Cerca de um ano atrás, com o aumento exponencial dos casos de Covid-19 no Brasil e a criação de protocolos de higiene e isolamento social que tornaram-se rotina até hoje, casas de shows de todo país foram obrigadas a interromper suas atividades. Em um primeiro momento, parecia que a medida poderia ser temporária, mas a pausa momentânea virou uma prolongada e sufocante espera sem data certa para trégua. Com seus faturamentos limitados ou nulos, os estabelecimentos de pequeno e médio porte enfrentam o desafio de pagar seus custos básicos de manutenção. Todos tiveram que se adaptar, mas muitos não conseguiram evitar o fechamento definitivo.
A mineira A Autêntica, instalada em Belo Horizonte (MG), fechou as portas em junho do ano passado após cinco anos em funcionamento. “A intenção dos proprietários é demolir a casa e construir um prédio, e já tivemos, em mais de uma ocasião, o aviso de que teríamos que sair dali, mas era sempre adiado”, informou a casa em publicação nas redes sociais: “Veio a Covid-19 e, como todo mundo, tentamos negociar a nossa permanência, mas não tivemos sucesso. Uma vez que a demolição é iminente, não faria sentido seguirmos pagando aluguel de portas fechadas. Comunicamos oficialmente que não retornaremos mais no mesmo local, mas estamos confiantes que, muito em breve, o espírito da Autêntica encarnará em uma nova casa, ainda mais incrível. Ainda há páginas a serem escritas, e essa história não acaba por aqui”.
Em São Paulo (SP), em janeiro de 2021, a Estação Rio Verde fechou suas portas. Em fevereiro de 2021, a Commons Studio Bar, aberta há oito anos em Salvador (BA), anunciou o fim das atividades. “Não tivemos mais como segurar”, declarou Vince Athayde, um dos sócios da casa, ao site Alô Alô Bahia.
A casa paulistana Ó do Borogodó está lutando para não ter o mesmo destino. Dia 7 de março, a página oficial do espaço publicou que a administração estava sendo despejada do imóvel. O caso gerou comoção e estimulou o lançamento, no dia 11, de uma campanha de arrecadação de fundos. Com o apoio do público, em onze dias, o espaço conseguiu levantar R$286 mil, garantindo sua sobrevivência por algum tempo.
Já a Casa do Mancha, também em São Paulo, fechou de fato. “O motivo fundamental foi a pandemia, claro”, explica seu fundador Danilo Leonel, mais conhecido como Mancha. Durante 14 anos, o local foi um verdadeiro lar para bandas do cenário alternativo de todo país. “A casinha sempre foi um laboratório de criação musical, além de uma casa de shows. Gravamos dezenas de discos por lá, produzimos websérie, sessões de fotos e uma infinidade de atividades relacionadas à música que não eram shows”, comenta.
– Inclusive, passamos 2020 fazendo lives e sessions também como forma de sobrevivência. Mas a pedra fundamental sempre foram os shows. Por mais que eu quisesse (se eu quisesse) mudar o foco, não funciona assim. Um espaço construído como a casinha, com mais de uma década de existência, tem sua vida própria. Você nunca será mais forte que ela. E é necessário entender isso se você quer construir uma parada com alma, é preciso justamente respeitar a alma da parada. A partir do momento que se tornou inviável realizar shows, sem nenhuma previsão de retomada, o espaço físico perdeu o sentido principal. Esse foi o meu processo de compreensão do fechamento. E o gatilho pra decisão foi mais uma vez a especulação imobiliária, que fez com que os responsáveis pelo imóvel cancelassem qualquer negociação, aumentando o aluguel no momento mais crítico da pandemia – explica Mancha.
Já em Porto Alegre (RS), a casa de shows Agulha está ameaçando fechar. Aberto em 2017, o empreendimento revitalizou o cenário de apresentações na cidade e, até 2020, vinha em uma crescente. Porém, chegou a pandemia. “O desafio tá absurdo. Um ano e pouco atrás, quando fechamos, a gente achava que ia durar 15 dias, um mês”, diz Eduardo Titton, dono do Agulha.
– O que mais dificultou os planejamentos seguintes foi que nunca se soube para quanto tempo precisávamos planejar. O desafio tem sido criar soluções e planejamentos sem ter essa variável. Tem sido um exercício semanal, às vezes diário, ver o que nós vamos fazer pra vencer o dia 5, pra ver se levantamos o valor do aluguel, dos salários. É uma gincana diária de apagar incêndios – diz Titton.
