Já vão 2 anos desde que Gui Boratto se consagrou mundialmente com Cromophobia, seu primeiro álbum pelo selo/marca alemão Kompakt. Como não bastasse ter lançado seu debut por um dos selos mais observados do mundo, as suas produções foram aclamadas por DJs e produtores influentes em escala global, demonstrando seu grande talento como hit maker e a capacidade de imbuir emoção e humanidade no universo quadradão e frio de produções “minimalistas” do mundo 4×4.
Boratto é atualmente um dos mais prolíficos produtores do mundo. Esse intervalo de dois anos entre o lançamento de seus dois álbuns ilustram muito bem isso: trabalhou com nomes consagrados como SCSI-9, Goldfrapp e Bomb the Bass, além de compilar álbuns de selos como o Systematic. Muito além disso, EPs foram lançados por outros selos, como o Triads em parceria com Anderson Noise pela Spectrum Records. Sem contar as muitas gigs mundo afora. Impressiona que em meio a tanta atividade o produtor tenha encontrado tempo para criar um novo disco.
Após essa espera ansiosa por um novo álbum próprio, fosse este uma confirmação de seu talento, ou fosse pura curiosidade artística, Take My Breath Away chega grande e, mais uma vez, efusivamente aclamado pelo público. Muito mais uma evolução que uma revolução produtiva, o álbum em questão mostra um Gui Boratto mais maduro, mais matemático, mais detalhista, com sua música segue equilibrando o apelo dançante e a contemplação melódica.
O álbum abre com a música homônima, “Take My Breath Away,” que é mesmo de tirar o fôlego com a beleza de suas paisagens que remetem a uma combinação melódica de baixo e sintetizadores, que seguem em um progressivo crescendo, apontando a identitidade musical do produtor. A levada progressivamente deep lembra a atmosfera de Chromophobia evocando uma certa grandeza dramática. Logo em seguida vem “Atomic Soda,” esta lançada anteriormente ao álbum em formato single, uma continuação das paisagens da primeira música, apenas diferenciando-se por uma linha de sintezador suja e por sua estrutura rítmica em constante metamorfose. O outro lado de single, e também uma faixa que desponta no álbum, é “Ballroom.”
O elemento humano, tão característico de suas produções, têm no álbum um papel importante, seja para configurar um elemento na faixa, seja para pontuar seu diferencial. Suas faixas são de um otimismo ímpar, cheias de emoção e é aí, neste ponto, que mora a pegada Gui Boratto. Assim como em Chromophobia, ele se apoia também no pop para complementar suas idéias. O álbum é quase que por inteiro instrumental, exceto pela cereja do bolo que é a bonita faixa “No Turning Back” – a “Beautiful Life” de Take My Breath Away. Como em “Beautiful…,” mais uma vez, a suave voz de Luciana Villanova (sua esposa) aparece emoldurada por breves acordes de guitarra (sintetizada) que fazem referência a um New Order feliz. Os versos grudentos e o zelo na voz de Luciana fazem da faixa um frescor auditivo, uma manhã de sol. Aliás, talvez por preferir as manhãs para produzir – o que ele não cansa de dizer por aí – o álbum venha permeado dessa sensação diurna. “No Turning Back” ilustra isso e é hit inevitável de qualquer clubinho ou festa ao ar livre.
Outros bons destaques do álbum são “Opus 17” um neo-trance sentimental contido, com melodias dramáticas, batidas hipnoticamente marcantes pontuadas por cordas sintetizadas. Já “Eggplant” também tem inclinação para pistas de dança, com sintetizadores distorcidos e melodias que trazem um John Tejada à mente, e nos fará sorrir em uma pista de dança um pouco mais cheia. “Azzurra” e “Besides” colorem o álbum com referências 80. A primeira, um tanto kraftwerkiana, é entremeada por acordes de guitarra que insistem em surgir ao fundo da faixa, embora mais refinada, 8-bit. Já, a segunda é uma declaração de amor a New Order e é quase irrefreável a recordação a melodias meio The Cure. O destaque está na mistura perfeita entre acústico, com as notas de guitarra e as batidas e os efeitos fugazes de sintetizador. Aconchegante.
O álbum termina brilhantemente com a downtempo “Godet,” a única faixa que se difere do clima para cima do álbum. Uma faixa séria, melancólica e até um tanto bucólica. Os elementos industriais acrescentados à melodia tocada em piano faz dessa uma das faixas mais bonitas do álbum. Aqui, Gui Boratto, deixa claro seus dotes de músico. É o encerramento perfeito do álbum.
Fonte: rraurl