Não é de hoje que Alessandra Leão carrega consigo a força dos orixás. Desde os tempos do grupo Comadre Fulozinha, onde tocava ao lado de Karina Buhr, a cantora, compositora e percussionista pernambucana irradia seus ritmos e melodias com potência e doçura sobre-humanas.
Seu trabalho mais recente é a trilogia Língua, um grande projeto que reúne os EPs Pedra de Sal (2014), Aço (2015) e Língua (2015). No dia 3 de março, esses três discos serão executados ao vivo em um show no Auditório Ibirapuera e a primeira faixa do Pedra de Sal, “Doutrina e Toque de Iemanjá”, acabou de ganhar o clipe que a NOIZE lança agora com exclusividade (assista abaixo).
Temas ligados à religiosidade afro-brasileira acompanham a obra de Alessandra há tempo e isso não é por acaso. Filha de Iemanjá, a artista conta que frequenta há muitos anos terreiros de candomblé, “em especial a Casa Xambá, em Olinda”. “Há pouco mais de um ano, também me aproximei mais profundamente da umbanda aqui em São Paulo, onde toco o atabaque/curimba”, explica.
Considerando a profundidade de sua relação com esse universo, é muito natural que as músicas dela reflitam isso. A opção de louvar seu orixá já na abertura da trilogia Língua se explica: “Pedra de Sal é o início de jornada, a tomada de ar, o princípio do mergulho. Nada melhor do que pedir licença à mãe das águas salgadas, pedir proteção para o que vem a seguir”, comenta Alessandra. Ela conta ainda que “Doutrina e Toque de Iemanjá” é uma faixa que reúne dois pontos tradicionais do orixá:
– O primeiro é a “Doutrina de Yemanjá”, do Babasuê de Belém do Pará; o segundo é o “Toque de Yemanjá”, uma toada do Xangô do Recife. Ambos foram gravados na Missão de Pesquisas Folclóricas de 1938, organizada por Mário de Andrade, e o segundo ainda segue sendo tocado nas casas de Xangô/Candomblé em Recife.
A gravação de “Doutrina e Toque de Iemanjá” conta com a participação de Juçara Marçal e, desde o seu lançamento, impactou o diretor e roterista Martim Simões. “Logo que lançamos o Pedra de Sal o Martim me chamou pra conversar sobre fazermos o clipe. No roteiro, a ideia foi utilizar imagens, de épocas e regiões distintas, do mar e do feminino. A fartura, a beleza, a abundância, a força e a suavidade são características do mar, das mulheres e de Iemanjá”, afirma Alessandra.