Assim como a Casa do Mancha, o Agulha buscou inicialmente produzir conteúdo como uma forma de manter seu público ativo. “No início, fomos fazer lives e conteúdos musicais que tivessem como principal objetivo nos manter conectados. Tentamos fazer isso render ou faturar algo com patrocinadores, ou mesmo arrecadações, e não conseguimos”, diz Titton. O passo seguinte foi criar uma linha de produtos do Agulha. O espaço passou a vender em seu site coleções de roupas (com camiseta, meia, pijama) e objetos para passar o tempo (como raquetes de ping pong e jogo de taco). “Esses produtos têm um apelo num primeiro momento, porque a pessoa quer ajudar, mas eles são únicos, a pessoa compra uma vez só”, comenta Titton. Depois disso, o Agulha passou a funcionar com sistema de delivery, entregando comidas e bebidas servidas pelo bar da casa.
Esse exemplo é semelhante ao da casa de shows Laboratório 96, de Uberaba (MG). O local criou uma loja virtual com produtos personalizados, como caneca, ecobag e uma série de posters. Recentemente, o Lab 96 lançou um serviço de entregas do seu cardápio – incluindo comidas, bebidas e itens de tabacaria -, fazendo um apelo ao público para que ajudem a casa a passar pelo período difícil. “Estamos passando pelo segundo fechamento do Lab e com isso as contas estão acumulando novamente 🙁 Queríamos fazer um pedido especial pra vocês que curtem o espaço e também curtem tomar aquela cervejinha gelada no conforto de casa, que ao invés de comprar dos grandes mercados comprem dos pequenos produtores e pequenos comerciantes, como nós, que estão passando dificuldade neste momento”, publicou a casa.
No caso do Agulha, esse modelo não foi suficiente. “Operamos assim por alguns meses, mas nunca pagou as contas. Agora, a nossa última tentativa é o Clube do Agulha”, diz Titton. O projeto é um clube de assinatura cujos membros recebem em casa contrapartidas mensais, que incluem drinks, sobremesas, cestas de café da manhã, playlists, fotos e cartazes de shows. “Nosso planejamento agora é avaliar o resultado nessa campanha do Clube do Agulha e ver se ela nos ajuda a pagar os custos. Se não, entre a metade de abril e o início de maio, a gente talvez não tenha como se manter e tenha que de fato jogar a toalha, entregar imóvel e decretar falência mesmo”, diz Titton.
Quem também tentou fazer um clube de assinatura foi a Cervejaria Criolina, que era uma das principais casas de shows de Brasília. Apesar de buscar alternativas nos primeiros meses da pandemia, o espaço foi mais um dos que não resistiu à crise. “Foi uma decisão difícil fechar e entregar as chaves da casa. A gente utilizou um empréstimo para poder fazer a rescisão dos funcionários, tivemos que dispensar todos, infelizmente. Pra gente, foi difícil”, conta Rodrigo Barata, responsável pela casa:
– Tentamos ao máximo sustentar. No primeiro mês fechado, a gente ficou planejando um clube de assinatura, a pessoa assinava oito litros [de cerveja da casa] e a gente entregava dois dias por semana durante o mês. Mas a gente não queria perder o link com a música, então fizemos a Tela Plana, uma festa virtual que acontecia toda sexta-feira. A gente fez até dezembro semanalmente, aí paramos e vamos fazer agora a edição de um ano. Mas foi bem paliativo, a arrecadação era pequena, uma porcentagem ficava pra casa e depois começamos a repartir com todos profissionais envolvidos, DJs, produtores, designers.
Essa busca de alternativas de comunicação para movimentar nem que seja a marca das casas de shows tem sido recorrente. O carioca Circo Voador segue investindo na criação de conteúdo, indo de vídeos de shows antigos à transmissões ao vivo. A Fauhaus, em São Paulo, está abrindo o espaço para produção de eventos digitais, como lives e atividades do Miragem Festival. Porém, quando não há uma remuneração direta e expressiva, esse tipo de produção torna-se mais um gasto para arcar – algo difícil de encarar no atual contexto. “Pra mim, fez sentido usar essas ferramentas temporariamente, mas sem previsão de retomada fica dramático demais pra suportar”, comenta Mancha.
