Exclusivo | Iconili desvenda as camadas de “Quintais” em faixa a faixa

21/05/2019

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Por: Brenda Vidal

Fotos: Flávio Charchar/Divulgação

21/05/2019

Não ter medo de ser múltipla parece ser o segredo da Iconili, afinal, já se mantém há 12 fazendo música e sendo um coletivo robusto formado por 11 integrantes. Em 2019, a banda mineira resolveu se renovar e fez do ano uma boa oportunidade para incorporar novidades no som e expandir a discografia.

Ao lado da costumeira mistura de timbres imersos em transe, o enlace entre as sonoridades do rock, do Brasil, dos diversos cantos da África e do rock, eles adotam a presença da voz de forma também “instrumental” com a chegada de Josi Lopes. Contamos sobre isso no lançamento exclusivo do single “Íris” que você pode reler aqui.

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No último dia 17, o grupo deu luz a Quintais, seu mais novo disco, que contou com o suporte do projeto Natura Musical, produção de Leonardo Marques e gravações no Estúdio Ilha do Corvo. Agora, com exclusividade para a NOIZE, a banda desvenda algumas camadas por trás do universo do álbum recém lançado em um faixa a faixa.

Dê play e desvende o álbum abaixo:

Faixa a Faixa

01. “Sete Fluidos”
O início da música é como um grito de apresentação dos caminhos, inspirados em click songs sul africanos. Quando o canto surge junto ao naipe de sopro, há alguns fonemas, numa espécie de gromelô melódico. E isso se estende em outras músicas do disco, por isso essa faixa tem um caráter de apresentação da ideia do álbum. Essa música reflete vários momentos importantes da banda, imersões e experiências que resultaram em um som que transita entre o imperativo o onírico e o lógico. Vindos da experiência do groove e do afrobeat, nessa fase de nossa carreira, nos permitimos desconstruir a usualidade dos temas e experimentar a presença da voz de forma poderosa, “verbalizando” a música. A voz entrega outro patamar ao som, de quase letra. O tempo em sete cria um terreno cósmico com possibilidades de variações que se expandem de forma elástica. É uma síntese importante do disco.

02. “Íris”
Surgiu a partir de um groove criado em André do Mato Dentro, no interior de Minas, em uma noite muito especial onde nos encontramos com Kristoff Silva, durante uma imersão do Iconili. A música foi se transformando e só tomou forma definitiva com o poema de Josi Lopes e com as intervenções introspectivas de Paulo Santos (Uakti). Traz um tema contemporâneo apoiado em um groove onde o arranjo conjuga poema e tema instrumental: uma experiência muito nova para a banda. O texto traz a escrita da Josi sobre a visão do feminino no mundo, especificamente do ser feminino vindo da experiência de ser uma mulher negra. Pode se dizer que é uma ode ao ser mulher. Quando se fala que “ninguém silencia a íris da mulher” repetindo duas vezes não é por acaso, o tempo inteiro, nós mulheres somos silenciadas, mesmo que seja na sutileza. Essa música deu chão para a força que tem nossa voz ancestral.

03. “Mandacaru”
Uma música otimista e dançante cheia de timbres viajantes. Evoca uma conquista cheia de percursos bonitos. Sentimos a música como um caminho, uma odisseia positiva e tranquila. Com vários recomeços, a composição entrega ritmos descompromissados com solos, paisagens disciplinadamente confortáveis dentro do groove percussivo, vestindo o afrobeat com os novos timbres da formação atual do Iconili.

04. “Canoada”
Interpretada por duas mulheres, Josi Lopes e Chaya Vasquez, a música apresenta o conceito de Quintais com olhar ritualístico e reflexivo de outro patamar de observação. Como uma reza ou meditação, as diversas camadas de vozes fazem alusão ao sofrimento e a dor do povo do sertão.

05. “Quintais”
Atmosfera cultural do sertão inserido em nós através de várias referências musicais brasileiras. “Quintais” soa como homenagem às pessoas que fazem parte de todo este contexto cultural que tanto admiramos.  O sertão do Espinhaço, as noites de fogueiras cósmicas em nossos corações, os encontros de Milho Verde e o mamão com costela. Um conjunto de sensações com o Jequitinhonha , nossa conexão com o nordeste, o vale é o início do nordeste dentro nós. No vocal da Josi, a voz é bem aberta mesmo, como se tivéssemos “cantando de galo no terreiro”. Há um timbre de voz mais rasgado e parecido com o dos congadeiros, com os dançantes das folias de reis, com os oradores de cordel, com quem grita pra ser ouvido.

06. “Caboclada”
Essa é uma brincadeira musical que surgiu após executar a música “Quintais” puxada pela Josi. Lembra o congado e traz um convite: vamos brincar de caboclo? Fazendo referência ao congado mineiro em festa.

07. “Cruz de Agadez”
“Cruz…” é uma viagem longa em universos completamente distantes. Não se sabe o quanto conhecemos do caminho, mas a busca se faz sempre interessante mesmo tendo consciência de todas as perturbações representadas por sensações sombrias ao longo da música. Mais adiante a viagem flui bem e se torna cada vez mais consistente. Toda a narrativa da música pode ser interpretada com uma grande reflexão sobre os processos da vida que são norteados pela imaginação. Nela, a voz é usada como um ruído, abrindo ainda um jogo entre o trombone e as emissões.

08. “Zuzu”
Fizemos uma homenagem a Juju (Zuzu), desenhista e escultor que sempre retrata situações do cotidiano caipira. É um personagem engraçado e bastante didático residente em Milho Verde, interior de Minas. A música é divertida e evoca o universo da infância, das brincadeiras em grupo, nas ruas ou nos quintais. Os temas vão e vem como uma explicação de algo interessante exposto de maneira agradável e de poucas dúvidas.

09. “Quem Viver Verá”
Tivemos o prazer de nos encontrar com Wilson das Neves, grande baterista, cantor e compositor, em sua casa no Rio de Janeiro. No encontro, escutamos muitas fitas K7 com gravações, ideias e assobios de sua autoria. Gentilmente, o músico nos cedeu  um saco cheio de fitas onde encontramos uma gravação primária da música “Quem Viver Verá”, melodia composta por Wilson das Neves. Fizemos um novo arranjo, com outra linguagem, mas que carrega o sentimento do samba desde a construção do groove até o discurso da melodia.

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21/05/2019

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Brenda Vidal