Exclusivo | A fantástica fábula de YMA no clipe de “White Peacock”

30/03/2021

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Sillas H./Divulgação

30/03/2021

“Há muitos anos, antes que qualquer hora, um grupo de pavões engenhava uma vida tranquila…”

Habitando as brechas entre a áspera realidade pandêmica e a transcendência onírica das fábulas, chega agora o clipe de “White Peacock”, da artista paulistana YMA.

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Assista abaixo:

Dirigido por Gui Bohn, o clipe foi produzido no ano passado e teve boa parte de suas filmagens feita dentro da casa da própria artista. “Produzir um videoclipe em tempos pandêmicos, dependendo da ideia, não é uma tarefa muito fácil”, comenta YMA:

– Mesmo à distância, o Gui e eu mergulhamos muito profundamente no processo criativo desse clipe. Durante um tempo, a gente se falava quase todo dia, por horas. Haja tela e bateria pra tanta troca de mensagens e videochamadas que fizemos! No primeiro momento, partimos do básico, do que sentíamos e víamos quando escutávamos a música. Depois, compartilhamos essas impressões e fomos buscando pontos em comum.

“O processo de produção andou lado a lado com o processo criativo, para conseguirmos aproveitar ao máximo o que estava disponível pra gente nessa nova realidade. A realidade atual de produção também nos trouxe parte da temática. Não poderíamos contar com uma narrativa com muita gente no elenco ou com locações privadas. Então, criar uma narrativa em torno de uma personagem trancada na sua própria casa pareceu fazer bastante sentido”, acrescenta Gui Bohn.

Foto: Sillas H./Divulgação

“A jornada da personagem que está em casa em isolamento, convivendo com a ansiedade / insônia / desprazer, além de ser uma construção a partir de nossas pesquisas, é também uma jornada que passa pelo viés autobiográfico, meu e do Gui”, pontua YMA:

– Já a jornada do pavão está mais ligada a um lugar subjetivo, cuja história é sobre um ser que sai de um lugar obscuro dentro de si para um lugar em que ele consegue se encontrar, se reconhecer e se conectar consigo mesmo. A gente começou a olhar para o pavão como uma figura mítica, lendária, onírica. E pensamos que seria interessante a história ser narrada como uma fábula clássica, que nos remetesse a arquétipos clássicos, como “O patinho feio”. Desde o início, flertávamos com a ideia do elemento da animação, então trazer a narração dessa história que simulasse páginas de um livro antigo, contada como se fosse uma vó lendo uma história para sua neta, tecnicamente era uma saída mais em conta e com um significado bastante afetivo. O clipe é sobre essas duas jornadas que se cruzam. Entre o real e o fantástico, na luz e na sombra, dentro e fora. Quando me perco em mim, lembro do pavão que grita e eu consigo escutar.

Foto: Sillas H./Divulgação


“Pesquisamos e desenvolvemos a história desse pavão albino, que se queima ao entrar em contato com o sol. Mas que brilha com a luz da lua. É uma clássica jornada de entender sua diferença e tirar sua força através dela. E foi através dessa simbologia que criamos a narrativa da Yma, presa no espaço tempo, em dias que são sempre iguais e se deparando com esse mistério atrás de uma porta. Quando tem a coragem de abrir essa porta e avançar no desconhecido, ela também encontra seu espaço pra brilhar”, complementa o diretor.

YMA é uma artista que canta, mas a sua obra não pode ser definida especificamente apenas por esse fato. Da gestação de canções à expressão da performance, passando pelo alto cuidado com as fotos e vídeos que produz, há muitas camadas de criação sobrepostas em seu projeto. “Em meus processos, conecto as linguagens de uma maneira muito fluída e natural. As imagens surgem com melodias, melodias com movimento, uma cena se transforma em uma frase, um ritmo gera uma sensação, palavras são imagens e sons, imagens são fluxos de pensamentos, de repente é assim que tudo acontece. Sinto que nenhuma linguagem é maior ou menor que outra dentro do meu espaço criativo. Apesar dos resultados serem mídias visuais e sonoras, tenho muito interesse em me aventurar no corpo, na interpretação, na dança. Sinto que as camadas vão se sobrepondo, ao longo das experiências e experimentações”, diz.