Opções como essas também soam insuficientes para Fabrício Nobre, fundador do festival goiano Bananada e programador artístico do Grupo Vegas. Fabrício está à frente da programação das casas paulistanas Cine Joia e do Z Largo da Batata e comenta: “Tenho visto várias casas usando cozinha para delivery , mas infelizmente a conta, que nunca foi fácil de fechar, agora é menos. Acho que as casas que querem um dia abrir têm que manter o debate público e as atividades on-line, conversar umas com as outras, tentar contato com público e tentar se segurar. Mas sinceramente não acho que isso passe de paliativo. No Brasil, infelizmente, como a crise é muito profunda, não vi nenhuma ação realmente eficaz”, afirma.
– O Cine Joia e Z Largo da Batata estão fechados. Infelizmente. No caso do Z, inclusive, o imóvel foi desocupado. O Cine Joia segurou um tempo a equipe completa , depois uma parte menor da equipe, e agora está rodando com quadro mínimo do mínimo. Não tem o que fazer, seguimos com a ideia da casa, com as redes sociais, com algumas lives, mas não passa nem perto de fechar a conta. Acho muito difícil o Z voltar no mesmo ponto. Mas o Cine Joia está pronto pra voltar quando for seguro para equipe, artistas e público. Chegamos a fazer quatro meses de programação que seria de dezembro a março, cinco shows por semana, mas fomos engolidos pela segunda onda [da pandemia no Brasil] – diz Fabrício.
O financiamento coletivo, através de diferentes formatos e plataformas online, tem funcionado como uma saída de emergência. A carioca Audio Rebel, por exemplo, está com uma campanha aberta no site Abacashi e promoveu recentemente um festival on-line para divulgá-la. “Estamos chegando na marca de um ano sem shows presenciais e continuaremos contando esse tempo… Nesta semana vamos divulgar um festival virtual com o intuito de gerar renda para manutenção da casa. Tá cada dia mais difícil manter a casa aberta mas sabemos da nossa importancia como espaço livre para cultura e música independente. Obrigado a todos vocês que desde sempre fizeram da Rebel esse lugar único e especial”, publicou a casa carioca.
Em São Paulo, a Casa de Francisca lançou um projeto no Apoia.se e outro no Catarse, além de também estar recebendo doações diretas por Pix e Pay Pal divulgados em sua página no Instagram. “Nosso fechamento por tempo indeterminado é um pedido de socorro. A falta de recursos mês a mês, somada aos altos custos de manutenção da casa, equipe e custos fixos, foi se acumulando desde março de 2020, até interrompermos integralmente nossas atividades 1 ano depois”, comunicou o espaço em suas redes: “Para conseguirmos retomar diante de todos os compromissos trabalhistas, empréstimos e custos inevitáveis para a continuidade da Casa, precisamos de uma arrecadação mensal de 125 mil reais por mês durante os próximos meses. Diante disso, além de contribuições pontuais, elaboramos também, como principal alternativa, um programa de mantenedores que poderão participar decisivamente na retomada da Casa de Francisca com retribuições e benefícios mensais”.
Na avaliação de Danilo Mancha, Eduardo Titton, Fabrício Nobre e Rodrigo Barata, esse tipo de movimentação busca suprir uma lacuna aberta pela ausência de apoios satisfatórios das autoridades municipais, estaduais e federal. “A solução agora é uma intervenção e um suporte do governo, que não deve acontecer”, avalia Fabrício.
Em tese, há o reconhecimento oficial da crise por parte das autoridades. Publicada no Diário Oficial da União do dia 15 de setembro de 2020, uma portaria do Ministério da Economia elenca os setores da economia mais impactados pela pandemia após a decretação da calamidade pública decorrente do Covid-19 e “atividades artísticas, criativas e de espetáculos” são o primeiro item da lista.
