Um rolê pela Cabana, em Belo Horizonte, onde FBC se criou

03/12/2024

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Por: Damy Coelho

Fotos: Bel Gandolfo, LaFonte, Domínio Público/Divulgação

03/12/2024

FBC é um legítímo cria da Cabana. Seus versos avançam por uma das maiores avenidas de Belo Horizonte – “Depois da Amazonas é ôtro rolê” –, passam pelo bairro da Gameleira (que também virou música) e chegam até o Cabana do Pai Tomás.

Foi no aglomerado de 70 mil habitantes da região oeste da cidade, que cerca os fundos do Cemitério Parque da Colina, onde FBC incorporou suas referências e fincou raízes.

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História

O pesquisador Álisson Veloso da Cunha conta que a região do Cabana foi ocupada em 1963, com a desapropriação, pela prefeitura, das terras do magnata Antônio Luciano Pereira Filho. Ele mandou plantar um eucaliptal para impedir que a população predominante pobre e preta ocupasse aquele espaço. 

O eucaliptal, que simbolizava a posse da propriedade pelo magnata, foi derrubado e seus troncos foram aproveitados para levantar casas, em uma simbologia quase poética. Ali, os novos moradores criaram um espaço próprio de convivência e resistência.

Do outro lado da América, a autora Harriet Stowe escreveu A Cabana do Pai Tomás (1852), clássico da literatura abolicionista. As histórias do Cabana como território e do Cabana ficcional se unem pela luta por terra própria. Não por acaso, uma das principais ruas do Cabana de BH recebeu o nome de Independência.

Hoje, o Cabana é um dos aglomerados mais populosos de BH. Como FBC enfatiza, é local de cultura efervescente, como os crias que iam de kenner para o baile da VIP, na Rua São Geraldo, mandando o passinho (um pra frente, dois pro lado, girando pro meio). 

Além da música, FBC investe no comércio local. Já comandou o trailer Do Padrim na Chapa, na Rua José de Guimarães (ou Rua da Lama), mesmo pico onde faz o cabelo e tem um lava-jato. Ele resolveu investir no ponto como sócio, que já existia, e batizá-lo como Lava Jato do Padrim, o que acaba atraindo, além dos próprios moradores, pessoas de fora da comunidade. A movimentação ajuda a girar a economia local e a desmistificar o preconceito.

Em suas canções e redes sociais, FBC cita diversas regiões conhecidas dos moradores. Tem o Gogó da Ema na Rua da Mina, que desemboca atrás do cemitério, onde as crianças soltam pipa. Do alto dos morros do Cabana, é possível avistar a Arena do Galo, time do coração de Fabricio.

A capa do álbum Baile (2021) é outro exemplo: lembra a casa que fica entre a rua do VIP e a Rua da Lama. “Uma pequena homenagem pra comunidade que me acolheu”, publicou FBC em seu perfil no X, ao divulgar a capa. 

Lorrayne Batista, jornalista e idealizadora da página Conecta Cabana, ajuda a traçar os picos que FBC referencia. “Alckimin, favelinha, Praça Sete, Frei Gaspar, que estão na faixa ‘Rap da UFFÉ’,  são setores do Cabana”, conta.

O Conecta Cabana nasceu como um projeto de TCC de Lorrayne para dar voz à comunidade onde cresceu e hoje conta com mais de 11 mil seguidores e conteúdos constantes sobre a vida de seus moradores. Para ela, levantar o Cabana é missão profissional e posicionamento fundamental. Reconhecê-lo nos versos do FBC é grandioso para quem vive por lá.

“O Cabana não é lembrado em quase nada, a gente é meio escondido aqui na Região Oeste”, conta ela. “E, quando é lembrado, é pra noticiar algum homicídio ou operação policial. Ter alguém falando sobre a comunidade, de como ela é por dentro, faz com que a gente se sinta representado, ouvido e com voz ativa”, finaliza.

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 131 da revista NOIZE, lançada com o vinil Padrim, de FBC, em 2023.

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03/12/2024

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Damy Coelho