Bandas que você não conhece mas deveria é a seção mais antiga da NOIZE. Desde 2007, ela se reinventa em diferentes formatos e continua sendo impressa a cada lançamento do NOIZE Record Club. Toda quinta-feira, vamos publicar uma indicação musical apresentada na revista. Nesta edição, Irmãs de Pau foram as indicadas no BQVNC do Lado A da revista #126, que acompanha o vinil de “Sobre Viver”, do Criolo.
Os caminhos de Vita Pereira e Isma Almeida coincidiram no ensino médio, mas a irmandade se expandiu após o período em uma das maiores ocupações secundaristas na cidade de Barueri (SP). Durante os primeiros meses de isolamento social, em 2020, a dupla concebeu o projeto musical Irmãs de Pau como um novo capítulo na música nacional LGBTQIAP+.
O disco de estreia Dotadas (2021) foi lançado em setembro de 2021 com dez faixas e participações especiais de nomes como Jup do Bairro, A Travestis e Alice Guél. Na produção musical, Murilo Oliveira (MU540), Badsista, EVEHIVE, Brisalicia, Pov3da e APache. Ao trazerem reflexões e perspectivas sobre a vivência travesti no país líder mundial em assassinato de pessoas trans, conforme dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a dupla faz poesia ao som de batidas de funk e mostra que as suas provocações extrapolam os limites musicais.
Por onde começo? Em Dotadas (2021), preste atenção especialmente na faixa-título, “Pedargogia” e “Travequeiro”. Assista ao videoclipe “Hermanas”, dirigido por Nay Mendl com efeitos 3D criados pela dupla Pedro Bazani e Jean Petra. Ainda no YouTube, procure a apresentação da festa Mamba Negra, realizada em 2021, onde as Irmãs de Pau fizeram um show de mais de uma hora. Além da performance dançante, inspirada nos movimentos de voguing, o duo saudou Ogum e Exú e ostentou um repertório variado e presença de palco marcante.
Mood? Intensas do começo ao fim, as músicas são feitas para se jogar na pista de dança, mas ao mesmo tempo, carregam mensagens sobre o movimento LGBTQIAP+.
Como soa? Isma e Vita discorrem em Dotadas (2021) sobre como é ser preta, travesti, periférica e brasileira. Emocionante, ousado e vibrante em cada fresta. O disco é guiado, principalmente, pelo funk, mas também apresenta pitadas de dancehall, trap e um breve mergulho no gospel.
Qual a vibe? Agitado e energético, o álbum é uma boa pedida para a playlist de esquenta de festas, afters e afins. No dia a dia, também funciona para quem já acompanha o trabalho de outras artistas independentes e dissidentes do funk e da música pop, como Deize Tigrona, Jup do Bairro, Urias e Danny Bond.
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