Houve ações pontuais, como a Lei Aldir Blanc (1075/2020), aprovada pelo Congresso em julho do ano passado, que destinou inicialmente para a área da cultura um auxílio emergencial de R$3 bilhões, prevendo parcelas de R$3 mil a R$10 mil para espaços culturais afetados pela pandemia. Segundo informações do Painel de dados do Observatório Itaú Cultural publicadas pela Folha de S.Paulo, a lei gerou cerca de 412 mil novos postos e oportunidades de trabalho. No dia 31 de março, o Senado aprovou a prorrogação da lei, permitindo que, até o fim do ano, estados e municípios possam usar recursos que foram reservados para cumpri-la, mas que não foram distribuídos. A discussão segue para a Câmara. Também no dia 31, a Secretaria Especial da Cultura publicou em suas redes sobre a Aldir Blanc: “O Governo Federal prorrogará os prazos para entrega das prestações de contas dos municípios, estados e Distrito Federal para com a União. A publicação do Decreto com a prorrogação de prazo está em análise pela Conjur, Ministério da Economia e seguirá para publicação”.
No dia 15 de março, a Secretaria de Cultura de Goiás anunciou um edital prevendo R$ 2 milhões para apoiar estabelecimentos culturais. No dia 18 de março, foi a vez da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo lançar um edital com orçamento de R$10 milhões destinado a auxiliar 200 espaços culturais com capacidade de até mil pessoas. No dia 29 de março, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do Pará incluiu o setor de bares e entretenimento em seu programa de auxílio emergencial de R$2 mil para o comércio local.
Apesar dessas iniciativas, a impressão geral dos donos das casas é de que essas ações não chegam perto de resolver o problema. “Aqui em São Paulo, tivemos alguns poucos incentivos além da Aldir Blanc, porém é um centésimo do que seria necessário pra sobrevivência do setor e de forma mal distribuída e atrasada. Não à toa, além da casinha vários outros espaços já fecharam e até o meio do ano outros irão fechar”, declara Mancha.
Ele acrescenta que esse tipo de recurso também não pode ser encarado como uma solução de fato, uma vez que não tem como contemplar o setor como um todo. “Sobre financiamento coletivo e/ou editais, no meu caso, seria um esforço destinado a pagar despesas estruturais e isso não é uma ação cultural, é uma ação de sobrevivência. Não me sinto confortável em pedir dinheiro usando a importância cultural e artística da casinha pra gastá-lo com mercado imobiliário, afinal a pessoa que realmente ficaria com esse dinheiro limpo é o dono do imóvel. E a maioria dos lugares, ao meu ver, estão nessa mesma situação. Entre sobreviver assim ou fechar, escolhi fechar”, afirma.
“A atuação do governo na área foi patética”, avalia Titton: “Em âmbito federal nem se fala. Teve a questão das suspensões contratuais, e outros formatos de auxílio, que são de empréstimo, então o que o governo nos ofereceu foi quase a mesma coisa que um banco. E atrair ainda mais dívidas nesse momento, sem saber quando vai voltar a faturar, é uma porcaria. No governo do estado [do RS] até teve alguma movimentação, mas em valores muito baixos, com a Lei Aldir Blanc e uns editais. Mas não fez nem um carinho nas contas. No municipal [de Porto Alegre], não teve nada. É um abandono quase total. Fizemos alguns projetos de lei de incentivo, tivemos êxito em um, mas em verba super pequena, que não ajudou muito. Foi, digamos, uma quinzena que nos sustentou”.
– O governo deveria oferecer suporte financeiro, isenção de impostos e tudo o mais. O que ofereceu foi uma ajuda muito pequena, mantém dois, três, quatro meses, mas, pra segurar uma pandemia como a gente tá vivendo, é insuficiente. Os programas que surgiram ainda são fracos, limitados e não têm uma gestão legal. Tem esforços de alguns deputados e senadores, mas a gente sabe que o governo não conseguiu olhar com a devida atenção ao segmento. O governo fez a Aldir Blanc, mas, como a gente estava cadastrado como Cervejaria Criolina, não fomos aprovados. E a gente provou pra eles que a gente tinha atividade cultural, nós somos uma cervejaria, mas somos uma casa de show. Eu entrei com recurso uma, duas, três vezes, ainda assim não conseguimos. Teve alguns grupos que entraram com processo, contrataram advogado, mas a gente estava sem fôlego até pra isso – diz Barata.
– A atuação dos governos é um desastre, a do governo federal é criminosa. A única ação feita de verdade foi a Lei Aldir Blanc, que, longe de partir do governo federal, partiu de uma articulação do setor com parlamentares da oposição. Depois, os governos estaduais e municipais aderiram, alguns fizeram o possível. O de SP tentou fazer a parte dele, mas com a situação de terror provocada pela gestão da família Bolsonaro é impossível fazer algo que resolva – afirma Fabrício Nobre.
