Her Vinyl Brasil discute a presença feminina no mercado do vinil 

08/03/2024

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Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Divulgação

08/03/2024

“Os meus projetos nascem de incômodos”, explica a DJ e jornalista paulistana Dani Pimenta. Há 15 anos, ela fundou o site Groovin Mood, onde escreve sobre o mundo do reggae e da cultura soundsystem. Em paralelo, se dedica ao Feminine Hi-Fi, ao lado da DJ LoveSteady e da MC Laylah Arruda. O seu novo projeto é o Her Vinyl Brasil, criado para mapear a presença feminina no mercado do vinil no país. 

A página no Instagram foi lançada no final do ano passado, e desde então, ela está criando uma base de dados com as mulheres que trabalham em lojas ou em fábricas de vinil. A sua principal inspiração é a ONG estadunidense Women In Vinyl, fundada em 2018 por Jenn D’Eugenio, responsável pelo comercial da Gold Rush Vinyl, fábrica de discos localizada em Austin, que é comandada apenas por mulheres. 

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“A ONG tem um conselho com figurões da indústria, pessoas de grandes gravadoras e fábricas. Não sei se consigo fazer algo parecido por aqui”, divide. No futuro, imagina criar um site para reunir as informações levantadas pela comunidade e transitar entre conferências de negócios da música. Antes de pensar nos próximos passos, deseja entender a dimensão do interesse das pessoas em relação a baixa presença feminina neste universo. 

“O vinil está tendo uma nova ascensão, então se falamos de direitos autorais, composição e venda de shows, não podemos esquecer do registro físico. Se o seu artista favorito está prensando disco, por que não incluir a indústria do vinil na sua programação? Por que não falar da pessoa que faz o vinil chegar no toca-disco do DJ? A gente precisa olhar para as pessoas que compõem essa cadeia, então quero propor esse diálogo.”

Em apenas poucos meses, ela viu um grupo de pessoas interessadas na proposta. Ao convocar as lojistas que participam de feiras de discos, recebeu indicações de mulheres ao redor do país: “Uma vendedora entrou em contato e sugeriu a criação de um grupo no WhatsApp para conseguir trocar ideia com as manas. Ela disse que nos grupos de vendedores homens é muito difícil ter alguma abertura, é um ambiente inóspito. É legal ver que tem uma demanda reprimida por espaços de trocas, quero tentar conseguir escoar e dar abertura a isso”. 

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Com aproximadamente 1000 LPs em sua coleção, Dani conta que mergulhou no mundo do vinil por conta da cultura sound system e, posteriormente, após ser picada pelo bichinho da produção executiva. Ao organizar festas dedicadas ao reggae, ela passou a assumir as pick ups para compartilhar o que encontrava em sebos e lojas de discos. O Feminine Hi-Fi surge da ausência de mulheres nesses espaços. 

“Me incomodava o fato de que muita gente lembrava das DJs apenas em março. Como se a gente não existisse durante o ano inteiro. Aquilo me incomodou pra caralho, então, por que esperar ser convidada? Vamos nos organizar e fazer acontecer”, lembra. 

Em 2015, após alguns anos de estrada, ela estava exausta: cogitou fechar o Groovin Mood, vender a coleção de vinis e mudar de carreira. “Questionei se queria continuar trabalhando com música. A gente não tem espaço e é questionada o tempo inteiro. Preciso passar por esses perrengues? Hoje sou mais casca-grossa, mas na época, estava em dúvida. Justamente por ter sido um momento em que se discutia mais sobre o assunto, vi aumentar os questionamentos dos homens. Tem vários caras bem mais ou menos e ninguém fala nada – eles continuam tocando nas festas”. 

Os discos vendidos durante esse período nunca foram recuperados, mas as reflexões acerca da necessidade de organização das mulheres da música foi solidificada. “É uma questão que eu trouxe na Her Vinyl. Homens perguntam: ‘por que você não vai e faz?’. Estamos falando de processos históricos, onde a mulher ganha menos no mercado de trabalho, muitas delas são mãe solo, possuem casa para sustentar, ou seja, o impacto financeiro é diferente. Eu sou branca, mas para uma mulher negra e indígena o acesso é ainda mais difícil. Parece que o cara do topo da pirâmide não entende, então ele te questiona”. 

A sua relação com os bolachões se conecta com a infância, quando passava as férias na casa da avó no interior de Minas Gerais. No acervo da matriarca, encontrava discos de samba e música brasileira. “Nasci na República, cresci em um kitnet com mãe solo, então a gente não tinha condição financeira, mas tinha um aparelho de fita k7. Na casa da minha avó, tinha toca-discos e os discos das minhas tias e primas. O samba me atravessa desde cedo por causa disso, de ter acesso a coleção delas”. 

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08/03/2024

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