“White Peacock” é o single mais recente dela, foi lançado em 2020, após outro single “No Aquário” e o EP ao vivo Dip Recordings. Porém, ela conta que essa composição tem uma história mais antiga:

– Foi escrita há uns três anos, em parceria com meu amigo Zé Motta, um ser muito especial! Numa tarde, num café que sempre íamos no centro de São Paulo, ele me apresentou a poesia de “White Peacock” – já em inglês. Suas palavras e imagens me atravessaram tão forte que, de noite, eu já tinha adaptado partes da poesia, feito a harmonia e melodia principal. Essa música nunca saiu da minha cabeça. Depois de lançar o álbum par de olhos (2019), a trouxe para compor o repertório do show. Com minha banda, desenvolvemos a estrutura do arranjo e fiquei perdidamente encantada. O solo de sax é de Humphrey Heim, um amigo berlinense que estava de passagem pelo Brasil. a faixa tem produção de Fernando Rischbieter e saiu pelos selos Matraca Records/Yb Music. Fez muito sentido pra mim torná-la single durante esse período de transição, porque sinto que ela ainda tem um pouco da atmosfera de par de olhos, mas ao mesmo tempo já começa a apontar para novos horizontes.

Em meio às incertezas do cenário da pandemia, YMA diz que vem se movimentando, mas tentando não se cobrar demais. “Sinto que não estou parada, mas tenho tentado não me pressionar. O que estamos vivendo no mundo é devastador, um momento trevoso e histórico. Muitas vezes só quero um tempo pra respirar, sentir o sol, tomar água e me manter sã. Esse tempo às vezes leva dias e dias, e tudo bem. Já me cobrei demais nos últimos meses e não me fez bem. Tal qual a nossa personagem de ‘White Peacock’, sinto que tem algo querendo sair de mim, mas por outro lado respeito a minha intuição e natureza, não quero forçar nada, quando as coisas se encaixam e fluem, ótimo. Mas quando não fluem, eu silencio e deixo estar. Sigo existindo assim”.


White Peacock

Direção: Gui Bohn
Assistente Criativo: Sillas H.

Produção: Gui Bohn e André Bauer
Diretor de Fotografia: Mauricio Padilha
1º Ass. Camera: Marcio Mello
2º Ass. Camera: Daniela Oliveira e Giovana Telles
Operador Movi: Leonardo Pinto
Logger: Gui Bohn
Assistente de Fotografia: Riva e João Gabriel

Drone de Luz: Equipe REMPA
Piloto drone: Renato Passarelli
Assistentes: Ricardo Freitas e Caio Viana

Gaffer: Marcelo Pinheiro
Ass. Elétrica: Paulo Lino, Gabriel Vidigal e Flávio Nascimento
Maquinista: Cabelo
Ass. Maquinaria: Alexandre Ferreira Barnete, Erik Ferreira Barnete e Rodrigo Soshiro

Dir. Arte: Martino Piccinini
Figurinistas: Anuro Anuro e Cacau Francisco
Maquiadora: Sue Abreu

Montagem: Gui Bohn, Fernanda Krumel e Felipe Thomé
Correção de Cor: Marla
Colorista: Fernando Lui
Produção Executiva: Andre Pulcino e Leandro Basso Neto
Finalizador: Phillipe Cunha

Ilustração: Clara Trevisan

Texto: Henrique Schlickmann

Motion Design: Rafael Duarte e Lucas Carvalho

Pós Produção: Dopo
VFX Artist: Juliano Storchi
Pós Produção: Prodigo Films
Equipe Prodigo: Priscila Paduano, Luan Luiz e Thiago Siebra

Som: Matraca Records e Vitor Moraes
Loc Off: Nancy Miranda

Design Gráfico: Maria Júlia Rêgo
Still: Sillas H.

Motoristas: Arnaldo, Sandro e Alexandre Jamil

Apoio: Electrica, Marc Films e Pandora


Agradecimentos: Adjacir Soares “Jedai”, Clarice Lima, Uiu Lopes, Gui Marini, Priscila Badaró, Fernando Rischbieter, Vini Poffo, Marco Trintinalha, Alê Rocha, Alexandre Jamil, Walter Rischbieter.

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30/03/2021

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Ariel Fagundes

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