Conforme informa a revista inglesa IQ, na Inglaterra, festivais como Glastonbury, Boomtown Fair e Cheltenham Jazz Festival receberam centenas de milhares de libras em subsídios do Fundo de Recuperação de Cultura do governo do Reino Unido. Ao longo de 2020, vários países lançaram projetos de seguro para eventos e festivais, como a Alemanha (€ 2,5 bilhões), Áustria (€ 300 milhões), Holanda (€ 300 milhões), Bélgica (€ 60 milhões), Noruega (€ 34 milhões), Dinamarca (DKK 500 milhões) e Estônia (€ 6 milhões). No dia 1º de abril de 2021, o governo da Suécia anunciou um novo programa de seguro de SEK 3 bilhões (€ 292 milhões). A ideia é cobrir até 70% dos custos dos organizadores de eventos entre julho e dezembro de 2021 que tenham sido cancelados ou limitados. Além do seguro, o governo anunciou outro pacote de ‘crise e recuperação’ para o setor cultural em 2021 no valor de SEK 1,3 bilhões (€ 127 milhões).
We’re grateful to have been offered an award from the Culture Recovery Fund. After losing millions from the cancellation of our last two Festivals, this grant will make a significant difference in helping to secure our future. @ace_southwest @DCMS @ace_national #HereForCulture
— Glastonbury Festival (@glastonbury) April 2, 2021
O mais provável é que a crise do setor no Brasil seja atenuada apenas quando os eventos puderem ser realizados de novo, mas não é fácil ser otimista quanto ao prazo para isso acontecer. “Minha opinião pessoal sobre a volta à normalidade de shows muda quase toda semana, mas eu já vejo pra 2022, não consigo visualizar isso em 2021”, diz Titton. “A volta à normalidade é complexa, eu acho que vai demorar muito tempo. A gente tem um caminho longo pela frente de adaptação de espaços com distanciamento entre as pessoas. Grande parte das casas são pequenas, como vão se sustentar com um público reduzido a 50%, 60%? É difícil a manutenção desses espaços, a gente tem que ter um planejamento estratégico pra esse segmento”, diz Barata.
“Temos que criar uma forma de fazer”, concorda Fabrício: “O mundo não é mais o mesmo, e a música ao vivo nunca vai acabar, mas vai estar inserida nesse mundo pandêmico que vamos todos ter que conviver daqui em diante”. Quanto à previsão de vermos um show de novo: “Acredito que volte um pouco antes do carnaval de 2022… no verão do ano que vem. No primeiro semestre de 2021 zero chances. No segundo semestre, acho que [abrem] algumas casas e teatros com restrições, forçando um pouco a barra”, afirma Fabrício. “Normalidade, no sentido absoluto da coisa, apenas quando mudarmos esse governo [federal]. Não é apenas uma questão do vírus. Então, com sorte, [será] em 2023”, diz Mancha.
Através de um grupo no Whatsapp chamado Input, donos de casas de todo país vêm conversando nos últimos meses sobre como atuar em meio a essa crise. “Quase todos os donos de casas de shows tem um envolvimento com a música muito forte, tem muito amor nessas casas. E casas do Brasil inteiro estão discutindo possibilidades, como formar uma associação, só que tá todo mundo atolado nas suas coisas. O Input veio com esse intuito de fortalecer, porque só unidos a gente consegue chegar a algum lugar, pleitear auxílio junto ao governo, editais, coisas assim”, diz Barata.
Em outros países, a situação já começa a dar sinais de melhora. Nos dias 5 e 6 de março, o Tame Impala tocou para um público de cerca de mil pessoas em Perth, na Austrália (veja abaixo). No dia 28 de março, cerca de 5 mil pessoas se aglomeraram em Barcelona para assistir à banda indie espanhola Love of Lesbian. Enquanto isso, a pandemia segue batendo recordes em nosso país. Em meio à gravidade do caos sanitário, permanece incerta a estimativa de quando os brasileiros poderão voltar a sair de casa para assistir sua banda favorita. Resta saber quais casas de shows ainda estarão abertas quando isso acontecer.