bruno Berle, na faixa título, além de participações de Dora Morelenbaum, Julia Mestre e Tainá no coro da canção “Água Viva”, musicada a partir da obra homônima de Clarice Lispector.
Produzido pelo trio Bem Gil, Bruno di Lullo e Domenico Lancellotti, o disco se consagra, neste primeiro momento, com seis faixas que levam o ouvinte a um som calcado por diversos climas, dentre eles o da melancolia de uma jovem adulta em descobertas. “A maior parte das músicas surgiu durante o primeiro e segundo ano da pandemia, um período que nos levou a um estado mais intenso de solidão, de alguma maneira. Entrei em contato com muitos desejos meus que andavam negligenciados”, diz a artista em entrevista para a NOIZE.
O destaque do lado A está nas faixas autorais “Morada”, com coro de Alexandre Damasceno, Beatriz Linhares, Júlia Sízan e Ricardo Ramos, parceiros da Ipásia, grupo aracajuano que Tori integrou, “Travessias Maiores” e “Descese”. “O processo todo foi muito bom, havia uma afinidade entre todos que foram se somando no projeto do disco. As ideias de cada um eram muito certeiras. Foi bastante fácil num sentido de fluidez! A dificuldade maior foi a barreira da comunicação virtual. Ocorreu da gente ir por um caminho e não por outro por ter se desencontrado na comunicação. De toda maneira os caminhos se mostraram lindos”, assume. Vale ressaltar o trabalho da banda, que acompanhou a artista nas gravações, em principal os que dominam os instrumentos de sopro com maestria, como Thiago Queiroz e os irmãos Everson e Aquiles Moraes.
O envolvimento de Tori com os produtores começou por acaso, graças ao advento da internet e da atitude certeira da artista. Após escutar o disco de estreia de Mãeana, a jovem ficou instigada pelo processo do álbum e buscou os integrantes do projeto na ficha técnica: “Quando fui atrás de quem fazia parte do disco, descobri que Bem tinha produzido. João Mário, meu grande parceiro que assina 3 composições do disco, todas do lado B, falou ‘Bem tinha que produzir seu disco'”.
Após o comentário do amigo, Tori mandou um e-mail para Bem Gil, em fevereiro de 2021, com quatro faixas presentes neste atual disco, e teve a surpresa resposta de que ele topava embarcar neste trabalho. “Nesse meio tempo, paralelamente, passei a ouvir muito os discos de Domenico. Publiquei um vídeo no Instagram tocando ‘Confusão’, do Raio (2021), e Domenico adorou e me escreveu. Logo viramos amigos, fizemos umas três canções pelo WhatsApp, e ele me falou pra que o chamasse pra tocar quando eu fosse gravar um disco. Nos reunimos os três pelo zoom [Domenico, Bem e Tori], e logo eles sugeriram que Bruno entrasse nessa; eu, que já tinha ouvido e adorado o disco da Meia Banda, topei, e levamos pra frente as ideias”, comenta a sergipana.
Fazendo parte da geração Y a cantora, compositora e guitarrista, durante o isolamento social, promoveu sua interação com o mundo externo através do Instagram. A ocasião motivou sua aproximação com Bruno Berle, músico de Maceió, que lançou em julho passado o disco No Reino dos Afetos (2022). “Eu conheci o trabalho de Bruno também pelo Instagram. Fiquei muito feliz e animada por estarem rolando coisas tão massas ali tão perto de Aracaju, em Maceió. A primeira música que imaginei ele cantando comigo foi a última do disco, do lado B, mas ele ouviu o disco inteiro e disse que ‘Descese’ era a preferida dele”, enuncia a cantora que só foi conhecer Berle pessoalmente após a gravação da faixa.
Possuindo uma abundância de referências para o projeto solo, Tori acumula uma sequência de registros em sua carreira, sendo boa parte trabalhos apresentados por outras identidades, como é o caso do agradável Ignatia, (2019), disco de sua antiga banda. Instigada pelo violão e piano ainda na infância, a jovem tem aptidão quando o assunto é composições, exibindo que este é só o primeiro de muitos registros que virão: “A voz é pra mim muito mais um instrumento pra dar corpo às canções. Me entendo mais como compositora do que como cantora”, confabula.
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