_por Karla Wunsch
Flávio Azevedo é formado em Letras pela Universidade federal do Rio Grande do Sul. Fez pós-graduação sobre o Exílio do Tropicalismo no King’s College – Universidade de Londres, deu aula em Cambridge e Southampton. Palestrou em universidades como Leeds e fez um concurso para a BBC.
Você deve estar pensando “esse cara é foda, fez várias coisas lá no exterior”.
Mas olha só, também é sobre isso que se trata a análise dele. Especialista quando o assunto é Tropicália, Azevedo afirma, com base na famosa teoria de Nelson Rodrigues: “O estudo da Tropicália, bem como o de todo nosso passado musical, é muito importante para a formação da identidade do brasileiro, que sofre de complexo de vira-lata, que acha que tudo o que vem de fora é melhor. Ou para se lidar com o contrário, o nosso ufanismo.”
Pois bem, cutucões à parte, prosseguimos.
Flávio, que faz palestra em Porto Alegre nesse sábado (24), com o tema “Anos 60: Os Festivais e O Tropicalismo”, conversou com a NOIZE, compartilhando um pouco da sua experiência.
Começo, exílio e Tropicália
No início dos anos 90, ele começou seus estudos motivado por perguntas que ainda não tinham respostas: “O que aconteceu com a Tropicália quando Caetano e Gil partiram para o exílio? O que aconteceu com eles lá? Naquela época não havia quase nenhum livro sobre isso. Então em 1994, fui para Londres, onde fiquei por anos”, afirma o cara.
“Nessas idas e vindas, descobri um professor inglês que havia cuidado de Gil e Caetano durante o exílio, que ficou muito amigo deles e pode me esclarecer muitas coisas e contar muitas histórias interessantes, algumas das quais revelo na palestra”, conta.
Para Azevedo a paixão pela Tropicália, no sentindo de ficar delirando com os cantores, é uma fase que, já passou há muito tempo. Mas o estudo dele é sério, e, vamos combinar, exige um mínimo de paixão.
“A Tropicália teve o mérito de assimilar e misturar as diferenças, de romper as barreiras entre os gêneros musicais, de diminuir o preconceito com determinadas musicas, de aceitar a experimentação”, ele explica. “Foi uma quebra de barreiras entre regiões e gêneros no Brasil. Aqui no sul, começamos a ouvir os mineiros do clube da esquina, a turma do nordeste de Fagner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo… Músicos daqui como Kleiton e Kledir acharam seu espaço no centro do país, cantando algo com cara de regional, mas ao mesmo tempo urbano e moderno. Os anos 70 e 80 assimilaram essa mistura.”
Festivais, Chico Buarque e Hoje em Dia
Tá e os festivais?
“Os festivais dos anos 60 foram um canal fortíssimo para divulgar uma produção musical de alta qualidade – que já existia, cabe frisar. Em outros momentos posteriores, a tentativa de organizar festivais fracassou porque surgiu a indústria do festival, uma tentativa de produzir canções para um fim específico, ao contrário do que rolava nos anos 60”, declarou o estudioso.
Não resistimos em querer saber os maiores ídolos do Professor, e aí vem a surpresa: “Claro que Caetano e Gil são os mestres, mas para mim ainda estão num patamar inferior ao de Chico Buarque, que não participou da Tropicália (..) mas se observarmos os discos que esses dois (Caetano e Gil) produziram principalmente nos anos 60 e 70, é de tirar o fôlego.”
Não nos contemos e tivemos que comparar os dias anteriores com a cena que rola hoje em dia. “Hoje, acho que a moçada se ressente de não surgirem ícones da qualidade e da estatura moral de um Chico Buarque, principalmente, de outros como Milton Nascimento, Gil, Caetano, Mutantes, mas é que foi uma época em que se fazia tudo com muita espontaneidade, em que se buscava a música, não o produto musical. É quase impossível que quem compõe hoje não se espelhe nesse passado, mas um Chico Buarque não nasce a qualquer hora”, filosofa o cara.
Falou e disse.
Palestra “Anos 60: Os Festivais E O Tropicalismo”
Data: 24 de março, às 20h
Local: Sala Álvaro Moreyra, Teatro Renascença, Porto Alegre
Mais informações aqui.
A palestra faz parte do circuito 24 Horas de cultura – 240 anos de Porto Alegre
Pra ver a programação completa poa240anos.com.br
@karlawunsch é redatora da Noize.