“Espero que haja apetite pela vida cultural brasileira”, diz Gilberto Gil em coletiva

18/11/2022

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Nicolas Calligaro/Divulgação

18/11/2022

Em entrevista coletiva à imprensa, realizada ontem (17) durante a cerimônia de lançamento da campanha de natal da Natura, Gilberto Gil fez duras críticas à gestão do governo federal para a área de cultura. “Estamos vindo de um período de um certo fastio por parte da institucionalidade cultural brasileira, especialmente do governo central do Brasil, em relação à importância da cultura. O descuido que caracterizou esse governo central em relação a isso é basicamente reconhecido pela grande maioria da população brasileira, para além dos próprios agentes, produtores, criadores. O grande público percebeu esse fastio do governo em relação à cultura”, declarou.

Sobre o ano que vem, marcando o fim do governo Bolsonaro e início do novo mandato de Lula, Gil diz: “Eu espero que o apetite seja renovado, que haja apetite, no sentido profundo, pela vida cultural brasileira. Com todo o cuidado, com todo interesse, com todo chamamento a todos os agentes criadores, produtores, e que haja abrigo de novo pra institucionalidade cultural brasileira. Haja abrigo seguro pra isso, com espaços de uso cultural restaurados. Obviamente a vida cultural é propiciada pelos próprios indivíduos e suas relações entre famílias, grupos, populações, comunidades, etc, que fazem festas populares e vão vivendo autonomamente. Mas há um outro sentido de agregação da vida cultural que se ressente da necessidade de um papel governamental nacional, de política pública. Resumindo: eu quero que a política pública de cultura volte a ser uma coisa prestigiada no Brasil”.

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A entrevista aconteceu por ocasião do lançamento da campanha Natal Natura, para a qual Gil regravou a canção “Estrela”, composta por ele e lançada originalmente no álbum Quanta (1997). Na nova versão da música, que será lançada no próximo dia 29, Gil canta ao lado da sua neta Flor Gil e da bisneta Sol de Maria. “[‘Estrela’] é uma composição que eu fiz há muitos anos atrás, não diria inspirado, mas referenciado na filha de dois amigos, o Paulo Leminski e a Alice Ruiz, em Curitiba, uma menina cujo nome é Estrela. E ainda que não seja uma canção ‘para’ ela, é uma canção em que o nome dela é fundamental”, contou Gil.

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“A canção fala desse mistério profundo que é o cosmos, esse mundo misterioso dos astros distantes da Terra, as estrelas propriamente. E tem a coisa de dialogar um aspecto afirmativo, assertivo, com um aspecto mais recuado. A estrela que brilha e provoca um sorriso, a estrela que apaga e provoca a lágrima. E tem uma inversão do signo: o contrário também pode acontecer, de uma estrela brilhar quando a lágrima cair. É muito comum, no meu trabalho, jogar com os sentidos contrários. E agora a Natura escolheu essa [música] pra falar do sentimento natalino, das festas de fim de ano. Esse sentimento que, de uma forma ou de outra, está ligado ao mistério do amor fraterno, ao mistério da amizade”.

Veja abaixo versão ao vivo de “Estrela”, gravada em 2020, no Coala Festival:

Desde os anos 1980, Gil vem tocando com alguns de seus filhos, como Pedro, Bem e Nara. Mas nos últimos tempos, ele incluiu em suas parcerias as gerações seguintes, como sua neta Flor Gil (de 13 anos, filha de Bela Gil), com quem tocou no Rock in Rio 2022, e a sua bisneta Sol de Maria (de 6 anos, neta de Preta Gil e filha de Francisco, da banda Gilsons). “Todos, sem exceção, dos filhos, dos netos, e agora inclusive a bisneta, cresceram e têm vivido em ambientes eivados de música, perpassados pela música o tempo todo. Então, quando nos reunimos pela música, para a música, através da música, há cumplicidade silenciosa. Já não precisamos discutir, não precisamos falar sobre isso. Somos todos devotos, todos temos já em nós um sentido devocional em relação à música que vai se manifestando um no outro. Isso facilita esse caráter agregador da comunidade familiar através, a partir, em função, dentro da música e para fora dela. É fácil ter uma família que cultiva a música. Para um músico, é fácil, prazeroso, gostoso”.

No entanto, Gil explica que nunca assumiu uma posição de professor perante seus filhos e netos. “Eu nunca fui. Por exemplo, o Bem [Gil], quando quis aprender a tocar violão, ele próprio me procurou um pouco, e as pessoas insistiram que eu deveria proporcionar um ensinamento a ele. Eu não quis. Eu nunca gostei propriamente de insistir com os filhos no sentido de que eles aderissem ao credo musical, à religião da música, e fossem iniciados nesse caráter devocional da música. Sempre deixei que fosse espontâneo, que eles chegassem porque quisessem. Tem sido assim desde o primeiro filho até agora com a bisneta”.

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18/11/2022

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