Guizado lança novo disco pra você encontrar seu monge interior

21/05/2015

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Por: Paula Moizes

Fotos: Divulgação

21/05/2015

Com um trompete na mão e muitas ideias na cabeça, Guilherme Menezes lidera hoje o lançamento digital do terceiro disco do seu projeto Guizado. O Voo do Dragão mostra a evolução do instrumental essencialmente urbano das composições de Guilherme para algo ainda mais elaborado e equilibrado no uso de elementos orgânicos e eletrônicos.

Tocam também no álbum Thiago Babalu nas baterias, Thiago Duar nos teclados que produzem os baixos do disco, Allen Alencar nas guitarras e Caetano Malta nos sintetizadores. A divulgação de O Voo do Dragão começou em janeiro deste ano com o lançamento do single “O Duelo” e suas cópias limitadas em vinil 7″ lo-fi, ou seja, compactos fabricados com uma tecnologia rústica. A capa das bolachinhas foram feitas pelo artista plástico Atsuo Nakagawa, que também desenhou a capa do disco e as artes dos LPs artesanais limitados, que estarão à venda no show de lançamento de O Voo do Dragão. A apresentação gratuita será no dia 15 de maio, às 20h, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149 – São Paulo/SP). Os ingressos devem ser retirados no local, com antecedência de 30 minutos do início do show.

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Guilherme Menezes conversou com a gente sobre as inspirações e as gravações de O Voo do Dragão, o disco sucessor de Punx (2008) e Calavera (2010) que você ouve logo abaixo.

A divulgação de O Voo do Dragão teve toda uma relação com a arte artesanal do vinil. Como surgiu essa ideia?

Isso veio de encontro com uma aproximação que eu tive com um amigo meu de longa data que chama-se [Artur] Joly. A gente se encontrou no mesmo momento, digamos assim. Ele montou uma pequena… não é uma fábrica. Ele queria uma máquina de vinil, e ao mesmo tempo eu usei o estúdio dele pra começar a gravar as primeiras coisas do disco. Ele tem também uma coleção de sintetizadores antigos que ele fabrica. Chama-se Vinyl Lab o que ele montou pra fazer esses serviços voltados pro vinil. Eaí a gente ficou bem parceiro, tava andando sempre junto, ele masterizou o disco, e eu fui meio que… não como uma cobaia, a gente foi experimentando juntos as coisas. Primeiro ele escolheu uma série de artistas pra lançar a primeira coleção de lo-fi. Por conta disso eu resolvi lançar “O Duelo”, fiz especialmente pra essa série. Aí veio essa coisa da máquina de vinil, ela foi se incrementando. No começo, só tinha uma agulha mono, depois o Joly adquiriu uma agulha estéreo. Nisso eu fui me aproximando do Nakagawa, que é o artista plástico.

E foi a primeira vez que você experimentou gravar direto em um disco de vinil?

Teve essa outra história também. A gente fez umas gravações, que inclusive depois eu quero disponibilizar na internet, mas foi uma coisa bem experimental. O Caetano, que toca comigo aqui no Guizado, a gente fez umas sessões de improvisações gravando direto num disco. Foi demais, tu sai do estúdio com um vinil pronto. É bacana demais.

DIRECT CUT :::: GUIZADO from arthur joly on Vimeo.

De onde vêm as referências orientias de O Voo do Dragão?

Tem um pouco daquela história toda dos filmes de Kung Fu, eu já pratiquei também, e foi um momento em que eu tava começando a compor o disco e busquei nesse universo um trampolim pra começar a me inspirar e buscar um tema pro disco. Depois ele foi ficando mais abstrato, a coisa foi se desenvolvendo. Ele não é um disco que você nota claramente a referência oriental. Mas o começo foi muito importante, até pra eu entrar meio que no espírito de monge, de shaolin, de reclusão, de disciplina, de acordar todos os dias cedo pra praticar trompete, fazer esporte,… Você ficar mais recluso e disciplinado ajuda a compor, a trabalhar. Isso foi me dando um ritmo de trabalho bastante produtivo.

As composições do disco poderiam ser como uma mantra pra entrar nesse espírito?

É, tem um lance meio mântrico, meio Tao, né? O Tao é bastante cósmico, bastante misterioso. Ele fala de coisas, mas sem abusar da palavra. Ele tenta não usar tanto a palavra pra explicar as coisas. Acho que minha música, por ser instrumental, ela não tem o poder da palavra tão forte. Então, a gente busca meio que abrir a mente de quem ouve pra tentar captar uma ideia, uma mensagem que seja meio abstrata. Acho que o Tao vai muito por essa linha. Apesar que tenha muitos livros, um dos princípios básicos é que o Tao máximo ele não se explica. Enquanto você ainda está nas palavras, você não chegou no Tao mesmo. Você saca com outras percepções. Eu tento com a banda gerar esse tipo de comunicação.

Por isso que talvez a música instrumental demore um pouco mais pra ser aceita pelo grande público?

As pessoas são obrigadas a usar mais a criatividade pra criar histórias, paisagens, sensações e ideias. Pra isso, você tem que buscar mais cultura, né. Tem que buscar ler mais, ter mais informações. Tem que ter um certo amadurecimento. É um trabalho lento que vai mudando a cultura da juventude e do público em geral.

Sintetizadores Modulares – PATCH # 2 from arthur joly on Vimeo.

Por exemplo, as guitarras do anterior, Calavera estão mais predominantes que as faixas que já ouvimos de O Voo do Dragão. Que instrumentos e sons você preferiu usar nesse álbum novo?

Esse disco tem um equilíbrio legal. A gente tem umas músicas que tem bastante guitarra, bastante peso, trompetes, camadas e tal. Mas tem umas partes mais leves mesmo. Tem músicas que eu desenvolvi mais a harmonia também. Eu procurei usar bastante os sintetizadores do Joly. Gostei muito de ter aqueles sons dos modulares, que são aquelas paredes de sintetizadores. Eu procurei valorizar bastante os timbres sintéticos mais analógicos. A guitarra ela vem, mas não chega tomando conta geral.

Em todas as músicas do novo disco o trompete é o que guia os demais instrumentos ou isso não é uma regra?

Não é uma regra, não. Algumas músicas, sim. Mas em outras casos, é muito por conta das bases e das linhas que eu gravei nos sintetizadores do Joly. A gente fez umas sequências de notas nos sintetizadores, uma coisa bem pesada e marcada. Tem uma música que se chama “Sete Lâminas” e ela tem bem essa cara. Dá pra entender bem isso: o peso da bateria eletrônica com o sintetizador. Aquilo ali foi o start da música. “Tigre” também é meio assim, tinha as bases e os sintetizadores e a gente criou os temas em cima disso.

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21/05/2015

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Paula Moizes